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1. Prever 2. Organizar 3. Comandar 4. Coordenar 5. Controlar
( ) Constituir o duplo organismo material e social da empresa.
( ) Verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas.
( ) Dirigir e orientar o pessoal.
( ) Visualizar o futuro e traçar o programa de ação.
( ) Ligar, unir, harmonizar todos os atos e esforços coletivos.
Assinale a sequência correta.
Sobre a figura, analise as afirmativas.
I. A fonte utilizada no texto selecionado é Lucida Sans com tamanho 12 pt e o alinhamento de parágrafo aplicado é Justificado.
II. O arquivo foi salvo com o nome Historia.odt
III. A margem superior e a margem direita estão configuradas (ambas) para 2 cm.
IV. No texto selecionado, o recuo antes do texto está configurado para 2 cm e o recuo da primeira linha, ajustado para 1 cm.
V. O espaçamento entrelinhas aplicado no texto selecionado é Simples.
Estão corretas as afirmativas
Sobre a figura, analise as afirmativas
I. As opções de alinhamento disponíveis para seleção (região 1) são: Esquerda, Centralizada, Direita e Justificada, apenas.
II. Ao selecionar a opção Espelhar recuos (região 2), as medidas de recuos Esquerda e Direita se igualam.
III. Não é possível ajustar medidas de espaçamento Antes e Depois (região 4) para 0 pt, pois o mínimo permitido é 1 pt.
IV. As opções disponíveis para Recuo Especial (região 3) são, além de (nenhum), apenas Primeira linha e Deslocamento.
V. Ao selecionar o Espaçamento entre linhas (região 5), pode-se optar apenas por Simples, 1,5 linhas ou Duplo.
Estão corretas as afirmativas
( ) Possui o recurso que permite importar dados de outro navegador, tais como favoritos, senhas salvas, histórico de navegação e dados de preenchimento automático de formulários.
( ) Possui configurações de idioma de páginas web, para aquelas que são oferecidas em mais de um, permitindo selecionar idiomas para apresentação das páginas em ordem de preferência.
( ) Por questões de segurança e facilidade de gerenciamento, os arquivos baixados são automaticamente salvos na pasta Downloads, não sendo permitido alterar esse destino (pasta).
( ) O mecanismo de pesquisa padrão do Mozzila Firefox é o Bing; dessa forma, não é permitido alterar o motor de pesquisa para qualquer outro disponível, tais como Google, DuckDuckGo, Yahoo, dentre outros
Assinale a sequência correta.
Sobre a figura e sabendo-se que o domínio da prefeitura municipal de Apiacás é apiacas.mt.gov.br, quais serão os resultados produzidos pelo termo de pesquisa?
( ) Possui o recurso de Histórico da Área de Transferência que, quando ativado, serve para salvar vários itens, copiados ou recortados, na Área de Transferência.
( ) O Windows Update é o recurso específico que verifica automaticamente se a data e hora apresentadas no computador corresponde à localização detectada.
( ) Não possui recursos para gerenciamento de Backups, sendo necessária a instalação de software adicional específico para essa finalidade.
( ) O recurso Sensor de Armazenamento, se ativado, é executado quando o disco está cheio, a fim de liberar espaço para ajudar o sistema a ter melhor desempenho.
Assinale a sequência correta.
I. No layout de exibição Lista, podem-se visualizar detalhes de um arquivo selecionado, tais como Data de Modificação, Tipo e Tamanho.
II. Ao clicar com o botão esquerdo do mouse (principal) sobre um arquivo localizado em uma pasta da unidade C: e arrastá-lo para o pen drive, tal arquivo é movido para o pen drive e removido da pasta de origem.
III. teste!@#.txt e teste$%.bmp são nomes válidos de arquivos suportados pelo Windows 10.
IV. Para selecionar vários arquivos aleatórios (intercalados) localizados em uma pasta, pode-se clicar sobre cada arquivo, mantendo-se pressionada a tecla CTRL do teclado. Estão corretas as afirmativas
1. Spyware 2. Worm 3.Ransomware 4. Trojan
( ) Torna inacessíveis os dados armazenados no dispositivo, geralmente usando criptografia, e exige pagamento de resgate para restabelecer o acesso ao usuário e não vazar os dados.
( ) Além de executar as funções para as quais foi aparentemente projetado, também executa outras funções, normalmente maliciosas, e sem o conhecimento do usuário.
( ) Propaga-se automaticamente pelas redes, explorando vulnerabilidades nos sistemas e aplicativos instalados e enviando cópias de si mesmo de dispositivo para dispositivo.
( ) Projetado para monitorar as atividades de um sistema e enviar as informações coletadas para terceiros. Keylogger, screenlogger, adware e stalkerware são tipos específicos.
Assinale a sequência correta.
I. Spams são mensagens de e-mail, geralmente não desejadas e usualmente enviadas para múltiplos destinatários, que contém desde propagandas até vírus.
II. PrefeituraApiacá[email protected] é um endereço válido de correio eletrônico.
III. Ao enviar um e-mail, o campo Cc significa cópia carbono, e é usado para enviar uma cópia do e-mail para outros destinatários além do destinatário principal.
IV. A leitura das mensagens recebidas e já baixadas no aplicativo de e-mail só pode ser feita com a conexão à internet ativada.
Estão corretas as afirmativas
I. Um ataque de phishing busca obter informações confidenciais fingindo ser uma entidade confiável. II. Uma das formas de proteger a rede doméstica contra ameaças virtuais é desativar todas as atualizações automáticas do sistema operacional. III. Um firewall em um sistema de segurança de rede é utilizado para bloquear acesso não autorizado à rede. IV. O cavalo de Troia (trojan), em termos de segurança cibernética, é um ataque que sobrecarrega um servidor, tornando-o inacessível.
Está correto o que se afirma apenas em
A seta ao lado da pasta documento indica que a pasta
O verbo for
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário – evidentemente o condizente com a nossa condição provecta –, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
– Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra – dizia ele ao entanguido vestibulando.
– “Catilina, quanta paciência tens?” – retrucava o infeliz.
Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a plateia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à portada sala.
– Ai, minha barriga! – exclamava ele. – Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
– Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
– As margens plácidas – respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
– Por que não é indeterminado, “ouviram, etc.”?
– Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. “Nem tem quem te adora a própria morte”: sujeito “quem te adora”. Se pusermos na ordem direta...
– Chega! – berrou ele. – Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mi. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
– Esse “for” aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do circula, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
– Verbo for.
– Verbo o quê?
– Verbo for.
– Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
– Eu fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele, impávido. – Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
(João Ubaldo Ribeiro. O Globo. Em: 13/09/1998.)
O verbo for
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário – evidentemente o condizente com a nossa condição provecta –, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
– Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra – dizia ele ao entanguido vestibulando.
– “Catilina, quanta paciência tens?” – retrucava o infeliz.
Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a plateia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à portada sala.
– Ai, minha barriga! – exclamava ele. – Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
– Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
– As margens plácidas – respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
– Por que não é indeterminado, “ouviram, etc.”?
– Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. “Nem tem quem te adora a própria morte”: sujeito “quem te adora”. Se pusermos na ordem direta...
– Chega! – berrou ele. – Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mi. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
– Esse “for” aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do circula, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
– Verbo for.
– Verbo o quê?
– Verbo for.
– Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
– Eu fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele, impávido. – Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
(João Ubaldo Ribeiro. O Globo. Em: 13/09/1998.)
O verbo for
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário – evidentemente o condizente com a nossa condição provecta –, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.
Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
– Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra – dizia ele ao entanguido vestibulando.
– “Catilina, quanta paciência tens?” – retrucava o infeliz.
Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a plateia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à portada sala.
– Ai, minha barriga! – exclamava ele. – Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!
Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.
O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
– Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!
– As margens plácidas – respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
– Por que não é indeterminado, “ouviram, etc.”?
– Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. “Nem tem quem te adora a própria morte”: sujeito “quem te adora”. Se pusermos na ordem direta...
– Chega! – berrou ele. – Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mi. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
– Esse “for” aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do circula, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
– Verbo for.
– Verbo o quê?
– Verbo for.
– Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
– Eu fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele, impávido. – Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
(João Ubaldo Ribeiro. O Globo. Em: 13/09/1998.)