Questões de Concurso
Comentadas sobre pontuação em português
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Emoções são uma construção social. Essa é, numa frase, a tese central de Lisa Feldman Barrett em “How Emotions Are Made” (“Como são feitas as emoções”). Não haveria nada de surpreendente se Barrett fosse professora em algum departamento de estudos de gênero, mas ela é uma neurocientista e afirma que suas conclusões estão amparadas em sólida evidência empírica.
O ponto forte do livro é justamente a parte em que Barrett mostra que há problemas nos modelos tradicionais que fazem com que cada emoção corresponda à ativação de um circuito neural específico. Por esse paradigma, emoções seriam universais e teriam uma assinatura biológica inconfundível.
O problema, diz Barrett, é que ela passou anos num laboratório em busca dessas assinaturas e não as encontrou. Não temos dificuldade para reconhecer a emoção medo num ator fazendo uma careta estereotipada, mas isso não passa de uma convenção cultural. Nem todos que sentem medo apresentam as mesmas expressões faciais e nem sequer os mesmos sinais fisiológicos.
A partir daí — e essa é a parte em que o livro fica aquém do que promete —, Barrett conclui que o modelo tradicional está errado e propõe outro no qual as emoções são construídas pelo cérebro no instante em que ele classifica as sensações positivas ou negativas que experimenta. A cultura e a própria linguagem seriam parte indispensável desse processo.
Minha impressão é de que Barrett foi com muita sede ao pote. Seus achados fragilizam as versões mais fortes do modelo tradicional, mas não bastam para pôr abaixo um edifício construído com a colaboração da maior parte dos filósofos ocidentais, do próprio Charles Darwin e de um número ainda maior de neurocientistas contemporâneos. Até pode ser que Barrett tenha razão, mas ainda é cedo para decretá-lo.
(Hélio Schwartsman. “Como são feitas as emoções”. Folha de S.Paulo. 04.03.2018. Adaptado)
Notícia 1
A peste suína africana foi erradicada no Brasil em 1984, deixando o país livre da doença. A enfermidade é uma doença viral que não oferece risco à saúde humana, não sendo transmitida ao homem, mas é altamente infecciosa para o rebanho suíno – exigindo o sacrifício dos animais por determinação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), sendo mais perigosa e fatal do que a peste suína clássica.
Na China, maior produtor e consumidor mundial de carne suína, pelo menos 40 mil animais foram mortos desde agosto em razão da doença. Quarto maior exportador mundial, o Brasil quer garantir a sanidade do próprio rebanho para continuar sendo um mercado-chave para importadores. Hoje, cerca de 20% dos embarques brasileiros de carne suína têm como destino a China, seguido de Hong Kong, que responde por percentual semelhante.
(Joana Colussi. “Brasil reforça vigilância para manter peste suína africana longe do país”. https://gauchazh.clicrbs.com.br, 21.09.2018. Adaptado)
Notícia 2
O Aeroporto Internacional de São Paulo, localizado na cidade de Guarulhos, receberá a ajuda de um cão treinado para evitar a entrada de produtos contaminados que possam espalhar a peste suína e a febre aftosa pelo país. Thor, um labrador, ajudará os auditores-fiscais federais agropecuários que atuam no posto de Vigilância Internacional Agropecuária (Vigiagro) do aeroporto na fiscalização de cargas e bagagens que chegam ao terminal.
No processo de fiscalização, os auditores avaliam a procedência do voo, o ponto de origem onde se inicia a viagem, o perfil dos passageiros, as características das cargas e bagagens e a possibilidade de conterem produtos que ofereçam riscos relativos à introdução destas doenças no país.
“A esses parâmetros soma-se a avaliação prévia do risco sanitário associado a produtos agropecuários específicos. A partir daí, o Thor entra em ação e nos ajuda na identificação e apreensão destes produtos por meio do faro muito sensível”, disse o auditor-fiscal Angelo de Queiroz, coordenador da operação.
(Camila Boehm. “Aeroporto recebe ajuda
de labrador para evitar entrada de peste suína”.
http://agenciabrasil.ebc.com.br, 05.10.2018. Adaptado)
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Comunidade e personalidade
Ao refletir sobre minha existência e minha vida social, vejo claramente minha estrita dependência intelectual e prática. Dependo integralmente da existência e da vida dos outros. E descubro ser minha natureza semelhante em todos os pontos à natureza do animal que vive em grupo. Como um alimento produzido pelo homem, visto uma roupa fabricada pelo homem, habito uma casa construída por ele. O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para comunicá-los utilizo a linguagem criada pelo homem. Mas quem sou eu realmente, se minha faculdade de pensar ignora a linguagem? Sou, sem dúvida, um animal superior, mas sem a palavra a condição humana é digna de lástima.
Portanto reconheço minha vantagem sobre o animal nesta vida de comunidade humana. E, se um indivíduo fosse abandonado desde o nascimento, seria irremediavelmente um animal em seu corpo e em seus reflexos. Posso concebê-lo, mas não posso imaginá-lo.
Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual, mas me descubro membro de uma grande comunidade humana. Ela me dirige, corpo e alma, desde o nascimento até a morte.
Meu valor consiste em reconhecê-lo. Sou realmente um homem quando meus sentimentos, pensamentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso. Minha atitude social portanto determinará o juízo que têm sobre mim, bom ou mau.
Contudo, esta afirmação primordial não basta. Tenho de reconhecer nos dons materiais, intelectuais e morais da sociedade o papel excepcional, perpetuado por inúmeras gerações, de alguns homens criadores de gênio. Sim, um dia um homem utiliza o fogo pela primeira vez; sim, um dia ele cultiva plantas alimentícias; sim, ele inventa a máquina a vapor.
O homem solitário pensa sozinho e cria novos valores para a comunidade. Inventa assim novas regras morais e modifica a vida social. A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente de sua independência. A não ser assim, a sociedade estará inexoravelmente votada ao malogro, e o ser humano privado da possibilidade de comunicar.
Defino uma sociedade sadia por esse laço duplo. Somente existe por seres independentes, mas profundamente unidos ao grupo. Assim, quando analisamos as civilizações antigas e descobrimos o desabrochar da cultura europeia no momento do Renascimento italiano, reconhecemos estar a Idade Média morta e ultrapassada, porque os escravos se libertam e os grandes espíritos conseguem existir.
(Albert Einstein. Como vejo o mundo. Trad. H. P. de Almeida)
Crônicas da cidade, a partir da poltrona do barbeiro
Nenhuma brisa faz tilintar a bacia de latão pendurada em um arame, sobre o oco da porta, anunciando que aqui se faz barba, arranca-se dente e aplica-se ventosa.
Por mero hábito, ou para sacudir-se da sonolência do verão, o barbeiro andaluz discursa e canta enquanto acaba de cobrir de espuma a cara de um cliente. Entre frases e bulícios, sussurra a navalha. Um olho do barbeiro vigia a navalha, que abre caminho no creme, e outro vigia os montevideanos que abrem caminho pela rua poeirenta. Mais afiada é a língua que a navalha, e não há quem se salve das esfoladuras. O cliente, prisioneiro do barbeiro enquanto dura a função, mudo, imóvel, escuta a crônica de costumes e acontecimentos e de vez em quando tenta seguir, com o rabo do olho, as vítimas fugazes.
Passa um par de bois, levando uma morta para o cemitério. Atrás da carreta, um monge desfia o rosário. À barbearia chegam os sons de algum sino que, por rotina, despede a defunta de terceira classe. A navalha para no ar. O barbeiro faz o sinal-da-cruz e de sua boca saem palavras sem desolação:
– Coitadinha. Nunca foi feliz.
O cadáver de Rosalia Villagrán está atravessando a cidade de Montevidéu, ocupada pelos inimigos de Artigas. Há muito que ela acreditava que era outra, e achava que vivia em outro tempo e em outro mundo, e no hospital de caridade chegava-se às paredes e esquadrinhava-as e discutia com as pombas. Rosalia Villagrán, esposa de Artigas, entrou na morte sem uma moeda que lhe pagasse o ataúde ou alguém que dela se apiedasse.
(Eduardo Galeano, Mulheres. Adaptado)
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Há uma razão simples para o manual de escrita de William Zinsser ter se tornado um best-seller e um clássico contemporâneo: o livro é ótimo.
“Como Escrever Bem” difere de guias de redação convencionais que reinavam absolutos na literatura americana desde 1959. Não que ele menospreze gramática e técnica. Voltado para a não ficção, o manual cobre fundamentos do estilo de texto jornalístico aperfeiçoado nos EUA ao longo do século 20 e elevado a arte nos anos 1960.
Não faltam conselhos para fugir da geleia de mediocridade à qual tende toda escrita, como vem provando mais uma vez a safra internética: perseguir clareza e simplicidade, valorizar verbos e substantivos, desconfiar de adjetivos e advérbios, reescrever, cortar tudo que for supérfluo, pulverizar clichês e palavras pomposas etc.
São lições importantes, mas batidas, que Zinsser revitaliza com frases lapidares: “Não há muita coisa a ser dita sobre o ponto final, a não ser que a maioria dos escritores não chega a ele tão cedo quanto deveria”. Ou ainda: “Poucas pessoas se dão conta de como escrevem mal”.
Contudo, o livro é melhor quando vai além da técnica, revelando um autor apaixonado que não se furta de tomar partido e expor idiossincrasias*. O ofício de escrever aparece como algo vivo, condicionado por miudezas objetivas e complicações subjetivas.
A questão do gosto, tão difícil de definir quanto de ignorar, tem sido tratada como falsa pelo pensamento acadêmico. O autor não foge da briga: “O gosto é uma corrente invisível que atravessa a escrita, e você precisa estar ciente dele”.
A tradução, correta e fluida em linhas gerais, tem o mérito maior de preservar o humor de Zinsser. Inevitavelmente, há momentos em que a obra perde na transposição, como ao tratar de modismos e inovações vocabulares do inglês. Nada que passe perto de empanar o brilho de um livro necessário como nunca.
* Idiossincrasia: predisposição de um indivíduo para reagir de maneira pessoal à influência de agentes exteriores.
(Sérgio Rodrigues. Com frases lapidares, autor ensina a fugir da escrita medíocre. Folha de S.Paulo, 12.01.2018.Adaptado)
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Recentemente, acabei me detendo num debate sobre o conceito de reputação. Antes a reputação era apenas boa ou ruim e, diante do risco de ter uma má reputação, muitos tentavam resgatá-la com o suicídio ou com crimes de honra. Naturalmente, todos desejavam ter uma boa reputação.
Mas há muito tempo o conceito de reputação deu lugar ao de notoriedade.
O que conta é ser “reconhecido” pelos próprios semelhantes, mas não no sentido do reconhecimento como estima ou prêmio, mas naquele mais banal que faz com que alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”. O valor predominante é aparecer e naturalmente o meio mais seguro é a TV. E não é necessário ser um renomado economista ou um médico agraciado com o prêmio Nobel, basta confessar num programa lacrimogêneo que foi traído pelo cônjuge.
Assim, gradualmente, foi aceita a ideia de que para aparecer de modo constante e evidente era preciso fazer coisas que antigamente só garantiam uma péssima reputação.
E não é que as pessoas não almejem uma boa reputação,
mas é muito difícil conquistá-la, é preciso protagonizar um ato
heroico, ganhar um Nobel, e estas não são coisas ao alcance
de qualquer um. Mais fácil atrair interesse, melhor ainda se
for mórbido, por ter ido para a cama por dinheiro com uma
pessoa famosa ou por ter sido acusado de peculato. Passaram-se décadas desde que alguém teve a vida destruída por
ter sido fotografado algemado.
O tema da perda da vergonha está presente em várias reflexões sobre os costumes contemporâneos.
Ora, este frenesi de aparecer (e a notoriedade a qualquer custo, embora o preço seja algo que antigamente seria a marca da vergonha) nasce da perda da vergonha ou perde-se o senso de vergonha porque o valor dominante é aparecer seja como for, ainda que o preço seja cobrir-se de vergonha? Sou mais inclinado para a última hipótese. Ser visto, ser objeto de discurso é um valor tão dominante que as pessoas estão prontas a renunciar àquilo que outrora se chamava pudor (ou sentimento zeloso da própria privacidade).
Também é sinal de falta de vergonha falar aos berros ao celular, obrigando todo mundo a tomar conhecimento das próprias questões particulares, que antigamente eram sussurradas ao ouvido. Não é que a pessoa não perceba que os outros estão ouvindo, é que inconscientemente ela quer que a ouçam, mesmo que suas histórias privadas sejam irrelevantes.
Li que não sei qual movimento eclesiástico quer retornar à confissão pública. Claro, que graça pode ter contar as próprias vergonhas apenas para o confessor?
(Umberto Eco. Por que só a Virgem Maria? Pape satàn aleppe: Crônicas de uma sociedade líquida. Editora Record, Rio de Janeiro: 2017. Adaptado)
Na apresentação, ele enfatizou que estava “revolucionando o telefone” (embora já existissem smartphones, como os da Black Berry). Isso porque num mesmo dispositivo seria possível ouvir músicas, usar a internet e “até” fazer uma ligação. Sim, definitivamente “telefonar” passava a ser apenas “mais uma” função do telefone.
Observe os trechos em que a autora emprega aspas: (I) “revolucionando o telefone”; (II) “até”; (III) “telefonar”; (IV) “mais uma”. É correto afirmar que, nesses trechos, as aspas sinalizam
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(In)Civilidade no trânsito
A maneira como dirigimos serve de medida para nossas virtudes cívicas – uma literal exposição do nosso compromisso com as “regras do caminho”. No Brasil, entretanto, é uma expressão dos nossos piores vícios: cerca de 47 mil pessoas são mortas a cada ano em acidentes de trânsito, um dos maiores pedágios do mundo.
A civilidade que demonstramos nas estradas e ruas das cidades vem em pequenos atos. No entanto, é a incivilidade que percebemos nas rodovias brasileiras.
Assim como na violência letal, há várias partes envolvidas no problema da violência no trânsito e que também precisam estar na solução. O bom planejamento de estradas, das sinalizações e fiscalizações de velocidade precisa ser uma prioridade dos distintos níveis de governo. É fundamental investir em pesquisas e campanhas inovadoras de mudança de atitude de quem está ao volante. E arrisco dizer que as regras para tirar a carteira de motorista e a educação para o trânsito devem ser repensadas. O processo ficou mais longo e caro sem resultar em mais segurança. Não é com burocracia e decoreba de regras que vamos conscientizar nossos cidadãos para que deixem de usar carros como armas letais.
Não conheço estudos no Brasil que busquem uma correlação entre o estresse do trânsito e o nível de violência em nossa sociedade. Seria interessante olhar mais de perto essa questão. Entender em que parte dela melhor se encaixa o comportamento violento do brasileiro no trânsito ou o quanto o estresse ocasionado pelas condições de nosso trânsito nos torna mais violentos no dia a dia.
Acima de tudo, como dirigimos é, de certa forma, um reflexo do nosso compromisso democrático mais amplo. O modelo atual de dependência excessiva dos carros em detrimento dos espaços dos pedestres e de um bom transporte público prioriza a elite e aprofunda a nossa desigualdade. Somos uma sociedade em busca do interesse público – respeito entre os cidadãos, valorização do transporte coletivo e dos pedestres? Ou somos uma sociedade que só preza por interesses individuais e familiares, driblando as regras e acelerando por nossos interesses privados? Isso, condutores, é uma questão que cada um de nós deve começar a considerar.
(Ilona Szabó de Carvalho. Folha de S.Paulo, 01.08.2018. Adaptado)
Em sua obra clássica A Interpretação dos Sonhos, publicada em 1899, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, disse, com outras palavras, que os sonhos são o caminho para o inconsciente, ou seja, para as regiões mais profundas da mente. Agora, mais de um século depois, pesquisadores brasileiros demonstraram que os relatos sobre eles — e não eles propriamente ditos — podem ser uma forma mais precisa de diagnosticar doenças mentais, como esquizofrenia e transtorno bipolar. O grupo conta com o neurocientista Sidarta Ribeiro, a psiquiatra Natália Mota, ambos do Instituto de Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e o físico Mauro Copelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ribeiro explica que o psiquiatra identifica no comportamento e na história do paciente os sinais e os sintomas de sofrimento mental. “De acordo com a combinação deles, em um determinado intervalo de tempo, ele pode fechar o diagnóstico, seguindo diretrizes estabelecidas por sociedades da área”, diz.
“Mesmo assim, essa forma de exame ainda é muito dependente da avaliação subjetiva do profissional, que pode não ter acesso a todos os dados necessários, precisando muitas vezes de um longo período de observação e contato”, acrescenta Ribeiro.
A fim de criar um método para auxiliar o psiquiatra a fazer um diagnóstico menos subjetivo e mais preciso, os pesquisadores desenvolveram formas de medir computacionalmente certos sintomas, que tradicionalmente são detectados em um exame do estado mental de modo pouco quantitativo.
Para testar o método, os pesquisadores gravaram os relatos do dia (estado de vigília) e dos sonhos de 60 pacientes voluntários, atendidos no ambulatório de psiquiatria de um hospital público em Natal (RN). Eles foram divididos em três grupos: um com pessoas com diagnóstico de esquizofrenia; outro, de bipolaridade; e o terceiro, sem doença, que serviu de controle.
Os discursos dos pacientes foram transcritos e inseridos em um programa de computador. Os relatos do dia dos três grupos não foram muito diferentes uns dos outros. Quando eles contavam seus sonhos, no entanto, as diferenças apareciam. Elas ficaram bem evidentes entre os esquizofrênicos e bipolares.
(Evanildo da Silveira. “Cientistas brasileiros criam programa para diagnosticar esquizofrenia e transtorno bipolar através do relato de sonhos”. Em: BBC Brasil, 10.08.2018. Adaptado)
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Eram dez da noite, estava escuro, e a americana Elaine Herzberg, de 49 anos, resolveu atravessar uma avenida em Tempe, cidade de 160 mil habitantes no sul dos EUA. Ela estava fora da faixa, o sinal estava aberto para os carros, e logo aconteceu o pior. Elaine foi atropelada por um veículo utilitário esportivo de 2000 quilos, a 61 km/h. Morreu no ato. Seria apenas mais uma vítima do trânsito, não fosse por um motivo: um robô estava dirigindo o veículo. Elaine foi a primeira pedestre morta por um carro autônomo. Eles provavelmente vão atropelar mais pessoas. E, toda vez que isso acontecer, a opinião pública ficará assustada (a empresa dona do carro que matou Elaine interrompeu seus testes após o acidente). Mas já existe uma tecnologia que promete erradicar os acidentes com veículos autônomos e mudar outros aspectos da vida humana: a quinta geração da telefonia celular, ou 5G.
Ela é tão importante que o governo dos EUA chegou a cogitar a construção de uma rede 5G estatal, só para não ficar atrás dos chineses (que vão inaugurar a sua no final deste ano). As operadoras americanas se mexeram, e agora prometem montar redes 5G em 30 cidades do país até dezembro – antes mesmo dos celulares compatíveis com essa tecnologia, que só vão começar a chegar ao mercado ano que vem.
A grande novidade das redes 5G é que elas trabalham em frequências mais altas, ou seja, nas quais as ondas eletromagnéticas oscilam mais vezes por segundo. Graças a isso, o 5G promete três vantagens: mais velocidade, maior número de conexões e menor latência.
Essa terceira novidade das redes 5G, a baixa latência, consiste no tempo que cada antena ou ponto de rede leva para processar – e, se for o caso, repassar – os dados. As ondas eletromagnéticas usadas para transmitir informações (seja no 5G, no Wi-Fi, ou qualquer outra rede sem fio) viajam sempre na mesma velocidade: a da luz. Porém, na prática, a transmissão de dados sempre é mais lenta. Na tecnologia 5G, a latência é 50 vezes menor. A transmissão é praticamente instantânea – e isso abre várias possibilidades.
Mas talvez o benefício mais imediato de todos seja o fim das franquias de dados. A capacidade da rede 5G é tão enorme que as operadoras poderão oferecer planos sem limites de dados – e você poderá usar seu celular à vontade, como hoje usa a internet da sua casa.
(Superinteressante, maio de 2018. Adaptado)
Na apresentação, ele enfatizou que estava “revolucionando o telefone” (embora já existissem smartphones, como os da Black Berry). Isso porque num mesmo dispositivo seria possível ouvir músicas, usar a internet e “até” fazer uma ligação. Sim, definitivamente “telefonar” passava a ser apenas “mais uma” função do telefone.
Observe os trechos em que a autora emprega aspas: (I) “revolucionando o telefone”; (II) “até”; (III) “telefonar”; (IV) “mais uma”. É correto afirmar que, nesses trechos, as aspas sinalizam