Questões de Português - Flexão verbal de número (singular, plural) para Concurso
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Texto para o iten.
Internet: <www.nutrinewsbrasil.com> (com adaptações).
Em “que incluem” (linhas 2 e 3), a forma verbal está flexionada na terceira pessoa do plural porque o vocábulo “que”, que se classifica como pronome relativo, está empregado em referência ao antecedente “tecnologias” (linha 2), sendo correta, portanto, a substituição do referido vocábulo por as quais.
I.O período: "Se me batessem num lado da face, imediatamente ofereceria outro" - enuncia ideia hipotética através dos tempos verbais: "batessem" (imperfeito do modo subjuntivo) e "ofereceria" (futuro do pretérito do modo indicativo).
II.O (4º§) inicia com um advérbio que faz antônimo com "Não".
III.A palavra destacada na frase: "E, muitas vezes, ficava a sonhar com feitos assim tão extraordinários" - tem o mesmo sentido de "atitudes", "condutas", "práticas", "façanhas".
IV.A oração: "Mas eu disse, às vezes!" - é simples, tem os termos essenciais dispostos na ordem direta, inicia com conjunção coordenativa adversativa, tem pontuação exclamativa e expressão adverbial de tempo.
V.As palavras: "injustiça", "políticas", "serenamente" - se identificam por terem a mesma quantidade de sílabas gramaticais, por todas serem escritas com derivação prefixal e por pertencerem à mesma classe morfológica.
VI.No (6º§), temos frases pontuadas com exclamação e frase pontuada com ideia de questionamento.
Estão CORRETAS, apenas:
O texto seguinte servirá de base para responder a questão.
Os fora-fila
Todos os dias, milhões de brasileiros perdem horas preciosas em filas de ônibus, e reclamam corretamente dos oportunistas fura-fila. Poucos percebem os fora-fila: os que usam carros privados e os que não têm dinheiro nem vale-transporte. Há séculos, muitos brasileiros fazem fila para obter o que precisam, enquanto outros não têm direito nem mesmo de esperar em fila, por falta absoluta de dinheiro; enquanto outros não precisam se submeter a filas porque têm muito dinheiro.
Por causa das ineficiências econômicas, a palavra "fila" caracteriza o dia a dia dos brasileiros, mas por causa da injustiça social não se percebe os que estão fora das filas, de um lado e outro da escala de rendas. Alguns porque não precisam se submeter a elas, graças a privilégios e dinheiro, outros porque não têm o direito de entrar nelas. No meio, imprensados, os da fila, ignorando os extremos. Nós nos acostumamos a ver com naturalidade os que não precisam e ainda mais os que não conseguem entrar nas filas, por tratá-los como invisíveis.
No setor da saúde, nos indignamos com os que tentam furar a fila para tomar vacina, mas não percebemos a injustiça quando furam a fila ao usar dinheiro para o atendimento médico de um pediatra para o filho, de um dentista e de profissionais de todas as outras especialidades que não estão disponíveis no SUS, com a urgência necessária. Apesar do nome, o sistema nacional de saúde não é único: de um lado, tem o SUS com suas filas; e, do outro, o SEP - Sistema Exclusivo de Saúde - sem fila para os que podem pagar.
Todos condenamos os fura-fila do SUS para tomar vacina, mas todos aceitamos que se fure a fila nas demais especialidades médicas, inclusive cirurgias, por meio do uso do dinheiro. Em alguns casos, há reclamação quando a fila se organiza por um pequeno papel numerado, mas não se protesta quando, perto dali, o atendimento é imediato, porque no lugar do papel com o número da fila usa-se papel moeda. Aceita-se furar fila graças ao dinheiro. Nem se considera como fura fila. São os fora-fila, aceitos por convenção de que o dinheiro pode comprar saúde.
Na moradia, alguns entram na fila do programa Minha Casa Minha Vida; outros não precisam, compram diretamente a casa que desejam e podem; outros também não entram na fila, porque não têm as mínimas condições de financiamento.
O mesmo vale para a educação. Em função do Coronavírus, o Brasil descobriu que algumas boas escolas, em geral pagas e caras, com ensino remoto, computadores e internet em casa, permitem que alguns cheguem ao ENEM com mais possibilidade de aprovação do que outros. Apesar de que a aprovação é conquistada pelo mérito do concorrente, os aprovados se beneficiaram da exclusão de muitos concorrentes ao longo da educação de base.
A desigualdade na qualidade da escola desiguala o preparo entre os candidatos, como uma forma de empurrar alguns para fora e outros para a frente da fila. De certa forma, alguns furaram a fila para ingresso na universidade, por pagarem uma boa escola ainda na educação de base. E não há reclamação porque os fora da fila são invisíveis, porque não concluíram o Ensino Médio, ou concluíram um Ensino Médio sem qualidade que não lhes deu condição sequer de sonhar fazer o ENEM.
Tanto quanto os que não podem pagar o transporte público não entram na fila do ônibus, os analfabetos (12 milhões de brasileiros) não entram na fila do ENEM para ingresso na universidade. Foram excluídos da formação, por falta de oportunidade para desenvolver o talento no momento oportuno da educação de base, e, por isso, ficam impedidos de disputar, por mérito, uma vaga na universidade.
Ninguém fura fila para chegar à seleção brasileira de futebol, porque todos tiveram a mesma chance. A seleção é pelo mérito, graças ao fato de que a bola é redonda para todos, independentemente da renda.
Temos a preocupação de assegurar os mesmos
direitos para obter vacina, não o mesmo direito para
a qualidade e a urgência no atendimento de saúde
e de educação, independentemente da renda e do
endereço da pessoa. Nem ao menos consideramos
que há injustiça em furar fila usando dinheiro para
ter acesso à educação e à saúde de qualidade. É
como se fosse normal furar fila por se ter muito
dinheiro e normal ficar fora da fila por falta total de
dinheiro. No meio, ficam os que, por pouco dinheiro,
ficam na fila e se indignam com os que tentam
desrespeitar a ordem, sem atentar para os fora da
fila nos carros, ou os fora da fila caminhando. Os
primeiros aceitamos pelas leis do mercado, os
outros tornamos invisíveis.
Instrução: A questão refere-se ao texto abaixo. Os destaques ao
longo do texto estão citados na questão.
(Disponível em: https://climainfo.org.br/2022/11/22 – texto especialmente adaptado para esta prova).
( ) O uso da forma verbal ‘podem’ atribui à frase a ideia de possibilidade.
( ) Em lugar de ‘podem’ poderíamos utilizar ‘devem’ sem que houvesse qualquer alteração semântica no período.
( ) A forma verbal ‘podem’ atribui ao sujeito da frase a ideia de obrigação quanto a se comprometerem.
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
Eliane Brum. Dois andares abaixo do meu. In: A menina quebrada. Porto
Alegre-RS: Arquipélago Editorial, 2013 (com adaptações).
Com relação aos aspectos linguísticos do texto, julgue o item
O emprego do acento diferencial no verbo “vêm” (linha 15)
é obrigatório, porque o seu sujeito é classificado como
composto, logo o verbo deve apresentar flexão de
plural.
Analise as afirmativas a seguir:
I. Os pronomes ESSE, ESSES, ESSA, ESSAS e ISSO são usados apenas para indicar um momento futuro mencionado no presente, como pode ser observado no exemplo seguinte: nesse ano, conheci minha atual esposa.
II. Do ponto de vista morfológico, o verbo marca voz (ativa, passiva e reflexiva), tempo (pretérito, presente ou futuro), pessoa (1ª, 2ª ou 3ª), número (singular ou plural) e modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo).
Marque a alternativa CORRETA:
Para responder à questão, considere o fragmento de texto abaixo.
Bechara diz que: “Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons com mais relevo do que outros. Este relevo se denomina acento”. Considerando o uso de acento gráfico em determinadas palavras do fragmento e o que nos diz Bechara, avalie as assertivas que seguem:
I. Caso de fizessem alterações no contexto de ocorrência e fosse necessário flexionar a forma verbal ‘propõem’ (linha 04) na terceira pessoa do singular do mesmo tempo e modo verbais, deveríamos suprimir o -m e trocar o til pelo acento agudo, visando atender às regras de acentuação gráfica.
II. Os vocábulos trará e dá (linhas 05 e 06) são acentuadas por serem, respectivamente, oxítono terminado em -a, e monossílabo terminado na vogal tônica aberta -a.
III. Os vocábulos porém (linha 07) e contrário (linha 09) são acentuados por distintas regras. Ambos, em outro contexto, poderiam ser grafados sem o acentuado gráfico, alterando-se, pois, a classe gramatical a que pertencem.
Quais estão corretas?
Em relação à tipologia do texto, às ideias nele expressas e a seus aspectos linguísticos, julgue o item.
Em “Veja essa que linda” (linha 17), a produtora do texto
emprega a forma verbal na 3.ª pessoa do singular do
modo indicativo para aproximar-se do público leitor.
FUGA
Mal colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.
— Para com esse barulho, meu filho — falou, sem se voltar.
Com três anos, já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
— Pois então para de empurrar a cadeira.
— Eu vou embora — foi a resposta.
Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente o pai olhou ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
— Viu um menino saindo desta casa? — gritou para o operário que descansava diante da obra, do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
— Saiu agora mesmo com uma trouxinha — informou ele.
Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e — saíra de casa prevenido — uma moeda de um cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho e abriu a correr em direção à avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia à distância.
— Meu filho, cuidado!
O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como um animalzinho:
— Que susto você me passou, meu filho — e apertava-o contra o peito comovido.
— Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
— Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
— Me larga. Eu quero ir embora. Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala — tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
— Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
— Fico, mas vou empurrar esta cadeira.
E o barulho recomeçou.
Fonte: SABINO, Fernando. Fuga. In: Os melhores contos. Rio de Janeiro: Record, 1986. p.122-123.
I. Trata-se de verbo pertencente à primeira conjugação, posto tratar-se de verbo cuja vogal temática é a letra “a”.
II. O verbo está conjugado na primeira pessoa do singular do pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
III. Esse mesmo verbo, conjugado no futuro do pretérito, seria “descobriria”.
Quais estão corretas?
Texto para a questão
Internet: <ecodebate.com.br> (com adaptações).
( ) No primeiro parágrafo, primeiro período, o verbo surpreendeu está na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo e pertence à segunda conjugação.
( ) No segundo parágrafo, a palavra que é um pronome relativo e se refere ao antecedente Emgepron.
( ) No sétimo parágrafo, primeiro período, a expressão a fim de é uma locução conjuntiva.
( ) No décimo parágrafo, terceiro período, a palavra que é um pronome relativo e introduz uma oração subordinada adjetiva.
De acordo com as afirmações, a sequência correta é
Aquela bola
Na volta do jogo, o pai dirigindo o carro, a mãe ao seu lado, o garoto no banco de trás, ninguém dizia nada. Finalmente o pai não se aguentou e falou:
- Você não podia ter perdido aquela bola, Rogério.
- Luiz Otávio… – começou a dizer a mãe, mas o pai continuou:
- Foi a bola do jogo. Você não dividiu, perdeu a bola e eles fizeram o gol.
- Deixa o menino, Luiz Otávio.
- Não. Deixa o menino não. Ele tem que aprender que, numa bola dividida como aquela, se entra pra rachar. O outro, o loirinho, que é do mesmo tamanho dele, dividiu, ficou com a bola, fez o passe para o gol e eles ganharam o jogo.
- O loirinho se chama Rubem. É o melhor amigo dele.
- Não interessa, Margarete. Nessas horas não tem amigo. Em bola dividida, não existe amigo.
- E se ele machucasse o Rubem?
- E se machucasse? O Rubem teve medo de machucá-lo? Não teve. Entrou mais decidido do que ele na bola, ficou com ela e eles ganharam o jogo.
- Você está dizendo para o seu filho que é mais importante ficar com a bola do que não machucar um amigo?
- Estou dizendo que em bola dividida ganha quem entra com mais decisão. Amigo ou não.
- Vale rachar a canela de um amigo pra ficar com a bola?
- Vale entrar com firmeza, só isso. Pé de ferro. Doa a quem doer.
- É apenas futebol, Luiz Otávio.
- Aí é que você se engana. Não é apenas futebol. É a vida. Ele tem que aprender que na vida dele haverão várias ocasiões em que ele terá que dividir a bola pra rachar e….
- Haverá – disse Rogério, no banco de trás.
- O quê?
- Acho que não é “haverão”. É “haverá”. O verbo haver não…
- Ah, agora estão corrigindo meu português. Muito bem! Eu não sou apenas o pai insensível, que quer ver o filho quebrando pernas pra vencer na vida. Também não sei gramática.
- Luiz Otávio…
- Pois fiquem sabendo que o que se aprende na vida é muito mais importante do que o que se aprende na escola. Está me ouvindo, Rogério? Um dia você ainda vai agradecer ao seu pai por ter lhe ensinado que na vida vence quem entra nas divididas pra valer.
- Como você, Luiz Otávio?
- O quê?
- Você dividiu muitas bolas pra subir na vida, Luiz Otávio? Não parece, porque não subiu.
- Ora, Margarete…
- Conta pro Rogério em quantas divididas você entrou na sua vida. Conta por que o Simão acabou chefe da sua seção enquanto você continuou onde estava. Conta!
- Margarete…
- Conta!
- Eu estava falando em tese…
Luís Fernando Veríssimo
Do moderno ao pós-moderno
Frei Betto / 14/05/2017 - 06h00
A morte da modernidade merece missa de sétimo dia? Os pais da modernidade nos deixaram de herança a confiança nas possibilidades da razão. E nos ensinaram a situar o homem no centro do pensamento e a acreditar que a razão, sem dogmas e donos, construiria uma sociedade livre e justa.
Pouco afeitos ao delírio e à poesia, não prestamos atenção à crítica romântica da modernidade – Byron, Rimbaud, Burckhardt, Nietzsche e Jarry. Agora, olhamos em volta e o que vemos? As ruínas do Muro de Berlim, a Estátua da Liberdade tendo o mesmo efeito no planeta que o Cristo do Corcovado na vida cristã dos cariocas, o desencanto com a política, o ceticismo frente aos valores.
Somos invadidos pela incerteza, a consciência fragmentária, o sincretismo do olhar, a disseminação, a ruptura e a dispersão. O evento soa mais importante que a história e o detalhe sobrepuja a fundamentação.
O pós-moderno aparece na moda, na estética, no estilo de vida. É a cultura de evasão da realidade. De fato, não estamos satisfeitos com a inflação, com a nossa filha gastando mais em pílulas de emagrecimento que em livros, e causanos profunda decepção saber que, neste país, a impunidade é mais forte que a lei. Ainda assim, temos esperança de mudá-lo. Recuamos do social ao privado e, rasgadas as antigas bandeiras, nossos ideais transformam-se em gravatas estampadas. Já não há utopias de um futuro diferente. Hoje, é considerado politicamente incorreto propagar a tese de conquista de uma sociedade onde todos tenham iguais direitos e oportunidades.
Agora predominam o efêmero, o individual, o subjetivo e o estético. Que análise de realidade previu a volta da Rússia à sociedade de classes? Resta-nos captar fragmentos do real (e aceitar que o saber é uma construção coletiva). Nosso processo de conhecimento se caracteriza pela indeterminação, descontinuidade e pluralismo.
A desconfiança da razão nos impele ao esotérico, ao espiritualismo de consumo imediato, ao hedonismo consumista, em progressiva mimetização generalizada de hábitos e costumes. Estamos em pleno naufrágio ou, como predisse Heidegger, caminhando por veredas perdidas.
Sem o resgate da ética, da cidadania e das esperanças libertárias, e do Estado-síndico dos interesses da maioria, não haverá justiça, exceto aquela que o mais forte faz com as próprias mãos.
Ingressamos na era da globalização. Graças às redes de computadores, um rapaz de São Paulo pode namorar uma chinesa de Beijing sem que nenhum dos dois saia de casa. Bilhões de dólares são eletronicamente transferidos de um país a outro no jogo da especulação, derivativo de ricos. Caem as fronteiras culturais e econômicas, afrouxam-se as políticas e morais. Prevalece o padrão do mais forte.
A globalização tem sombras e luzes. Se de um lado aproxima povos e quebra barreiras de comunicação, de outro ela assume, nas esferas econômica e cultural, o caráter de globocolonização.
(Disponível em: http://hojeemdia.com.br/opini%C3%A3o/colunas/frei-betto-1.334186/domoderno-ao-p%C3%B3s-moderno-1.464377. Acesso 05 jan. 2018)
Texto II
Razões da pós-modernidade
Carlos Alberto Sanches, professor, perito e consultor em Redação – [31/03/2014 - 21h06]
Foi nos anos 60 que surgiu o que se chama de “pós-modernidade”, na abalizada opinião de Frederic Jameson, como “uma lógica cultural” do capitalismo tardio, filho bastardo do liberalismo dos séculos 18 e 19. O tema é controverso, pois está associado a uma discussão sobre sua emergência funesta no pósguerra. É que ocorre nesse período um profundo desencanto no homem contemporâneo, especialmente no que toca à diluição e abalo de seus valores axiológicos, como verdade, razão, legitimidade, universalidade, sujeito e progresso etc. Os sonhos se esvaneceram, juntamente com os valores e alicerces da vida: a “estética”, a “ética” e a “ciência”, e as repercussões que isso provocou na produção cultural: literatura, arte, filosofia, arquitetura, economia, moral etc.
Há, sem dúvida, uma crise cultural que desemboca, talvez, em uma crise de modernidade. Ou a constatação de que, rompida a modernidade, destroçada por guerras devastadoras, produto da “gaia ciência” libertadora, leva a outra ruptura: morreu a pós-modernidade e deixou órfã a cultura contemporânea?
Seria o caso de se falar em posteridade na pós-modernidade? Max Weber, já no início do século 19, menciona a chegada da modernidade trocada pela “racionalização intelectualista”, que produz o “desencanto do mundo”. Habermas o reinterpreta, dizendo que a civilização se desagrega, especialmente no que toca aos conceitos da verdade, da coerência das leis, da autenticidade do belo, ou seja, como questões de conhecimento...
Jean Francois Lyotard, em seu livro A condição pós-moderna, de 1979, enfoca a legitimação do conhecimento na cultura contemporânea. Para ele, “o pósmoderno enquanto condição de cultura, nesta era pós-industrial, é marcado pela incredulidade face ao metadiscurso filosófico – metafísico, com suas pretensões atemporais e universalizantes”. É como se disséssemos, fazendo coro, mais tarde, com John Lennon, que “o sonho acabou” (ego trip). A razão, como ponto nevrálgico da cultura moderna, não leva a nada, a não ser à certeza de que o racionalismo iluminista, que vai entronizar a ciência como uma mola propulsora para a criação de uma sociedade justa, valorizadora do indivíduo, vai apenas produzir o desencanto, via progresso e com as suas descobertas, cantadas em prosa e verso, que nos deixaram um legado brutal: as grandes tragédias do século 20: guerras atrozes, a bomba atômica, crise ecológica, a corrida armamentista...
A frustração é enorme, porque o iluminismo afirmara que somente as luzes da razão poderiam colocar o homem como gerador de sua história. Mas tudo não passou de um sonho, um sonho de verão (parodiando Shakespeare). Habermas coloca nessa época, o século 18, o gatilho que vai acionar essa desilusão da pós-modernidade. A ciência prometia dar segurança ao homem e lhe deu mais desgraças. Entendamos aqui também a racionalidade (o primado da razão cartesiana) como cúmplice dessa falcatrua da modernidade e, portanto, da atual pós-modernidade.
O mesmo filósofo fala em “desastre da modernidade”, um tipo de doença que produziu uma patologia social chamada de “império da ciência”, despótico e tirânico, que “digere” as esferas estético-expressivas e as religiosas-morais. Harvey põe o dedo na ferida ao dizer que o projeto do Iluminismo já era, na origem, uma “patranha”, na medida em que disparava um discurso redentor para o homem com as luzes da razão, em troca da lenta e gradual perda de sua liberdade.
A partir dos anos 50 e, ocorrido agora o definitivo desencanto com a ciência e suas tragédias (algumas delas), pode-se falar em um processo de sua desaceleração. O nosso futuro virou uma incerteza. A razão, além de não nos responder às grandes questões que prometeu responder, engendra novas e terríveis perguntas, que chegam até hoje, vagando sobre a incerteza de nossos precários destinos. Eu falaria, metaforicamente, do homem moderno acorrentado (o Prometeu) ao consumo desenfreado de coisas (res) para compensar suas frustrações e angústias. A vida se tornou absurda e difícil de ser vivida, face a esse “mal-estar” do homem ocidental. Daí surgem as grandes doenças psicossociais de hoje: a frustração, o relativismo e o niilismo, cujas sementes já estavam no bojo do Iluminismo, a face sinistra de sua moeda. Não há mais nenhuma certeza, porque a razão não foi capaz de dar ao homem alguns dos mais gratos dos bens: sua segurança e bem-estar. Não há mais certezas, apenas a percepção de que é preciso repensar criticamente a ciência, que nunca nos ofereceu um caminho para a felicidade, o que provoca um forte movimento de busca de liberdade. O mundo está sem ordem e valores, como disse Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.
A incerteza do mundo moderno e a impossibilidade de organizar nossas vidas levam Giddens a dizer que “não há nada de misterioso no surgimento dos fundamentalismos, a radicalização para as angústias do homem”. Restou-nos o refúgio nos grandes espetáculos, como os do Coliseu antigo: o pão e o circo, para preencher o vazio da vida.
Na sua esteira de satanização social, o capitalismo engendra, então, a sociedade de consumo, para levar o cidadão ao ópio do consumo (esquecer-se das desilusões) nas “estações orbitais” dos shoppings, ou templos das compras, onde os bens nos consomem e a produção, sempre crescente, implica a criação em massa (ou em série) de novos consumidores. Temos uma parafernália de bens, mas são em sua maioria coisas inúteis, que a razão / ciência nos deu; mas, em troca, sofremos dos males do século, entre eles a elisão de nossa individualidade. Foi uma troca desvantajosa. É o que Campbell chama do sonho que gera o “signomercadoria”, que nos remete ao antigo sonho do Romantismo, da realização dos ideais.
Trocamos o orgasmo reprodutor instintivo pelo prazer lúdico-frenético de consumir, sem saber que somos consumidos. Gememos de prazer ao comprar, mas choramos de dor face à nossa solidão, cercados pela panaceia da ciência e da razão, que nos entope de placebos, mas não de remédios para a cura dos males dessa longínqua luz racional, que se acende lá no Iluminismo e que vem, sob outras formas, até hoje. A televisão nos anestesia com a estética da imagem. Para Baudrillard, ela é o nosso mundo, como o mundo saído da tela do grande filme O Vidiota (o alienado no mundo virtual da tevê), cujo magistral intérprete foi Peter Sellers.
Enquanto nos deleitamos com essa vida esquizofrênica e lúdica, deixamos no caixa do capitalismo tardio (iluminista / racional) o nosso mais precioso bem: a individualidade. Só nos sobrou a estética, segundo Jameson, ou a “colonização pela estética” que afeta diferentes aspectos da cultura, como a estética, a ética, a teórica, além da moral política.
A pós-modernidade talvez seja uma reação a esse quadro desolador. Bauman fala em pós-modernidade como a forma atual da modernidade longínqua. Já Giddens fala em modernidade tardia ou “modernidade radicalizada”: a cultura atual. Por certo que a atual discussão sobre o pós-moderno implica um processo de revisão e questionamento desse estado de coisas, em que o homem não passa de um res nulius, como as matronas romanas.
A cultura moderna, ou pós-modernista, não tem uma razão para produzir sua autocrítica, mas muitas razões, devido à sua prolongada irracionalidade do “modo de vida global”, segundo Jameson. O que se pode dizer é que não há uma razão, mas muitas razões para reordenar criticamente os descaminhos da pósmodernidade, sem esquecermos que a irracionalidade continua nos rondando.
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/razoes-da-pos-modernidade8bs4bc7sv5e06z8trfk0pv80e. Acesso em 21/01/18.
Sobre ela, são feitas afirmações, a seguir, referentes tanto ao conteúdo quanto à forma do texto verbal. Assinale a afirmativa INCORRETA: