TEXTO I
“AS POSSIBILIDADES PERDIDAS”
Janeiro 25, 2016
Fiquei sabendo que um poeta mineiro que eu não
conhecia, chamado Emilio Moura, teria completado 100 anos
neste mês de agosto, caso vivo fosse. Era amigo de outro grande
poeta, Drummond. Chegaram a mim alguns versos dele, e um em
especial me chamou a atenção: “Viver não dói. O que dói é a vida
que não se vive”.
Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não
advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e
não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente
não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa
tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos
fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos
por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi
desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter
conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos
os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos
os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter
compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos
cancelados, pela eternidade interrompida.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e
paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter
para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para
namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que poderíamos estar
confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela
estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque
nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não
porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado
de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas
aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a
experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é
simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais.
Texto original de Martha Medeiros
Disponível em https://www.revistapazes.com/perdidasmarthamedeiros/. Acesso
em 30/04/2019.