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Q1826625 Português
    É o discurso que nos liberta e é o discurso que estabelece os limites da nossa liberdade e nos impulsiona a transgredir e transcender os limites — já estabelecidos ou ainda a ser estabelecidos no futuro. Discurso é aquilo que nos faz enquanto nós o fazemos. E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade, que nosso estar no mundo é um processo de vir a ser perpétuo — incessante e infinito: nosso vir a ser e o vir a ser do nosso “mundo da vida” — juntar-se, misturar-se, embora sem solidificar, estreita e inseparavelmente, entrançados e entrelaçados, e compartilhando nossos respectivos sucessos e infortúnios, ligados um ao outro para o melhor e para o pior, desde o momento de nossa concepção simultânea até que a morte nos separe.
    O que nós chamamos de “realidade”, quando entramos em um ânimofilosófico, ou “os fatos da questão” quando seguimos obedientemente as instâncias da doxa, é tecido de palavras. Nenhuma outra realidade nos é acessível: não acessamos o passado “como ele realmente aconteceu”, o qual Leopold von Ranke celebremente conclamou (instruiu) seus colegas historiadores do século XIX a recuperar. Comentando sobre a história de Juan Goytisolo a respeito de um velho, Milan Kundera salienta que a biografia — qualquer biografia que tente ser o que seu nome sugere — é, e não poderia deixar de ser, uma lógica artificial inventada, imposta retrospectivamente a uma sucessão incoerente de imagens, reunida pela memória de partículas e fragmentos. Ele conclui que, em total oposição às presunções do senso comum, o passado compartilha com o futuro a ruína incurável da irrealidade — esquivando-se/evadindo-se obstinadamente, como ambos o fazem, das redes tecidas de palavras movidas pela lógica. Não obstante, essa irrealidade é a única realidade a ser captada e possuída por nós, que “vivemos em discurso como o peixe na água”. 

Zygmunt Bauman e Riccardo Mazzeo. O elogio da
literatura. Zahar. Edição do Kindle (com adaptações).

Julgue o item que se segue, com relação a aspectos linguísticos do texto precedente. 


No trecho “quando seguimos obedientemente as instâncias da doxa” (segundo parágrafo), o sinal indicativo de crase poderia ser inserido em “as” — escrevendo-se às —, sem prejuízo da correção gramatical do texto, uma vez que o emprego desse sinal é facultativo nesse caso. 

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Comentários

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crase facultativa será quando estiver :

1-Sua

2-Dona

3-Maria

Fonte: quase dois anos de estudos direto

AProvado em ACS 2021

Deus te abençoe

CUIDADO!

Há comentários incorretos.

Leia-se o fragmento textual:

“quando seguimos obedientemente as instâncias da doxa (...)”

Em consonância com Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Verbal, p. 476 e 477, o verbo "seguir", no contexto apresentado, é transitivo direto e não rege, por conseguinte, preposição alguma, de modo que, se inserto o sinal indicativo da crase, haveria um solecismo de regência verbal.

Errado.

Obs.: em um comentário nessa questão, registraram que o verbo "seguir", caso pronominal, "seguir-se", permitirá o uso do sinal indicativo da crase, o que é um erro grave. Esse verbo, sendo pronominal em pelo menos duas acepções, rejeita o uso do acento, conforme registro de Celso Pedro Luft no já mencionado livro, do qual eduzo estas frases:

a) Seguem-se alguns exemplos de sintaxe;

b) Seguem-se as assinaturas das testemunhas;

c) Seguiram-se minutos de agoniada expectativa.

verbo transitivo direto

Gabarito: E

O verbo "seguir" é transitivo direto não sendo regido pela preposição "a". Sabendo-se que crase é a junção da preposição a + artigo definido a, conclui-se que não há necessidade de crase, neste caso.

O verbo não expressar preposição A, logo crase não há...

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