Questões de Concurso
Sobre vícios da linguagem em português
Foram encontradas 613 questões
Leia o texto abaixo, de modo a responder à questão.
A invenção do horizonte
Deu-me uma angústia danada a notícia de que, num futuro próximo, muito próximo, teremos toda a literatura do mundo na tela do computador. Angústia duplicada. Primeiro, pela minha intolerância figadal a esta maquinazinha dos infernos. Segundo, pela suspeita de desaparecimento dos livros, esses calhamaços impressos, cheirando a novo ou a mofo, roído pelo uso ou pelas traças, mas que são uma gostosura viajá-los pelas trilhas das letras como quem explora um mundo mágico, tanto mais novo quanto mais andado.
Sem o gozo de um livro nas mãos, fico cego, surdo e mudo, fico aleijado, penso, torto, despovoado. Espiá-los enfileirados nas estantes, gordos e magros, novos e velhos, empaletozados e esfarrapados, cobertos de pó e de teias de aranha, essa visão me transporta para todos os mundos e para todas as idades [...].
As minhas mãos ficariam nuas e inúteis quando não pudessem mais sustentar um livro, que não fosse pela velhice dos dedos. Mesmo assim, eles estariam por ali, nas prateleiras, amontoados na mesa, espalhados pelo chão, sempre comungando com o meu tempo, meu espaço, minha vida. Eles são a expressão digital da minha alma [...].
Um livro não é um simples objeto, um amontoado de folhas impressas. Vai mais longe, intangivelmente longe. É corrimão, é degrau, é escada, é caminho, é horizonte. Por mais que sonhe a tecnologia, jamais será capaz de inventar um horizonte.
(MARACAJÁ, Robério. Cerca de Varas. Campina Grande: Latus, 2014, p. 57.
“Fomos na cidade hoje pela manhã.”
Com base nos vícios de linguagem, é correto afirmar que a frase acima é um claro exemplo de:
Com base nos vícios de linguagem, analise:
“Consiste no encontro de palavras que formem outra de sentido torpe, ridículo ou desagradável. Em algumas situações, é resultante da junção da sílaba terminal de um vocábulo com a palavra ou parte da palavra imediata.”
(Fonte adaptada: Rodrigo Bezerra; Nova Gramática da Língua Portuguesa para Concursos)
Analise o texto da charge a seguir e assinale a alternativa correta quanto aos aspectos linguísticos:
Recurso semântico empregado geralmente em textos literários é aquele pelo qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de sentido contrário.
Das opções a seguir, assinale a que contém um exemplo expresso desse recurso.
Do título do texto “O Futuro na geladeira” infere-se duas leituras: o futuro está, intrinsecamente, ligado à geladeira, depende dela ou o futuro está congelado.
A essa estratégia dá-se o nome de:
Leia os versos que encerram a peça teatral Édipo Rei, de Sófocles.
Contemplai, cidadão da pátria Tebas,
contemplai esse Édipo famoso,
habilidoso em decifrar enigmas,
que tinha em suas mãos força e poder,
rei invejado, próspero e feliz,
mas sobre o qual acaba de abater-se
furiosa tempestade de infortúnios.
Pelo que vedes, a nenhum mortal
que ainda espera o dia derradeiro considereis feliz,
antes que tenha atingido e transposto,
livre de qualquer desgraça,
o marco final da vida.
SÓFOCLES. Édipo Rei. Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 191). O termo "dia derradeiro" expressa
Assinale a alternativa cujo conteúdo apresenta corretamente a figura de linguagem utilizada no texto de Manuel Bandeira abaixo:
“Quando indesejada das gentes chegar
(não sei se dura ou coroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!”
Leia o trecho do texto a seguir e considerando as características da figura de linguagem o qual se desenvolve, assinale a alternativa cuja interpretação está CORRETA:
“E assim, quando mais tarde me procure / Quem sabe a morte, angústia de quem vive / Quem sabe a solidão, fim de quem ama / Eu possa me dizer do amor (que tive): / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure.” Vinicius de Moraes
Assinale a opção correta quanto à figura de linguagem.
Assinale a alternativa em que a ordem dos termos da oração cuja ausência da vírgula ou de outro recurso provoca ambiguidade na percepção da mensagem.
As ambiguidades (ou duplo sentido) estão presentes tanto em textos orais quanto em textos escritos. Por vezes, situações inusitadas são criadas em razão da ambiguidade na linguagem. Assinale a alternativa em que não há ambiguidade.
Leia o texto para responder as questões 07, 08 e 09.
Meu Destino
Cora Coralina
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…
A figura de linguagem que predomina no verso “Passavas com o fardo da vida…” é a/o
Leia o texto abaixo e responda as questões de 1 a 4.
A dor do mundo
Por muito tempo achei – escrevi e disse – que os males humanos foram sempre mais ou menos, e que a loucura toda já contamina o nosso café da manhã pelo universo cibernético. As aflições, as malandragens, as corrupções, os assassinatos absurdos, os piores aleijões morais, tudo é meu, seu, nosso pão de cada dia. Mas, de tempos para cá, comecei a achar que era lirismo sentimental meu. Estamos bem piores, sim. Por sermos mais estressados, por termos valores fracos, tortos ou nenhum, porque estamos incrivelmente fúteis e nos deixamos atingir por qualquer maluquice, porque até nossos ídolos são os mais transtornados, complicados. Nossos desejos não têm limite, nossos sonhos, por outro lado, andam ralinhos. Temos manias de gourmet, mas não podemos comer. Vivemos mais tempo, mas não sabemos oque fazer com ele. Podemos ter mais saúde, mas nos intoxicamos com excesso de remédios. Drogas habituais não bastam, então usamos substâncias e doses cavalares.
A sexualização infantil é um fato e começa em casa com mães amalucadas e programas de televisão pornográficos a qualquer hora do dia. O endeusamento da juventude a enfraquece, os adolescentes lidam sozinhos com a explosão de seus hormônios e a permissividade geral que anula limites e desorienta. A pressão social e até a insistência de governantes nos impõem o deus consumo, que nos deixa contentes até as primeiras, segundas, definitivas dívidas baterem à porta: a gente abre, e está atolado até o pescoço.
Uma cantora pop, que me desinteressava pela aparência e por algumas músicas, morre, mata-se, por uso desmedido de drogas (álcool sendo uma delas) aos 27 anos. Logo se exibe (quase com orgulho, ou isso já é maldade minha?) uma lista de brilhantes artistas mortos na mesma idade pela mesma razão. Nas homenagens que lhe fizeram, de repente escuto canções lindas, com uma voz extraordinária: mais triste ainda, pensar que esse talento se perdeu. Um louco assassino prepara e executa calmamente a chacina de dezenas de crianças e adolescentes num acampamento em ilha paradisíaca das terras nórdicas, onde o índice de desenvolvimento humano é o maior do planeta, e quase não existe a violência, que por estas bandas nos aterroriza. Explode edifícios, depois vai até a ilha, mata todo mundo, confessa à polícia que fez coisas atrozes, mas que “era necessário”, e que não aceitará a culpa.
Viramos assassinos ao volante, de preferência bêbados. Nossos edifícios precisam ter portarias treinadas como segurança, nossas casas, mil artifícios contra invasores, andamos na rua feito coelhos assustados. Não há lugar nas prisões, então se solta a bandidagem, as penas são cada vez mais branda ou não há pena alguma. Pena temos nós, pena por nós, pela tão espalhada dor do mundo. Sempre falando em trilhões, brigando por quatrilhões, diante da imagem das crianças morrendo de fome na Etiópia, na Somália e em outros países, tão fracas que não têm mais força para engolir o mingau que alguma alma compadecida lhes alcança: a mãe observa apática as moscas que pousam no rostinho sofrido. Estou me repetindo, eu sei, talvez assim alivie um pouco a angústia da também repetida indagação: que sociedade estamos nos tornando?
Eu, recolhida na ponta inferior deste país, sou parte dela e da loucura toda: porque tenho alguma voz, escrevo e falo, sem ilusão de que adiantará alguma coisa. Talvez, como na vida das pessoas, esta seja apenas uma fase ruim da humanidade, que conserva fulgores de solidariedade e beleza. Onde não a matamos, a natureza nos fornece material de otimismo: uma folha de outono avermelhada que a chuva grudou na vidraça, a voz das crianças que estão chegando, uma música que merece o termo “sublime”, gente honrada e produtiva, ou que cuida dos outros. Ainda dá para viver neste planeta. Ainda dá para ter esperança de que, de alguma forma, algum dia, a gente comece a se curar enquanto sociedade, e a miséria concreta não mate mais ninguém, enquanto líderes mundiais brigam por abstratos quatrilhões.
Crônica da escritora Luft Lya, publicada na Revista VEJA, de 03 de agosto de 2011.
“Temos manias de gourmet, mas não podemos comer. Vivemos mais tempo, mas não sabemos o quefazer com ele.” Assinale a alternativa CORRETA referente a qual figura de sintaxe o trecho apresenta:
Leia o texto abaixo e responda a questões 1 e 2.
SOLIDARIEDADE
O gesto não precisa ser grandioso nem público, não é necessário pertencer a uma ONG ou fazer uma campanha. Sobretudo, convém não aparecer. O gesto primeiro devia ser natural, e não decorrer de nenhum lema ou imposição, nem convite nem sugestão vinda de fora.
Assim devíamos ser habitualmente, e não somos, ou geralmente não somos: cuidar do que está do nosso lado. Cuidar não só na doença ou na pobreza, mas no cotidiano, em que tantas vezes falta a delicadeza, a gentileza, a compreensão; esquecidos os pequenos rituais de respeito, de preservação do mistério, e igualmente da superação das barreiras estéreis entre pessoas da mesma casa, da família, das amizades mais próximas.
Dentro de casa, onde tudo deveria começar, onde se deveria fazer todo dia o aprendizado do belo, do generoso, do delicado, do respeitoso, do agradável e do acolhedor, mal passamos, correndo, tangidos pelas obrigações. Tão fácil atualmente desculpar-se com a pressa: o trânsito, o patrão, o banco, a conta, a hora extra... Tudo isso é real, tudo isso acontece e nos enreda e nos paralisa.
Mas, por outro lado, se a gente parasse (mas parar pra pensar pode ser tão ameaçador...) e fizesse um pequeno cálculo, talvez metade ou boa parte desses deveres aparecesse como supérfluo, frívolo, dispensável.
Uma hora a mais em casa não para se trancar no quarto, mas para conviver. Não com obrigação, sermos felizes com hora marcada e prazo pra terminar, mas promover desde sempre a casa como o lugar do encontro, não da passagem; a mesa como lugar do diálogo, não do engolir quieto e apressado; o quarto como o lugar do afeto, não do cansaço.
Pois se ainda não começamos a ser solidários dentro de nós mesmos e dentro de nossa casa ou do nosso círculo de amigos, como querer fazer campanhas, como pretender desfraldar bandeiras, como desejar salvar o mundo - se estamos perdidos no nosso cotidiano?
Como dizer a palavra certa se estamos mudos, como escutar se estamos surdos, como abraçar se estamos congelados?
Para mim, a solidariedade precisa ser antes de tudo o aprendizado da humanidade pessoal.
Depois de sermos gente, podemos - e devemos - sair dos muros e tentar melhorar o mundo. Que anda tão, tão precisado.
Lya Luft
“Como dizer a palavra certa se estamos mudos, como escutar se estamos surdos, como abraçar se estamos congelados?” Através de qual figura de linguagem a autora demonstra descontentamento com o modo que vivemos, atualmente?