Questões de Concurso Comentadas por alunos sobre morfologia - verbos em português
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Texto para as questões de 1 a 15.
1 Poseidon estava sentado à sua mesa de trabalho e fazia contas. A administração de todas contas. A administração de
todas as águas dava-lhe um trabalho infinito. Poderia dispor de quantas forças auxiliares quisera, e com efeito, tinhas muitas,
mas como tomava seu emprego muito a sério, verificava novamente todas as contas, e assim as forças auxiliares lhe serviam
5 de pouco. Não se pode dizer que o trabalho lhe era agradável e na verdade o realizava unicamente porque lhe tinha sido
imposto; tinha-se ocupado, sim, com frequência, em trabalhos mais alegres, como ele dizia, mas cada vez que se lhe faziam
diferentes propostas, revelava-se sempre que, contudo, nada lhes agradava tanto como seu atual emprego. Além do mais era
muito difícil encontrar uma outra tarefa para ele. Era impossível designar-lhe um determinado mar; prescindindo de que aqui
10 o trabalho de cálculo não era menor em quantidade, porém em qualidade, o Grande Poseidon não podia ser designado para
outro cargo que não comportasse poder. E se lhe oferecia um emprego fora da água, esta única ideia lhe provocava mal-estar,
alterava-se seu divino alento e seu férreo torso oscilava. Além do mais, suas queixas não eram tomadas a sério; quando um
15 poderoso tortura, é preciso ajustar-se a ele aparentemente, mesmo na situação mais desprovida de perspectivas. Ninguém
pensava verdadeiramente em separar a Poseidon de seu cargo, já que desde as origens tinha sido destinado a ser deus dos
mares e aquilo não podia ser modificado.
O que mais o irritava — e isto era o que mais o indispunha com o cargo - era inteirar-se de que como representavam
20 com o tridente, guiando como um cocheiro, através dos mares. Entretanto, estava sentado aqui, nas profundidades do mar
do mundo e fazia contas ininterruptamente; de vez em quando uma viagem da qual além do mais, quase sempre regressava
furioso. Dai que mal havia visto os mares, isso acontecia apenas em suas fugitivas ascensões ao Olimpo, e não os teria
percorrido jamais verdadeiramente. Gostava de dizer que com isso esperava o fim do mundo, que então teria certamente
25 ainda um momento de calma, durante o qual, justo antes do fim, depois de rever a última conta, poderia fazer ainda um rápido
giro.
Franz Kafka
Entende-se por verbo a unidade que significa ação ou processo, organizada para expressar o modo, o tempo, a pessoa e o número. Sabendo que os tempos compostos são formados por um verbo auxiliar e por um verbo principal, a expressão verbal e o verbo destacados na sentença “o Grande Poseidon não tinha designado outro para o cargo que não soubesse fazer” estão conjugados, respectivamente, no:
Sobre a forma exata das palavras, onde talvez more sua beleza
1 Vivo em descompasso com meu tempo. Uma declaração como essa poderia se completar com todo tipo de
contravenções e antinomias, mas hoje me refiro a uma coisa mesquinha, irrelevante, a uma dessas
implicâncias bestas que tão bem nos definem. Tenho uma atenção obstinada à grafia das palavras, e sofro com
o descaso que vai se alastrando por aí, em quase toda escrita. Sinto que cada palavra forma um desenho na
página, um desenho incompleto se lhe usurpam uma letra, um desenho disforme se lhe agregam um desatino.
Como se um mero deslize do dedo pudesse turvar toda a mensagem, deslocando o foco em direção à falha,
àquilo que jamais o mereceria.
2 Acabo de assistir a uma série um tanto tola sobre uma mulher que acossa um homem com insistência doentia,
com grande violência, inclusive mandando-lhe centenas de mensagens obscenas e hostis num só dia. Minha
sensação era de que nunca poderia me relacionar com alguém assim, não por sua insanidade, sua psicopatia.
O que eu não conseguiria relevar numa mulher como ela seria a sintaxe absurda e a infinidade de erros
ortográficos a me atingir a cada instante. Quando me dei conta disso, da aflição menor que até superava as
aflições maiores, temi que a loucura pudesse estar em mim.
3 Vivo em descompasso com meu tempo, é o que digo, na contramão da pressa e da displicência, do desleixo
escancarado, ou de um jovial descompromisso. Por um tempo pensei que me sentisse assim por ser escritor,
por ver nas palavras meu instrumento de trabalho, por confiar a elas o sentido da minha existência, ou, se não
tanto, ao menos o meu sustento. Mas fui me deparando com uns quantos exemplos de escritores distraídos,
escritores admiráveis e no entanto desleixados, conformados com a imprecisão das frases que propagam por
aí.
4 Li com aflição uma crônica de Lima Barreto em que ele conta de sua letra sofrível, indecifrável, e dos
embaraços que lhe cria quando envia aos jornais seus manuscritos. A letra é sua inimiga, é a traição em suas
próprias mãos, "esse abutre que me devora diariamente a fraca reputação e a apoucada inteligência", ele se
martiriza. Sofre, sim, diz que lê seus textos no dia seguinte com vontade de chorar, de matar, de suicidar-se.
Pensa até em se casar para resolver o problema, e se apaixona por uma jovem apenas por sua cursiva
irrepreensível. Mas nada faz de fato, aceita sua sina. Nem sequer passa a escrever na máquina, por julgar
cansativo, por querer fugir ao trabalho de escrever à mão e passar a limpo. Aí já não me compadeço, passo a
sofrer sozinho.
5 Lendo isso, lembro dos primeiros romancistas, os primeiros profissionais das letras que de fato vendiam seus
livros, que não viviam de mecenato. Diz-se que eram longos os primeiros romances, como os de Defoe e seus
conterrâneos, porque seus autores recebiam por quantidade e acabavam sendo rentáveis os detalhes a esmo,
as páginas prescindíveis. Conta-se que entregavam os manuscritos ainda talhados de incorreções, e que
cobravam mais caro caso os editores quisessem originais reescritos e revisados. Eu ouço essas histórias e sinto
que não pertenço à mesma linhagem, procuro outra tradição a que possa me vincular, uma corrente de
romancistas preocupados com as minúcias da linguagem. E, no entanto, sei bem que jamais escreverei uma
frase que perdure como a desses sujeitos, e aceito o meu limite.
Extraído de: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/05/18/sobre-a-forma-exata-das-palavras-onde-talvez-more-suabeleza.htm?cmpid=copiaecola (adaptado)
Em “Li com aflição uma crônica de Lima Barreto...” (4º parágrafo), a forma verbal destacada está no tempo e modo:
Sobre a forma exata das palavras, onde talvez more sua beleza
1 Vivo em descompasso com meu tempo. Uma declaração como essa poderia se completar com todo tipo de
contravenções e antinomias, mas hoje me refiro a uma coisa mesquinha, irrelevante, a uma dessas
implicâncias bestas que tão bem nos definem. Tenho uma atenção obstinada à grafia das palavras, e sofro com
o descaso que vai se alastrando por aí, em quase toda escrita. Sinto que cada palavra forma um desenho na
página, um desenho incompleto se lhe usurpam uma letra, um desenho disforme se lhe agregam um desatino.
Como se um mero deslize do dedo pudesse turvar toda a mensagem, deslocando o foco em direção à falha,
àquilo que jamais o mereceria.
2 Acabo de assistir a uma série um tanto tola sobre uma mulher que acossa um homem com insistência doentia,
com grande violência, inclusive mandando-lhe centenas de mensagens obscenas e hostis num só dia. Minha
sensação era de que nunca poderia me relacionar com alguém assim, não por sua insanidade, sua psicopatia.
O que eu não conseguiria relevar numa mulher como ela seria a sintaxe absurda e a infinidade de erros
ortográficos a me atingir a cada instante. Quando me dei conta disso, da aflição menor que até superava as
aflições maiores, temi que a loucura pudesse estar em mim.
3 Vivo em descompasso com meu tempo, é o que digo, na contramão da pressa e da displicência, do desleixo
escancarado, ou de um jovial descompromisso. Por um tempo pensei que me sentisse assim por ser escritor,
por ver nas palavras meu instrumento de trabalho, por confiar a elas o sentido da minha existência, ou, se não
tanto, ao menos o meu sustento. Mas fui me deparando com uns quantos exemplos de escritores distraídos,
escritores admiráveis e no entanto desleixados, conformados com a imprecisão das frases que propagam por
aí.
4 Li com aflição uma crônica de Lima Barreto em que ele conta de sua letra sofrível, indecifrável, e dos
embaraços que lhe cria quando envia aos jornais seus manuscritos. A letra é sua inimiga, é a traição em suas
próprias mãos, "esse abutre que me devora diariamente a fraca reputação e a apoucada inteligência", ele se
martiriza. Sofre, sim, diz que lê seus textos no dia seguinte com vontade de chorar, de matar, de suicidar-se.
Pensa até em se casar para resolver o problema, e se apaixona por uma jovem apenas por sua cursiva
irrepreensível. Mas nada faz de fato, aceita sua sina. Nem sequer passa a escrever na máquina, por julgar
cansativo, por querer fugir ao trabalho de escrever à mão e passar a limpo. Aí já não me compadeço, passo a
sofrer sozinho.
5 Lendo isso, lembro dos primeiros romancistas, os primeiros profissionais das letras que de fato vendiam seus
livros, que não viviam de mecenato. Diz-se que eram longos os primeiros romances, como os de Defoe e seus
conterrâneos, porque seus autores recebiam por quantidade e acabavam sendo rentáveis os detalhes a esmo,
as páginas prescindíveis. Conta-se que entregavam os manuscritos ainda talhados de incorreções, e que
cobravam mais caro caso os editores quisessem originais reescritos e revisados. Eu ouço essas histórias e sinto
que não pertenço à mesma linhagem, procuro outra tradição a que possa me vincular, uma corrente de
romancistas preocupados com as minúcias da linguagem. E, no entanto, sei bem que jamais escreverei uma
frase que perdure como a desses sujeitos, e aceito o meu limite.
Extraído de: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/05/18/sobre-a-forma-exata-das-palavras-onde-talvez-more-suabeleza.htm?cmpid=copiaecola (adaptado)
Passando a frase “Eu ouço essas histórias” (5º parágrafo), para a voz verbal passiva analítica, a nova escrita será:
STJ na luta contra o juridiquês
Por Superior Tribunal de Justiça
- Se o idioma oficial do Brasil é o português, a língua predominante na Justiça, ao longo dos
- tempos, tem sido o "juridiquês" – uma mistura de palavreado técnico com estilo rebuscado e
- doses abundantes de termos em latim, muito .... gosto dos profissionais do direito, mas de difícil
- compreensão para o público leigo.
- No dia ___ dia dos processos, uma norma que se aplica a situações passadas tem efeito ex
- tunc; a repetição de uma situação jurídica é bis in idem; e, se for apenas para argumentar,
- pode-se dizer ad argumentandum tantum. E nem só de latim vive a complicação: denúncia virou
- exordial increpatória; inquérito policial, caderno indiciário; petição inicial, peça incoativa.
- Ciente da importância da informação para o exercício da cidadania, o Superior Tribunal de
- Justiça (STJ) tem adotado, ao longo do tempo, uma série de medidas para levar o conhecimento
- sobre as decisões judiciais para além dos profissionais especializados, tornando mais abrangente
- sua comunicação com a sociedade – o que inclui a opção por uma linguagem bem diferente
- daquela que se consagrou no cotidiano forense.
- A mais recente iniciativa da corte nessa direção foi o lançamento de uma nova ferramenta
- em seu portal na internet, destinada a facilitar a compreensão dos julgamentos pelo público não
- familiarizado com a linguagem jurídica: agora, as notícias trazem um resumo simplificado, que
- apresenta o ponto principal da matéria em termos acessíveis para o leigo e está disponível em
- um ícone logo abaixo do título de cada texto.
- A medida está alinhada com as diretrizes do Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem
- Simples, lançado em dezembro de 2023 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mas integra
- uma política de aproximação com o cidadão que o STJ já vem seguindo há bastante tempo.
- A simplificação da linguagem é uma preocupação constante da Secretaria de Comunicação
- Social (SCO), em respeito à Política de Comunicação Institucional do STJ, especialmente ao
- disposto em seus artigos 11 e 13, que exigem clareza, precisão, qualidade e acessibilidade na
- divulgação de informações sobre as decisões, a jurisprudência, os serviços, os projetos e as
- ações da corte.
- Atenta ___ necessidades de democratização da informação, a SCO tem apresentado, em
- suas diferentes plataformas, produtos que facilitam a compreensão da atividade jurisdicional
- pelo público não especializado.
- O Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples materializa os esforços para atender
- a Estratégia Nacional do Poder Judiciário 2021-2026, especificamente no que diz respeito à
- adoção de uma linguagem direta e compreensível pelo público leigo, tanto nas decisões judiciais
- quanto nas comunicações em geral.
- Ao anunciar o pacto durante o 17º Encontro Nacional do Poder Judiciário, em Salvador, o
- ministro Luís Roberto Barroso – presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ –
- apontou a relevância de aprimorar ___ comunicação com os jurisdicionados. "A linguagem
- codificada e inacessível torna-se um instrumento de e...clusão; precisamos ser capazes de usar
- uma linguagem mais compreensível e inclusiva para todas as pessoas", declarou.
- O pacto dispõe que o uso de vocabulário técnico não deve representar uma barreira ao
- entendimento das decisões judiciais. Assim, simplificar a linguagem nas decisões, sem deixar de
- lado a precisão técnica, passa a ser mais um dos desafios da magistratura para ampliar o acesso
- à Justiça e à informação – direitos previstos na Constituição Federal de 1988.
(Disponível em: www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2024/24032024-STJ-na-luta-contra-o-juridiques-e-por-uma-comunicacao-mais-eficiente-com-a-sociedade.aspx – texto adaptado especialmente para esta prova).
A alternativa que indica a correta transposição do trecho a seguir para a voz passiva analítica é:
“uma linguagem bem diferente daquela que se consagrou no cotidiano forense”.