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Q2301223 Português
O mato


          Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos.
         Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
        Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.

(ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Editora Global Ltda., 1985.) 
Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.” (3º§) Podemos afirmar que o travessão aplicado anteriormente tem o seguinte objetivo:
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Q2300956 Português
Dever de casa


      Um fiapo de gente e um feixe de problemas. Agora é uma perguntação que não tem mais fim. Papai, o plural de segunda- -feira? Tira os óculos, para de ler a revista. Daqui a pouco é hora do telejornal. Dia cansativo, mas pai é pai. Segunda-feira, segunda-feira. Murmurinha, como se procurasse na memória algo que não sabe o que é. Segunda-feira, pai. Ah, sim. O plural dos nomes compostos. Ao menos isto não terá mudado.
       Mudam tudo neste país. Depois querem ter jurisprudência. Ainda hoje andou lendo um acórdão. Ementa malfeita. Segunda-feira no plural. Não tem mais o que inventar. Segundas-feiras. Variam os dois elementos. Fácil, óbvio. Entendeu?
       Nem tinha retomado a leitura e lá vem outra perguntinha. Quarta-feira é abstrato ou concreto? Essa, agora. Primeiro vamos saber se é mesmo substantivo. Nenhuma dúvida. É substantivo. Abstrato?
         Concreto. A professora disse que é concreto. Pai é pai. Põe tudo de lado e sai sem bater a porta. Concreto, está lá no Celso Cunha, é o substantivo que designa um ser propriamente dito. Nomes de pessoas, de lugares, de instituições etc. Quarta-feira. Vamos raciocinar. Nome de um dia. Abstrato designa noção, ação, estado e qualidade. Desde que considerados como seres. Quarta-feira é um ser? Se é um dia, é um ser. Mas concreto? Abstrato. Deve ser abstrato.
         Um dia de matar, o trânsito engarrafado. A dorzinha de cabeça já se instalou. Quarta-feira, papai. Afinal? Outro dia era o aliás. Até que teve sua graça. Que é aliás? Bom, como categoria gramatical, me parece que. Pausa. Mudaram a nomenclatura gramatical toda. A educação tem de ser mesmo um desastre. País de analfabetos. Doutores analfabetos. Aliás, advérbio não é. Ou melhor, é controvertido. Vem do latim. Quer dizer quer dizer, como disse o outro. Será advérbio?
         Esses meninos de hoje, francamente. Gramática ninguém estuda mais. A língua andrajosa, um monte de solecismos. Mas quarta-feira é substantivo abstrato? Concreto, disse a professora. Ora, pinoia. Está começando o telejornal. Mais um fantasma. Mandado de segurança. Mandado e não mandato. Preste atenção, meu filho. Aliás, só faltava essa. Meter o Supremo nessa enrascada. Querem atear fogo no país. Fantasma é concreto? Eta Brasil complicado! Aliás, hoje é quarta-feira. Abstrata? Uma vergonha!


(RESENDE, Otto Lara. Folha de S. Paulo. Instituto Moreira Salles. Em: 13/09/1992.)
Considere a oração “Papai, o plural de segunda-feira?” (1º§). Pode-se afirmar que, neste contexto, a vírgula foi empregada com a função de:
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Q2300783 Português
Eis tudo


         Voltaram as chuvas e, com elas, o jardim ficou, de repente, antigo. Antigo e bom para mim, porque todas as coisas antigas foram boas para mim. Ou, se não foram, o tempo as passou a limpo.
        Tenho um jardim verde, entre muros velhos, como são os jardins da Madalena no Recife. Muros amarelos, lodosos, e o verde do lodo resplandece assim que chove. A vida fica bonita quando começa a chover. Uma porção de lembranças, que não são de que ou de quem. Lembranças sem forma e sem cor. Sem cheiro e sem sons. É. Deve ser a infância, toda ela, que se perdeu sem que eu pudesse fazer nada. Um gesto sequer, de defesa. A infância que me visita. Pode entrar. A casa é sua.
          Eu era um menino de cócoras, no fundo do quintal, brincando com os meus carrinhos. Chovia, em setembro, principalmente no dia dos anos do meu irmão. Eu tinha carrinhos de lata, pintados de vermelho e amarelo. Outros feitos por mim, com rodas de carretel. Eu era grande em relação a eles, e era um deus, porque fazia seus destinos. De cócoras, imensamente maior que eles, falando sozinho, para dar um enredo à brincadeira. Chovia. Minha mãe e as empregadas gritavam, chamando-me. E eu respondia:
            – Já vooouuu!
            – Mas você não vê que está chovendo?!
            – Ah, aqui está tão bonzinho!
      Daí a pouco, vinha lá de dentro uma pessoa maior que eu, muito maior que os carrinhos consequentemente, maior que um deus, e me arrastava pelo braço. Os carrinhos ficavam na chuva, morrendo.
          É triste a morte dos brinquedos. Todos os meus brinquedos morreram na chuva. Uns de ferrugem, outros se descolaram. Todos os meus brinquedos viveram pouco, em setembro, sob a chuva morna do Recife, principalmente no dia dos anos do meu irmão.
       Hoje está chovendo e eu não tenho um só brinquedo. Não quero continuar penetrando essas lembranças e as aceito, como um todo, certo apenas de que fui menino. Da minha vida, o que foi que eu fiz? As minhas palavras, os meus gestos, os meus silêncios, as minhas iras, a minha tristeza – ninguém ouve, ninguém entende. Perdi a razão e todas as mortes me cercam, muito atentas. Estou pleno de um mistério vão, que não serve a ninguém, nem me salva, nem me redime, nem atenua meus defeitos. Paciência. Precisava ser banhado em águas sagradas.
        Está chovendo reminiscentemente no jardim da minha casa alugada, na Lagoa. Onde e como encontrarei outra vez aquele grito interior da alegria?
            O menino foi proibido de ir à festa. Eis tudo.


(Antônia Maria: Vento vadio: as crônicas de Antônio Maria. Pesquisa, organização e introdução de Guilherme Tauil, Todavia, 2021, pp. 184-185. Publicada, originalmente, em O Jornal, de 22/11/1963.)
Considere a fala que constitui o 4º§ “– Já vooouuu!”. A partir de sua interpretação, pode-se afirmar que são afirmações verdadeiras, EXCETO:
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Q2299479 Português

Quem recicla cuida da saúde do planeta


Por João Tollotti



(Disponível em: www.dgabc.com.br/Noticia/4054075/quem-recicla-cuida-da-saude-do-planeta – texto

adaptado especialmente para esta prova).

Os símbolos nas linhas 03 Imagem associada para resolução da questão e 10 Imagem associada para resolução da questão poderiam ser substituídos, na ordem em que aparecem, por quais sinais de pontuação? 
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Q2298909 Português
Ao longo de décadas, os arqueólogos tentam responder algumas perguntas, qual a origem da imagem e por que essas esculturas aparecem em tantos locais diversos.

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese /articles/cg6g4v9k6n4o. Adaptado

Assinale a opção que contenha a nova pontuação correta sem alteração do sentido original da frase.
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Respostas
561: A
562: B
563: D
564: E
565: D