Questões de Concurso
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Leia o excerto.
Uma verdadeira filosofia da educação não poderá fundar-se apenas em ideias. Tem de identificar-se com o contexto a que vai se aplicar o seu agir educativo. Tem de ter consciência crítica do contexto – dos seus valores em transição –, somente como pode interferir neste contexto, para que dele também não seja uma escrava.
FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez Editora, 2001.
Neste trecho, Paulo Freire se refere à relação entre:
Planejar significa antever uma forma possível e desejável. (...). Não planejar pode implicar perder possibilidades de melhores caminhos, perder pontos de entrada significativos (Vasconcellos, 1999, p. 148).
São elementos reconhecidos como imprescindíveis a um
plano de aula:
A criança que quebra a cabeça com os barbara e baraliption, fatiga-se, certamente, e deve-se procurar fazer com que ela só se fatigue quando for indispensável e não inutilmente; mas é igualmente certo que será sempre necessário que ela se fatigue a fim de aprender e que se obrigue a privações e limitações de movimento físico, isto é, que se submeta a um tirocínio psicofísico. Deve-se convencer a muita gente que o estudo é também um trabalho, e muito fatigante, com um tirocínio particular próprio, não só muscular-nervoso mas intelectual: é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento (Gramsci, 1968, 138-139).
O fragmento de António Gramsci foi extraído da obra Os
intelectuais e a organização da cultura e chama a atenção
“Algum tempo atrás, a BBC perguntou às crianças britânicas se preferiam a televisão ou o rádio. Quase todas escolheram a televisão, o que foi algo assim como constatar que os gatos miam e os mortos não respiram. Mas entre as poucas crianças que escolheram o rádio, houve uma que explicou: -Gosto mais do rádio porque pelo rádio vejo paisagens mais bonitas” (Galeano, 2009, p. 308).
Neste fragmento extraído da obra De pernas pro ar: a escola
do mundo avesso, o escritor Eduardo Galeano convida
a pensar sobre:
Texto 3
Teoria, ideologia e a urgente necessidade
de pensar contra a má-fé
Márcia Tiburi
O teólogo André Musskopf defende que os fundamentalistas têm ajudado o feminismo e os movimentos pela diversidade sexual e de gênero. Em artigo, ele defende que “talvez o mais surpreendente seja que aqueles e aquelas que não queriam falar sobre o assunto de repente se veem obrigadas e obrigados a estudar e conhecer – e até falar sobre ele”. De fato, a gritaria de alguns tem esse outro lado, um efeito inesperado de colocar a questão em pauta, de levar muita gente a repensar o modo como a questão de gênero afeta suas vidas cotidianas. A vida e a sociedade são dialéticas, digamos assim, tudo pode ter dois lados, e o olhar otimista ajuda todos os que sobrevivem a seguir na luta por direitos. Mas infelizmente há o lado péssimo de tudo isso, aquele que é vivido pelas vítimas desse estado de coisas, aqueles para quem não há justiça alguma.
Quem luta, não pode desistir. Enfraquecer o inimigo é necessário desde que não se menospreze sua força.
O caminho que devemos seguir quando se trata de pensar em gênero é aquele que reúne o esforço da crítica, da pesquisa, do esclarecimento, o esforço de quem se dedica à educação e à ciência, com o esforço da escuta. Quando escuto alguém falando de “cura gay” imagino o grau de esvaziamento de si, de pobreza subjetiva, que levou essa pessoa a aderir a uma teoria como essa. Infelizmente, esse tipo de teoria popular se transforma em ideologia enquanto, ao mesmo tempo, é usada por “donos do poder”, para vantagens pessoais.
Importante saber a diferença entre teoria e ideologia. São termos muito complexos. Incontáveis volumes já foram escritos sobre isso, mas podemos resumir nos seguintes termos: teoria é um tipo de pensamento que se expõe, ideologia é um tipo de pensamento que se oculta.
Há, no entanto, um híbrido, as “teorias ideológicas” que, por sua vez, expõem com a intenção de ocultar, ou ocultam fingindo que expõem.
Há teorias populares (que constituem o senso comum, as opiniões na forma de discursos que transitam no mundo da vida depois de terem sido lidas em jornais e revistas de divulgação) e teorias científicas (que estão sempre sendo questionadas e podem vir a ser desconstituídas, mas que escorrem para o senso comum e lá são transformadas e, em geral, perdem muito do seu sentido).
Ideologia, por sua vez, é o conjunto dos discursos e opiniões vigentes que servem para ocultar alguma coisa em vez de promover esclarecimento, investigação e ponderação.
A ideologia de gênero, sobre a qual se fala hoje em dia, não está na pesquisa que o discute e questiona, mas no poder que, aliado ao senso comum, tenta dizer o que gênero não é.
Algo muito curioso acontece com o uso do termo ideologia quando se fala em “ideologia de gênero”. Algo, no mínimo, capcioso. Pois quem usa o termo “ideologia de gênero” para combater o que há de elucidativo no termo gênero procura ocultar por meio do termo ideologia não apenas o valor do termo gênero, como, por inversão, o próprio conceito de ideologia. É como se falar de ideologia de gênero servisse para ocultar a ideologia de gênero de quem professa o discurso contra a ideologia de gênero.
Não se trata apenas de uma manobra em que a autocontradição performativa é ocultada pela força da expressão, mas de um caso evidente de má fé. E quando a má fé vem de pessoas (homens, sobretudo) que se dizem de fé, então, estamos correndo perigo, porque a fé do povo tem sido usada de maneira demoníaca.
O papel ético e político de quem pesquisa, ensina e luta pela lucidez em uma sociedade em que os traços obscurantistas se tornam cada vez mais intensos é também demonstrar que percebemos o que se passa e que continuaremos do lado crítico a promover lucidez, diálogo e respeito aos direitos fundamentais, inclusive relativos à sexualidade e ao gênero, em que pese a violência simbólica a que estamos submetidos.
Disponível em: <http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/vamos-conversar-sobre-genero/>