Questões de Português - Vícios da linguagem para Concurso
Foram encontradas 656 questões
Leia o aviso de um restaurante, a seguir:
ATENÇÃO Não é permitido comer duas pessoas no mesmo prato. A Direção. |
A ambiguidade da frase é de natureza:
O sequestro das palavras
Gregório Duvivier
___Vamos supor que toda palavra tenha uma vocação primeira. A palavra mudança, por exemplo, nasceu filha da transformação e da troca, e desde pequena servia para descrever o processo de mutação de uma coisa em outra coisa que não deixou de ser, na essência, a mesma coisa – quando a coisa é trocada por outra coisa, não é mudança, é substituição. A palavra justiça, por exemplo, brotou do casamento dos direitos com a igualdade (sim, foi um ménage): servia para tornar igual aquilo que tinha o direito de ser igual, mas não estava sendo tratado como tal.
___No entanto as palavras cresceram. E, assim como as pessoas, foram sendo contaminadas pelo mundo à sua volta. As palavras, coitadas, não sabem escolher amizade, não sabem dizer não. A liberdade, por exemplo, é dessas palavras que só dizem sim. Não nasceu de ninguém. Nasceu contra tudo: a prisão, a dependência, o poder, o dinheiro – mas não se espante se você vir a liberdade vendendo absorvente, desodorante, cartão de crédito, empréstimo de banco. A publicidade vive disso: dobrar as melhores palavras sem pagar direito de imagem. Assim, você verá as palavras ecologia e esporte juntarem-se numa só para criar o EcoSport – existe algo menos ecológico ou esportivo que um carro? Pobres palavras. Não têm advogados. Não precisam assinar termos de autorização de imagem. Estão aí, na praça, gratuitas.
___Nem todos aceitam que as palavras sejam sequestradas ao bel prazer do usuário. A política é o campo de guerra onde se disputa a posse das palavras. A "ética", filha do caráter com a moral, transita de um lado para o outro dos conflitos, assim como a Alsácia-Lorena, e não sem guerras sanguinárias. Com um revólver na cabeça, é obrigada a endossar os seres mais amorais e sem caráter. A palavra mudança, que sempre andou com as esquerdas, foi sequestrada pelos setores mais conservadores da sociedade – que fingem querer mudar, quando o que querem é trocar (para que não se mude mais). A Justiça, coitada, foi cooptada por quem atropela direitos e desconhece a igualdade, confundindo-a o tempo todo com seu primo, o justiçamento, filho do preconceito com o ódio.
___Já a palavra impeachment, recém-nascida, filha da democracia com a mudança, está escondida num porão: emprestaram suas roupas à palavra golpe, que desfila por aí usando seu nome e seus documentos. Enquanto isso, a palavra jornalismo, coitada, agoniza na UTI. As palavras não lutam sozinhas. É preciso lutar por elas.
Observação: Após a coluna "O Sequestro das Palavras" ter sido publicada no jornal impresso, na segunda-feira, 21/3 de 2016, o colunista modificou seu texto e pediu para atualizá-lo na versão on-line.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/03/1752170-o-sequestro-das-palavras.shtml
As figuras de linguagem são estratagemas que um autor pode empregar em seu texto para persuadir seu leitor. No texto anterior, qual figura de linguagem foi amplamente usada para esse fim?
Leia o texto e responda o que se pede no comando das questões:
A Trump o que é de César.
Há algumas semanas, um sujeito muito parecido com Donald Trump levou 33 punhaladas no meio do Central Park, em Nova York. O sangue era cênico e os punhais eram falsos, mas o furor causado pela encenação nada teve de figurativo. Entre 23 de maio e 18 de junho, milhares de pessoas enfrentaram filas para assistir ao assassinato, enquanto outras tantas campeavam a internet denunciando a peça como apologia do terror político. Nada mau, repare-se, para um texto que anda entre nós há mais de 400 anos: o espetáculo em questão é uma . montagem de Júlio César, peça escrita por William Shakespeare em 1599. Nessa adaptação, dirigida por Oskar Eustin, o personagem-título tinha uma cabeleireira desbotada e usava terno azul, com gravata vermelha mais comprida que o aconselhável; sua esposa, Calpúrnia, falava com reconhecível sotaque eslavo. Um sósia presidencial encharcado de sangue é visão que não poderia passar incólume em um pais que já teve quatro presidentes assassinados: após as primeiras sessões, patrocinadores cancelaram seu apoio, fás do presidente interromperam a peça aos gritos, e e-mails de ódio choveram sobre companhias teatrais que nada tinham a ver com o assunto - exceto pelo fato de carregarem a palavra "Shakespeare” no nome.
Trocar togas por ternos não é ideia nova. Orson Welles fez isso em 1973, no Mercury Theater de Nova York; nessa célebre montagem, o ditador romano ganhou ares de Mussolini e foi esfaqueado pelo próprio Welles, que interpretava Brutus. Nas décadas seguintes, outras figuras modernas emprestaram trajes e trejeitos ao personagem: entre elas, Charles de Gaulle, Fidel Castro e Nicolae Ceausescu. Atualizações como essas expandem, mas não esgotam, o texto de Shakespeare - é muito difícil determinar, pela leitura da peça, se a intenção do bardo era louvar, condenar ou apenas retratar, com imparcialidade, os feitos sanguinolentos dos Idos de Março. Por conta dessa neutralidade filosófica, a tarefa de identificar o protagonista da peça é famosamente complicada: há quem prefira Brutus; há que escolha Marco Antônio ou até o velho Júlio.
O texto, como bom texto, não corrobora nem refuta: ele nos observa. Tragédias não são panfletos, e obras que se exaurem em mensagens inequívocas dificilmente continuarão a causar deleite e fúria quatro séculos após terem sido escritas. Em certo sentido, a boa literatura é uma combinação bem-sucedida de exatidão e ambiguidade: se os versos de Shakespeare ainda causam tamanho alvoroço, é porque desencadeiam interpretações inesgotáveis e, às vezes, contraditórias, compelindo o sucessivo universo humano a se espelhar em suas linhas. Ao adaptar a grande literatura do passado ao nosso tempo, também nós nos adaptamos a ela: procuramos formas de comunicar o misterioso entusiasmo que essas obras nos causam e projetamos o mundo, como o vemos em suas páginas.
Não, Shakespeare não precisa ter terno e gravata para ser atual-masse o figurino cai bem, porque não vesti-lo?
(Fonte: BOTELHO, José Francisco. Revista VEJA. Data: 18 de julho de 2017)
Marque a alternativa que indique corretamente a figura de linguagem:
As proposições a seguir são manchetes veiculadas pelo Jornal Correio Braziliense. Identifique quais delas apresentam ocorrência de ambiguidade na sua construção:
I- “São Paulo quebra invencibilidade do Cruzeiro em casa”.
II- “Mãe é condenada por matar recém-nascido em crise no pós-parto”.
III- “Mãe que jogou bebê no lago é denunciada por homicídio qualificado”.
IV- “Polícia entra em confronto com manifestantes contra a Copa do Mundo”.
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
Perícia de campo
Os novos Sherlock Holmes trocaram as lupas por luzes forenses. São lanternas portáteis ou lâmpadas de maior porte que emitem luzes de diferentes comprimentos de onda, ajudando a revelar coisas que normalmente passariam despercebidas. As fibras sintéticas ficam fluorescentes na maioria dos comprimentos de onda, especialmente nos 300 nanômetros da luz ultravioleta. Já materiais orgânicos, como fibras de algodão, saliva, urina, sêmen e ossos, ficam opacos e esbranquiçados sob a luz negra. "Investigando um caso de estupro, analisei o banco de um carro que não tinha sinais evidentes. Com a luz, pude ver e coletar uma amostra de sêmen e identificar o material genético que incriminou um suspeito", diz Rosângela Monteiro, da Polícia Científica de São Paulo.
Mas isso não é nada perto do que já é possível fazer com impressões digitais. Sim, porque a coleta dessas provas essenciais não é tão simples quanto parece. A maioria delas não é visível a olho nu e dependendo do suporte, era impossível identificá-las'.
Superfícies molhadas, por exemplo, sempre foram uma barreira para os peritos. Problema resolvido com o desenvolvimento de nanopartículas de óxidos de zinco, usadas em um pó que reage com a gordura deixada pelas digitais mesmo na presença de água. Depois, é só iluminar a região desejada com luz ultravioleta e a digital, brilhante, está pronta para ser registrada numa foto.
O próximo desafio é tirar impressões digitais de pele humana, tarefa que está sendo pesquisada por cientistas do Oak Ridge National Laboratory, nos EUA. Eles desenvolveram um equipamento portátil que realiza uma técnica conhecida por espectroscopia de superfície aumentada. O método já mostrou que funciona, mas o instrumento é feito com nanofios revestidos de prata que ainda não dão resultados muito nítidos. O grupo trabalha para melhorar esse revestimento e chegar a uma impressão digital mais evidente, que possa ser revelada com uma fotografia na própria cena do crime.
Mas é melhor apressarem os estudos. Se demorarem, os cientistas do Oak Ridge ficarão ultrapassados antes mesmo de concluírem sua obra-prima. É que, segundo a revista Science, impressões digitais em superfícies molhadas e em pele humana estão prestes a ser reveladas por um único equipamento, que vaporiza uma mistura de moléculas de metanol e água carregadas eletricamente sobre a área investigada. Em contato com a mistura, cada superfície emite íons específicos. Captados por um aparelho, esses sinais são transformados em unidades de imagem, como se fossem pixeis. O resultado é uma versão digital da marca dos dedos, produzida em poucos segundos. E o mais incrível é que o aparelho também distingue substâncias em que o autor da marca tocou antes, como drogas, pólvora, metais e substâncias químicas em geral. O kit básico de trabalho de campo de um perito criminal ainda vai ganhar mais um forte aliado nos próximos anos. com a chegada ao mercado de um gravador portátil de imagens em 3 dimensões, apresentado em abril por cientistas do centro de pesquisas alemão Fraunhofer IOF. Com eles, os peritos não precisam mais esperar o gesso secar para conseguir um molde de uma pegada ou marca de pneu. Basta tirar uma foto com o equipamento e a imagem em 3D pode ser passada para um computador para comparações. O gravador também pode ser útil para filmar cenas de crime em locais públicos, onde não se tem chance de preservar a cena por muito tempo: bastará reconstruir o ambiente virtualmente e estudá-lo com mais calma no laboratório.
(Tarso Araújo, in Revista Superinteressante, outubro de 2008).
Assinale a opção em que se identifica a figura de linguagem conhecida como metonímia.