Questões de Concurso
Sobre significação contextual de palavras e expressões. sinônimos e antônimos. em português
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Q1187721
Português
Envelhecer com mel ou fel
Afonso Romano de Sant’Anna
Conheço muitas pessoas que estão envelhecendo mal. Desconfortavelmente. Com uma infelicidade crua na alma. Estão ficando velhas, mas não estão ficando sábias. Um rancor cobre-lhes a pele, a escrita e o gesto. São críticos azedos, aliás estão ficando cítricos sem nenhuma doçura nas palavras. Estão amargos. Com fel nos olhos.
E alguns desses, no entanto, teriam tudo para ser o contrário: aparentemente tiveram sucesso em suas atividades. Maior até do que mereciam. Portanto, a gente pensa: o que querem? __________ essa bílis ao telefone e nos bares? __________ esse resmungo pelos cantos e esse sarcasmo público que se pensa humor?
Isto está errado. Errado, não _________ esteja simplesmente errado, mas __________ tais pessoas vivem numa infelicidade abstrata. E, ademais, dever-se-ia envelhecer maciamente. Nunca aos solavancos. Nunca aos trancos e barrancos. Nunca como alguém caindo num abismo e se agarrando nos galhos e pedras, olhando em pânico para o buraco enquanto despenca. Jamais, também, como quem está se afogando, se asfixiando ou morrendo numa câmara de gás.
Envelhecer deveria ser como plainar. Como quem não sofre mais (tanto) com os inevitáveis atritos. Assim como a nave que sai do desgaste da atmosfera e vai entrando noutro astral, e vai silente, e vai gastando nenhum − quase combustível, flutuando como uma caravela no mar ou uma cápsula no cosmos.
Os elefantes, por exemplo, envelhecem bem. E olha que é uma tarefa enorme. Não se queixam do peso dos anos, nem da ruga do tempo, e, quando percebem a hora da morte, caminham pausadamente para um certo e mesmo lugar -- o cemitério dos elefantes, e aí morrem, completamente, com a grandeza existencial só aos sábios permitida.
Os vinhos envelhecem melhor ainda. Ficam ali nos limites de sua garrafa, na espessura de seu sabor, na adega do prazer. E vão envelhecendo e ganhando vida, envelhecendo e sendo amados, e, ____________ velhos, desejados. Os vinhos envelhecem densamente. E dão prazer.
O problema da velhice também se dá com certos instrumentos. Não me refiro aos que enferrujam pelos cantos, mas a um envelhecimento atuante como o da faca. Nela o corte diário dos dias a vai consumindo. E, no entanto, ela continua afiadíssima, encaixando-se nas mãos da cozinheira como nenhuma faca nova.
Vai ver, a natureza deveria ter feito os homens envelhecerem de modo diferente. Como as facas, digamos, por desgaste, sim, mas nunca desgastante. Seria a suave solução: a gente devia ir se gastando até desaparecer sem dor, como quem, caminhando contra o vento, de repente, se evaporasse. E aí iam perguntar: cadê fulano? E alguém diria: gastou-se, foi vivendo, vivendo e acabou. Acabou, é claro, sem nenhum gemido ou resmungo.
Bilac dizia que a gente deveria aprender a envelhecer com as velhas árvores. Walt Whitman tem um poema onde vai dizendo: “Penso que podia viver com os animais que são plácidos e bastam-se a si mesmos”. Ainda agora tirei os olhos do papel e olhei a natureza em torno. Nunca vi o sol se queixar no entardecer. Nem a lua chorar quando amanhece.
NÃO há presença de linguagem figurada na frase:
Afonso Romano de Sant’Anna
Conheço muitas pessoas que estão envelhecendo mal. Desconfortavelmente. Com uma infelicidade crua na alma. Estão ficando velhas, mas não estão ficando sábias. Um rancor cobre-lhes a pele, a escrita e o gesto. São críticos azedos, aliás estão ficando cítricos sem nenhuma doçura nas palavras. Estão amargos. Com fel nos olhos.
E alguns desses, no entanto, teriam tudo para ser o contrário: aparentemente tiveram sucesso em suas atividades. Maior até do que mereciam. Portanto, a gente pensa: o que querem? __________ essa bílis ao telefone e nos bares? __________ esse resmungo pelos cantos e esse sarcasmo público que se pensa humor?
Isto está errado. Errado, não _________ esteja simplesmente errado, mas __________ tais pessoas vivem numa infelicidade abstrata. E, ademais, dever-se-ia envelhecer maciamente. Nunca aos solavancos. Nunca aos trancos e barrancos. Nunca como alguém caindo num abismo e se agarrando nos galhos e pedras, olhando em pânico para o buraco enquanto despenca. Jamais, também, como quem está se afogando, se asfixiando ou morrendo numa câmara de gás.
Envelhecer deveria ser como plainar. Como quem não sofre mais (tanto) com os inevitáveis atritos. Assim como a nave que sai do desgaste da atmosfera e vai entrando noutro astral, e vai silente, e vai gastando nenhum − quase combustível, flutuando como uma caravela no mar ou uma cápsula no cosmos.
Os elefantes, por exemplo, envelhecem bem. E olha que é uma tarefa enorme. Não se queixam do peso dos anos, nem da ruga do tempo, e, quando percebem a hora da morte, caminham pausadamente para um certo e mesmo lugar -- o cemitério dos elefantes, e aí morrem, completamente, com a grandeza existencial só aos sábios permitida.
Os vinhos envelhecem melhor ainda. Ficam ali nos limites de sua garrafa, na espessura de seu sabor, na adega do prazer. E vão envelhecendo e ganhando vida, envelhecendo e sendo amados, e, ____________ velhos, desejados. Os vinhos envelhecem densamente. E dão prazer.
O problema da velhice também se dá com certos instrumentos. Não me refiro aos que enferrujam pelos cantos, mas a um envelhecimento atuante como o da faca. Nela o corte diário dos dias a vai consumindo. E, no entanto, ela continua afiadíssima, encaixando-se nas mãos da cozinheira como nenhuma faca nova.
Vai ver, a natureza deveria ter feito os homens envelhecerem de modo diferente. Como as facas, digamos, por desgaste, sim, mas nunca desgastante. Seria a suave solução: a gente devia ir se gastando até desaparecer sem dor, como quem, caminhando contra o vento, de repente, se evaporasse. E aí iam perguntar: cadê fulano? E alguém diria: gastou-se, foi vivendo, vivendo e acabou. Acabou, é claro, sem nenhum gemido ou resmungo.
Bilac dizia que a gente deveria aprender a envelhecer com as velhas árvores. Walt Whitman tem um poema onde vai dizendo: “Penso que podia viver com os animais que são plácidos e bastam-se a si mesmos”. Ainda agora tirei os olhos do papel e olhei a natureza em torno. Nunca vi o sol se queixar no entardecer. Nem a lua chorar quando amanhece.
NÃO há presença de linguagem figurada na frase:
Q1187646
Português
Eu Sei, Mas Não Devia
Clarice Lispector
Eu sei, mas não devia. Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo, porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz [...].
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “Hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. A lutar para ganhar o dinheiro com que se paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar muito mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre o sono atrasado.
A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que de tanto se acostumar, se perde de si mesma.
“A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.”
Assinale a alternativa que NÃO explica a expressão acima.
Clarice Lispector
Eu sei, mas não devia. Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo, porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz [...].
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “Hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. A lutar para ganhar o dinheiro com que se paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar muito mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre o sono atrasado.
A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que de tanto se acostumar, se perde de si mesma.
“A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.”
Assinale a alternativa que NÃO explica a expressão acima.
Q1186903
Português
Repórter Policial
[...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.
E assim sucessivamente. Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha-chave. Suspeito é Mister X, advogado é causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral.
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata… a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou comerciário”.
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.
Analise as afirmativas que seguem, considerando o texto acima:
I. No segundo parágrafo os travessões foram usados para isolar explicações.
II. Em ‘a manchete no dia seguinte tá lá’ (3º parágrafo) e em ‘se a vítima de uma agressão morre, tá legal’ (4º parágrafo) o autor usou linguagem coloquial.
III. ‘Derribar’ é vocábulo variante de ‘derrubar’.
IV. “A vítima traja terno azul e gravata do mesmo tom” aparece entre aspas para caracterizar uso do discurso indireto.
V. ‘Outro detalhezinho interessante:’ (4º parágrafo). Os dois pontos foram utilizados para demarcar a enumeração que segue.
Agora assinale a alternativa correta:
[...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.
E assim sucessivamente. Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha-chave. Suspeito é Mister X, advogado é causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito ventral.
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata… a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou comerciário”.
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.
Analise as afirmativas que seguem, considerando o texto acima:
I. No segundo parágrafo os travessões foram usados para isolar explicações.
II. Em ‘a manchete no dia seguinte tá lá’ (3º parágrafo) e em ‘se a vítima de uma agressão morre, tá legal’ (4º parágrafo) o autor usou linguagem coloquial.
III. ‘Derribar’ é vocábulo variante de ‘derrubar’.
IV. “A vítima traja terno azul e gravata do mesmo tom” aparece entre aspas para caracterizar uso do discurso indireto.
V. ‘Outro detalhezinho interessante:’ (4º parágrafo). Os dois pontos foram utilizados para demarcar a enumeração que segue.
Agora assinale a alternativa correta:
Q1186699
Português
Leia o texto abaixo, para responder à questão.
O livro O filho eterno é a história que um pai encontrou para expor sua experiência de ter um filho com síndrome de Down. De forma corajosa, chegando às vezes a ser cruel, o narrador (o escritor Cristovão Tezza, em terceira pessoa) conta sobre como se sentiu injustiçado pela natureza, ao verificar que Filipe (o filho eterno) havia nascido com mongolismo. O narrador volta-se para seu passado e relembra tudo: a própria adolescência em uma comunidade, a vida como imigrante ilegal na Alemanha e a rápida experiência como relojoeiro, a ansiedade como autor de livros à espera de editor e o desejo de alcançar estabilidade financeira. As pequenas conquistas de Filipe e sua paixão por futebol, que é também a do pai, acabam por aproximá-los. O escritor expôs seu próprio drama, sem pieguices, e abordou questões relacionadas à síndrome de Down, sem didatismo. Ao fazê-lo, apresentando uma prosa rica e forte, mereceu os muitos prêmios literário que conquistou em 2008.
Em “De forma corajosa” há ideia de:
O livro O filho eterno é a história que um pai encontrou para expor sua experiência de ter um filho com síndrome de Down. De forma corajosa, chegando às vezes a ser cruel, o narrador (o escritor Cristovão Tezza, em terceira pessoa) conta sobre como se sentiu injustiçado pela natureza, ao verificar que Filipe (o filho eterno) havia nascido com mongolismo. O narrador volta-se para seu passado e relembra tudo: a própria adolescência em uma comunidade, a vida como imigrante ilegal na Alemanha e a rápida experiência como relojoeiro, a ansiedade como autor de livros à espera de editor e o desejo de alcançar estabilidade financeira. As pequenas conquistas de Filipe e sua paixão por futebol, que é também a do pai, acabam por aproximá-los. O escritor expôs seu próprio drama, sem pieguices, e abordou questões relacionadas à síndrome de Down, sem didatismo. Ao fazê-lo, apresentando uma prosa rica e forte, mereceu os muitos prêmios literário que conquistou em 2008.
Em “De forma corajosa” há ideia de:
Q1186656
Português
Observe os fragmentos: “Os fotógrafos, (...), aproveitam esses momentos e... crau”; “O candidato entra na fila, bandeja na mão... clique”. Sobre as expressões destacadas:
1. ambas referem-se ao ato de fotografar. 2. a primeira promove também o sentido de flagrante. 3. apenas a segunda representa ação rápida e decidida. 4. só a primeira constitui onomatopéia. 5. a primeira também supõe proveito, ganho.
Estão corretas, apenas:
1. ambas referem-se ao ato de fotografar. 2. a primeira promove também o sentido de flagrante. 3. apenas a segunda representa ação rápida e decidida. 4. só a primeira constitui onomatopéia. 5. a primeira também supõe proveito, ganho.
Estão corretas, apenas:
Q1186644
Português
A era do espetáculo e a exposição na internet
Recente episódio envolvendo a exposição de cenas íntimas de adolescentes nas redes sociais, em Teresina, traz o assunto para o campo das discussões mais uma vez. E a pergunta que se faz é até que ponto é saudável a exposição da ‘vida privada’ na Internet e cadê o controle dos pais?
É fato que cada vez mais os jovens, e também os adultos, estão usando a Internet e as redes sociais, como twitter, instagram, facebook e whats app. Isto tanto pela facilidade cada vez maior de acesso à Web através dos smartphones e tablets, quanto pelo fato de hoje vivermos a chamada era do espetáculo, na qual o ser é ou pode ser igual a mostrar. E aí mostra-se de tudo um pouco nas redes sociais: os sapatos novos, a recente conquista amorosa, a viagem das férias, o embarque no avião…
E acrescenta-se a isso o fato da adolescência ser uma fase na qual há uma disposição à onipotência e ao pensamento mágico. Seria como pensar mais ou menos assim: “eu posso fazer tudo, que não vai acontecer nada”. Essas características podem levar a mostra-se, inclusive nu o seminu, e o jovem ter como pensamento que a tela e a distância relativiza o perigo de expor-se, o que não é verdade. O perigo é real.
Há quem veja as redes sociais como um problema sócio-educacional em si. A realidade, como já falado, é que vivemos em uma sociedade midiática e as redes sociais são fruto dessa era atual, como eram os cadernos e agendas do tempo da adolescência dos nossos pais e de quem tem na casa dos 40 anos de idade.
Se formos analisar, existia naquele tempo um embrião das redes sociais de hoje: os questionários que passavam na escola entre as meninas, em que se respondiam perguntas pessoais. O fim podia ser o mesmo das redes de hoje: mostrar a vida e bisbilhotar à alheia também. E a garota que tinha sua agenda/caderno com mais perguntas do questionário respondidas era também uma das mais populares da turma.
Os meios de comunicação e interação da modernidade por si só não são culpados pela exposição excessiva que vemos hoje em meios como o instagram e o facebook, que, a meu ver, são os mais populares. Repito que vivemos na era do espetáculo, na qual o ser é/ou pode ser exibir-se/mostra-se e há as pessoas que gostam de ver e as que gostam de mostrar. É por isso que as fotos do instagram fazem tanto sucesso, bem como as postadas no facebook.
Temos que pensar no fato de que cada um é responsável pelo que publica nessas redes. Então é importante filtrar o que publicar para preservar sua intimidade e até mesmo manter sua segurança. No caso dos adolescentes, é necessário que os pais sejam vigilantes e, sobretudo, conversem com seus filhos, acompanhem o que eles fazem na Rede, quem são seus ‘amigos’, e não apenas deem computadores e telefones de última geração em substituição à presença qualitativa na vida deles. O diálogo e a presença são pontos fundamentais.
Disponível em: http://www.clinicacuidarte.com.br
Onipotência significa:
Recente episódio envolvendo a exposição de cenas íntimas de adolescentes nas redes sociais, em Teresina, traz o assunto para o campo das discussões mais uma vez. E a pergunta que se faz é até que ponto é saudável a exposição da ‘vida privada’ na Internet e cadê o controle dos pais?
É fato que cada vez mais os jovens, e também os adultos, estão usando a Internet e as redes sociais, como twitter, instagram, facebook e whats app. Isto tanto pela facilidade cada vez maior de acesso à Web através dos smartphones e tablets, quanto pelo fato de hoje vivermos a chamada era do espetáculo, na qual o ser é ou pode ser igual a mostrar. E aí mostra-se de tudo um pouco nas redes sociais: os sapatos novos, a recente conquista amorosa, a viagem das férias, o embarque no avião…
E acrescenta-se a isso o fato da adolescência ser uma fase na qual há uma disposição à onipotência e ao pensamento mágico. Seria como pensar mais ou menos assim: “eu posso fazer tudo, que não vai acontecer nada”. Essas características podem levar a mostra-se, inclusive nu o seminu, e o jovem ter como pensamento que a tela e a distância relativiza o perigo de expor-se, o que não é verdade. O perigo é real.
Há quem veja as redes sociais como um problema sócio-educacional em si. A realidade, como já falado, é que vivemos em uma sociedade midiática e as redes sociais são fruto dessa era atual, como eram os cadernos e agendas do tempo da adolescência dos nossos pais e de quem tem na casa dos 40 anos de idade.
Se formos analisar, existia naquele tempo um embrião das redes sociais de hoje: os questionários que passavam na escola entre as meninas, em que se respondiam perguntas pessoais. O fim podia ser o mesmo das redes de hoje: mostrar a vida e bisbilhotar à alheia também. E a garota que tinha sua agenda/caderno com mais perguntas do questionário respondidas era também uma das mais populares da turma.
Os meios de comunicação e interação da modernidade por si só não são culpados pela exposição excessiva que vemos hoje em meios como o instagram e o facebook, que, a meu ver, são os mais populares. Repito que vivemos na era do espetáculo, na qual o ser é/ou pode ser exibir-se/mostra-se e há as pessoas que gostam de ver e as que gostam de mostrar. É por isso que as fotos do instagram fazem tanto sucesso, bem como as postadas no facebook.
Temos que pensar no fato de que cada um é responsável pelo que publica nessas redes. Então é importante filtrar o que publicar para preservar sua intimidade e até mesmo manter sua segurança. No caso dos adolescentes, é necessário que os pais sejam vigilantes e, sobretudo, conversem com seus filhos, acompanhem o que eles fazem na Rede, quem são seus ‘amigos’, e não apenas deem computadores e telefones de última geração em substituição à presença qualitativa na vida deles. O diálogo e a presença são pontos fundamentais.
Disponível em: http://www.clinicacuidarte.com.br
Onipotência significa:
Q1186393
Português
Assinale a alternativa em que o conectivo apresenta o mesmo valor semântico do conectivo destacado no trecho: “Apesar de seu passado como executivo da Microsoft [...]”.
Q1185941
Português
Escola × Violência Jussara de Barros
Parágrafo 1 A violência é um problema social que está presente nas ações dentro das escolas e se manifesta de diversas formas entre todos os envolvidos no processo educativo. Isso não deveria acontecer, pois escola é lugar de formação da ética e da moral dos sujeitos ali inseridos, sejam eles alunos, professores ou demais funcionários.
Parágrafo 2 A violência estampada nas ruas das cidades, a violência doméstica, os latrocínios, os contrabandos, os crimes de colarinho branco têm levado jovens a perder a credibilidade em uma sociedade justa e igualitária capaz de promover o desenvolvimento social em iguais condições para todos, tornando-os violentos conforme esses modelos sociais.
Parágrafo 3 Nas escolas, as relações do dia a dia deveriam traduzir respeito ao próximo, através de atitudes que levassem à amizade, harmonia e integração das pessoas, visando a atingir os objetivos propostos no projeto político pedagógico da instituição.
Parágrafo 4 Muito se diz sobre o combate à violência, porém, levando ao pé da letra, combater significa guerrear, bombardear, batalhar, o que não traz um conceito correto para se revogar a mesma. As próprias instituições públicas se utilizam desse conceito errôneo, princípio que deve ser o motivador para a falta de engajamento dessas ações.
Parágrafo 5 Levar esse tema para a sala de aula desde as séries iniciais é uma forma de trabalhar com um tema controverso e presente em nossas vidas, possibilitando momentos de reflexão que auxiliarão na transformação social.
Parágrafo 6 Com recortes de jornais e revistas, pesquisas, filmes, músicas, desenhos animados, notícias televisivas, dentre outros, os professores podem levantar discussões acerca do tema numa possível forma de criar um ambiente de respeito ao próximo, considerando que todos os envolvidos no processo educativo devem participar e se engajar nessa ação para que a mesma não se torne contraditória. E muito além das discussões e momentos de reflexão, os professores devem propor soluções e análises críticas acerca dos problemas a fim de que os alunos se percebam capacitados para agir como cidadãos. Afinal, a credibilidade e a confiança são as melhores formas de mostrar para crianças e jovens que é possível vencer os desafios e problemas que a vida apresenta.
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao/escola-x-violencia.htm>. Acesso em: 25 maio 2014. (Adaptado)
Assinale a alternativa que apresenta corretamente sinônimos e antônimos, de acordo com o texto.
Parágrafo 1 A violência é um problema social que está presente nas ações dentro das escolas e se manifesta de diversas formas entre todos os envolvidos no processo educativo. Isso não deveria acontecer, pois escola é lugar de formação da ética e da moral dos sujeitos ali inseridos, sejam eles alunos, professores ou demais funcionários.
Parágrafo 2 A violência estampada nas ruas das cidades, a violência doméstica, os latrocínios, os contrabandos, os crimes de colarinho branco têm levado jovens a perder a credibilidade em uma sociedade justa e igualitária capaz de promover o desenvolvimento social em iguais condições para todos, tornando-os violentos conforme esses modelos sociais.
Parágrafo 3 Nas escolas, as relações do dia a dia deveriam traduzir respeito ao próximo, através de atitudes que levassem à amizade, harmonia e integração das pessoas, visando a atingir os objetivos propostos no projeto político pedagógico da instituição.
Parágrafo 4 Muito se diz sobre o combate à violência, porém, levando ao pé da letra, combater significa guerrear, bombardear, batalhar, o que não traz um conceito correto para se revogar a mesma. As próprias instituições públicas se utilizam desse conceito errôneo, princípio que deve ser o motivador para a falta de engajamento dessas ações.
Parágrafo 5 Levar esse tema para a sala de aula desde as séries iniciais é uma forma de trabalhar com um tema controverso e presente em nossas vidas, possibilitando momentos de reflexão que auxiliarão na transformação social.
Parágrafo 6 Com recortes de jornais e revistas, pesquisas, filmes, músicas, desenhos animados, notícias televisivas, dentre outros, os professores podem levantar discussões acerca do tema numa possível forma de criar um ambiente de respeito ao próximo, considerando que todos os envolvidos no processo educativo devem participar e se engajar nessa ação para que a mesma não se torne contraditória. E muito além das discussões e momentos de reflexão, os professores devem propor soluções e análises críticas acerca dos problemas a fim de que os alunos se percebam capacitados para agir como cidadãos. Afinal, a credibilidade e a confiança são as melhores formas de mostrar para crianças e jovens que é possível vencer os desafios e problemas que a vida apresenta.
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao/escola-x-violencia.htm>. Acesso em: 25 maio 2014. (Adaptado)
Assinale a alternativa que apresenta corretamente sinônimos e antônimos, de acordo com o texto.
Q1184521
Português
TEXTO 2
Campo Geral
Estava Mãe, estava tio Terêz, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. [...] O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: – “Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?” [...]
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o seu jeito.
– Olha, agora!
Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. [...] E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro contar à Rosa, à Maria Pretinha, à Mãitana. [...]. Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.
– “Você está triste, Miguilim?” – Mãe perguntou.
Miguilim não sabia. Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente, eram grandes demais.
– Pra onde ele foi?
– A foi p’ra a Vereda do Tipã, onde os caçadores estão. Mas amanhã ele volta, de manhã, antes de ir s'embora para a cidade. Disse que, você querendo, Miguilim, ele junto te leva […] – O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava para a escola, depois aprendia ofício. – “Você mesmo quer ir?”
Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava. Mas mãe disse:
– Vai, meu filho. É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar. Vai.
O doutor chegou. — “Miguilim, você está aprontando? Está animoso?” Miguilim abraçava todos, um por um, dizia adeus até aos cachorros, ao Papaco-o-Paco, ao gato Sossõe qua lambia as mãozinhas se asseando. [...] Estava abraçado com Mãe. Podiam sair.
Mas, então, de repente, Miguilim parou em frente do doutor. Todo tremia, quase sem coragem de dizer o que tinha vontade. Por fim, disse. Pediu. O doutor entendeu e achou graça. Tirou os óculos, pôs na cara de Miguilim.
E Miguilim olhou para todos, com tanta força. Saiu lá fora. [...] O Mutum era bonito! Agora ele sabia. [...]
Olhava mais era para Mãe. [...] Todos choravam. O doutor limpou a goela, disse: — “Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d ́água [...]” Miguilim entregou a ele os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. [...] Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, falava.
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1984. p. 139-142. (Fragmento)
Que opção apresenta, respectivamente e de acordo com o contexto, os sinônimos das palavras destacadas no trecho a seguir? “[...] Coração de Miguilim batia DESCOMPASSADO, ele CARECEU de ir lá dentro contar à Rosa, à Maria Pretinha, à Mãitana. [...].”
Campo Geral
Estava Mãe, estava tio Terêz, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. [...] O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: – “Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?” [...]
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o seu jeito.
– Olha, agora!
Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. [...] E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro contar à Rosa, à Maria Pretinha, à Mãitana. [...]. Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.
– “Você está triste, Miguilim?” – Mãe perguntou.
Miguilim não sabia. Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente, eram grandes demais.
– Pra onde ele foi?
– A foi p’ra a Vereda do Tipã, onde os caçadores estão. Mas amanhã ele volta, de manhã, antes de ir s'embora para a cidade. Disse que, você querendo, Miguilim, ele junto te leva […] – O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava para a escola, depois aprendia ofício. – “Você mesmo quer ir?”
Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava. Mas mãe disse:
– Vai, meu filho. É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar. Vai.
O doutor chegou. — “Miguilim, você está aprontando? Está animoso?” Miguilim abraçava todos, um por um, dizia adeus até aos cachorros, ao Papaco-o-Paco, ao gato Sossõe qua lambia as mãozinhas se asseando. [...] Estava abraçado com Mãe. Podiam sair.
Mas, então, de repente, Miguilim parou em frente do doutor. Todo tremia, quase sem coragem de dizer o que tinha vontade. Por fim, disse. Pediu. O doutor entendeu e achou graça. Tirou os óculos, pôs na cara de Miguilim.
E Miguilim olhou para todos, com tanta força. Saiu lá fora. [...] O Mutum era bonito! Agora ele sabia. [...]
Olhava mais era para Mãe. [...] Todos choravam. O doutor limpou a goela, disse: — “Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d ́água [...]” Miguilim entregou a ele os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. [...] Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, falava.
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1984. p. 139-142. (Fragmento)
Que opção apresenta, respectivamente e de acordo com o contexto, os sinônimos das palavras destacadas no trecho a seguir? “[...] Coração de Miguilim batia DESCOMPASSADO, ele CARECEU de ir lá dentro contar à Rosa, à Maria Pretinha, à Mãitana. [...].”
Q1184279
Ciência Política
No sentido etimológico da palavra, democracia significa o "governo do povo", o "governo da maioria". São características da democracia, EXCETO:
Q1184271
Português
OS JOVENS E OS DILEMAS DA SEXUALIDADE
Atualmente, os jovens estão iniciando a vida sexual mais cedo. A sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação, na literatura e artes. Entretanto, essa aparente “liberdade sexual” não torna as pessoas mais “livres”, pois ainda há bastante repressão e preconceito sobre o assunto. Além disso, as regras de como devemos nos comportar sexualmente prevalecem em todos os discursos, o que se torna uma questão velada de repressão. O jovem do século XXI é visto como livre, bem informado, “antenado” com os acontecimentos, mas as pesquisas mostram que, quando o assunto é sexo, há muitas dúvidas e conflitos. Desde dúvidas específicas sobre questões biológicas, como as doenças sexualmente transmissíveis, até conflitos sobre os valores e as atitudes que devem tomar em determinadas situações. Apesar de iniciarem a vida sexual mais cedo, os jovens não têm informações e orientações suficientes. A mídia, salvo exceções, contribui para a desinformação sobre sexo e a deturpação de valores. A superbanalização de assuntos relacionados à sexualidade e das relações afetivas gera dúvidas e atitudes precipitadas. Isso pode levar muitos jovens a se relacionarem de forma conflituosa com os outros e também com a própria sexualidade. Enfim, hoje existe uma aparente liberdade sexual. Ao mesmo tempo em que as pessoas são, em comparação a anos anteriores, mais livres para fazer escolhas no campo afetivo e sexual, ainda há muita cobrança por parte da sociedade, e essa cobrança acaba sendo internalizada; assim, as pessoas acabam assumindo comportamentos e valores adotados pela maioria.
Disponível em: www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/ sexualidade, baseado nos estudos de Ana Cláudia Bertolozzi Maia. [Adaptado]
“A sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação, na literatura e artes” (1º parágrafo). Acerca do período acima, é possível afirmar que:
Atualmente, os jovens estão iniciando a vida sexual mais cedo. A sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação, na literatura e artes. Entretanto, essa aparente “liberdade sexual” não torna as pessoas mais “livres”, pois ainda há bastante repressão e preconceito sobre o assunto. Além disso, as regras de como devemos nos comportar sexualmente prevalecem em todos os discursos, o que se torna uma questão velada de repressão. O jovem do século XXI é visto como livre, bem informado, “antenado” com os acontecimentos, mas as pesquisas mostram que, quando o assunto é sexo, há muitas dúvidas e conflitos. Desde dúvidas específicas sobre questões biológicas, como as doenças sexualmente transmissíveis, até conflitos sobre os valores e as atitudes que devem tomar em determinadas situações. Apesar de iniciarem a vida sexual mais cedo, os jovens não têm informações e orientações suficientes. A mídia, salvo exceções, contribui para a desinformação sobre sexo e a deturpação de valores. A superbanalização de assuntos relacionados à sexualidade e das relações afetivas gera dúvidas e atitudes precipitadas. Isso pode levar muitos jovens a se relacionarem de forma conflituosa com os outros e também com a própria sexualidade. Enfim, hoje existe uma aparente liberdade sexual. Ao mesmo tempo em que as pessoas são, em comparação a anos anteriores, mais livres para fazer escolhas no campo afetivo e sexual, ainda há muita cobrança por parte da sociedade, e essa cobrança acaba sendo internalizada; assim, as pessoas acabam assumindo comportamentos e valores adotados pela maioria.
Disponível em: www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/ sexualidade, baseado nos estudos de Ana Cláudia Bertolozzi Maia. [Adaptado]
“A sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação, na literatura e artes” (1º parágrafo). Acerca do período acima, é possível afirmar que:
Q1183908
Português
Projetos e Ações: Papo de Responsa
O Programa Papo de Responsa foi criado por policiais civis do Rio de Janeiro. Em 2013, a Polícia Civil do Espírito Santo, por meio de policiais da Academia de Polícia (Acadepol) capixaba, conheceu o programa e, em parceria com a polícia carioca, trouxe para o Estado. O ‘Papo de Responsa’ é um programa de educação não formal que – por meio da palavra e de atividades lúdicas – discute temas diversos como prevenção ao uso de drogas e a crimes na internet, bullying, direitos humanos, cultura da paz e segurança pública, aproximando os policiais da comunidade e, principalmente, dos adolescentes. projeto funciona em três etapas e as temáticas são repassadas pelo órgão que convida o Papo de Responsa, como escolas, igrejas e associações, dependendo da demanda da comunidade. No primeiro ciclo, denominado de “Papo é um Papo”, a equipe introduz o tema e inicia o processo de aproximação com os alunos. Já na segunda etapa, os alunos são os protagonistas e produzem materiais, como músicas, poesias, vídeos e colagens de fotos, mostrando a percepção deles sobre a problemática abordada. No último processo, o “Papo no Chão”, os alunos e os policiais civis formam uma roda de conversa no chão e trocam ideias relacionadas a frases, questões e músicas direcionadas sempre no tema proposto pela instituição. Por fim, acontece um bate-papo com familiares dos alunos, para que os policiais entendam a percepção deles e também como os adolescentes reagiram diante das novas informações.
Disponível em <https://pc.es.gov.br/projetos-e-acoes>. Acesso em: 30/ jan./2019.
Em “[…] acontece um bate-papo com familiares dos alunos, para que os policiais entendam a percepção deles [...]”, a expressão em destaque pode ser substituída corretamente, sem que haja alteração semântica ou sintática, por
O Programa Papo de Responsa foi criado por policiais civis do Rio de Janeiro. Em 2013, a Polícia Civil do Espírito Santo, por meio de policiais da Academia de Polícia (Acadepol) capixaba, conheceu o programa e, em parceria com a polícia carioca, trouxe para o Estado. O ‘Papo de Responsa’ é um programa de educação não formal que – por meio da palavra e de atividades lúdicas – discute temas diversos como prevenção ao uso de drogas e a crimes na internet, bullying, direitos humanos, cultura da paz e segurança pública, aproximando os policiais da comunidade e, principalmente, dos adolescentes. projeto funciona em três etapas e as temáticas são repassadas pelo órgão que convida o Papo de Responsa, como escolas, igrejas e associações, dependendo da demanda da comunidade. No primeiro ciclo, denominado de “Papo é um Papo”, a equipe introduz o tema e inicia o processo de aproximação com os alunos. Já na segunda etapa, os alunos são os protagonistas e produzem materiais, como músicas, poesias, vídeos e colagens de fotos, mostrando a percepção deles sobre a problemática abordada. No último processo, o “Papo no Chão”, os alunos e os policiais civis formam uma roda de conversa no chão e trocam ideias relacionadas a frases, questões e músicas direcionadas sempre no tema proposto pela instituição. Por fim, acontece um bate-papo com familiares dos alunos, para que os policiais entendam a percepção deles e também como os adolescentes reagiram diante das novas informações.
Disponível em <https://pc.es.gov.br/projetos-e-acoes>. Acesso em: 30/ jan./2019.
Em “[…] acontece um bate-papo com familiares dos alunos, para que os policiais entendam a percepção deles [...]”, a expressão em destaque pode ser substituída corretamente, sem que haja alteração semântica ou sintática, por
Q1183394
Português
De princípio a interessou o nome da aeronave: não “zepelim” nem dirigível; o grande fuso de metal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente, amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de voo. Assim, aos olhos da menina, o blimp1 existia como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, librando-se2 majestosamente pouco abaixo das nuvens. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que pudesse alguém andar dentro dele. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando, mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade. O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível
começou de maneira puramente ocasional. Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como um frade no seu convento – sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho ao oitão da casa, sacudindo um pano, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente entrando e saindo; e pensara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as e, se algumas erguiam os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogando pelo céu. Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma bandeira; decerto era bonita – o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo. Seu coração atirou-se para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou: “Amigo!, amigo!” – embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ouvir-se nada. Gostaria de lhe atirar uma flor, um mimo. Mas que podia haver dentro de um dirigível da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão. E foi aquela caneca que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada, num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado) 1. blimp: dirigível 2. librando-se: flutuando, equilibrando-se 3. vogando: flutuando
Assinale a alternativa em que o termo entre parênteses apresenta sentido oposto ao termo destacado no trecho do texto.
(Os cem melhores contos brasileiros do século. Org. Italo Moriconi – Objetiva, 2001. Adaptado) 1. blimp: dirigível 2. librando-se: flutuando, equilibrando-se 3. vogando: flutuando
Assinale a alternativa em que o termo entre parênteses apresenta sentido oposto ao termo destacado no trecho do texto.
Q1183301
Português
Texto para responder a questão abaixo.
O verbo for
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas (…) O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês, e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito ruibarbosianamente quando possível, com citações decoradas, preferivelmente (…) Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma certa vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
- Esse “for” aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
- Verbo for. - Verbo o quê? - Verbo for. - Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo. - Eu fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele impávido. – Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
(João Ubaldo Ribeiro. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 23/09/1998.)
No texto, é proposta ao candidato questão que exige que se estabeleça distinção morfológica relacionada à palavra “for”. Dentre as ocorrências de tal vocábulo a seguir, assinale o que se DIFERENCIA dos demais em relação ao sentido produzido.
O verbo for
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas (…) O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês, e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito ruibarbosianamente quando possível, com citações decoradas, preferivelmente (…) Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma certa vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
- Esse “for” aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
- Verbo for. - Verbo o quê? - Verbo for. - Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo. - Eu fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele impávido. – Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
(João Ubaldo Ribeiro. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 23/09/1998.)
No texto, é proposta ao candidato questão que exige que se estabeleça distinção morfológica relacionada à palavra “for”. Dentre as ocorrências de tal vocábulo a seguir, assinale o que se DIFERENCIA dos demais em relação ao sentido produzido.
Q1183208
Português
O que é, mesmo, respeito?
Um processo judicial chamou a atenção do país, provocando boa dose de polêmica. Um juiz de Niterói, Rio de Janeiro, descontente com a forma pela qual era tratado pelos empregados do seu condomínio, entrou na Justiça com uma ação em que exigia ser chamado de “senhor” ou “doutor”. E, de fato, obteve uma liminar que reconhecia sua queixa como procedente.
Não se trata de caso único. Muitas pessoas têm queixas similares: não gostam do “você” ou do “meu bem”, formas de tratamento de uso cada vez mais disseminado no Brasil. O que, aliás, corresponde a uma mudança cultural. Num país que, durante a maior parte de sua história, admitiu a escravidão como fato normal e considerou indígenas criaturas inferiores (no período colonial discutia-se se os índios tinham alma), o servilismo era a regra. Escravos, empregados e até os filhos tinham de se dirigir aos donos da casa chamando-os de “senhor” ou “de senhora”. Aliás, e como a gente vê nas novelas de época, era este também o tratamento entre marido e mulher. “Doutor” era um título honorífico, sobretudo porque poucos concluíam a universidade: o analfabetismo era a regra. Até mesmo o coloquial “você” tem origem reverente: é a forma simplificada de vossa mercê – e quando se diz que uma pessoa está à mercê de alguém, estamos, inevitavelmente, falando de submissão. Quanto ao “tu”, só podia ser usado em relações íntimas; “tutear”, tratar alguém por tu, sempre foi sinônimo de grosseria. Notem que o inglês simplifica tudo isso com o “you”, que pode ser usado para qualquer um, desde o amigo até o presidente.
As formas de tratamento mudaram no Brasil. E mudaram por razões práticas, mudaram porque se alterou a conjuntura social e cultural: doutores não nos faltam, e aqueles que têm doutorado já começam a questionar o uso do título por simples graduados em universidades. Mas as coisas mudaram, sobretudo, porque o país ficou mais democrático, mais igualitário. O juiz de Niterói tem direito a um tratamento respeitoso; aliás, qualquer pessoa tem direito a isso. A pergunta é se “doutor”, por exemplo, significa respeito. Talvez respeito seja uma coisa mais profunda, um tipo de relacionamento em que os direitos do outro, não importando a posição social desse outro, sejam reconhecidos. A melhor forma de respeito não é aquela imposta de cima para baixo, de dentro para fora, aquela que implica uma postura reverente, servil; a melhor forma de respeito é aquela que nasce de uma convicção interna, de uma forma madura de consciência: respeitamos o conhecimento, a competência, a dedicação, o valor pessoal de alguém. Quando essa motivação não existe, o tratamento pode ser até reverente, mas ocultará revolta ou deboche. “Sim, senhor” pode traduzir humildade, mas pode também ser a expressão de uma latente hostilidade.
O verdadeiro respeito nasce da democracia, nasce da igualdade. No verdadeiro respeito o clássico “Você sabe com quem está falando?” deixa de existir, como deixa de existir o carteiraço. Quando chegamos a um clima de verdadeiro respeito, a questão das formas de tratamento torna-se secundária e tão antiga como a expressão vossa mercê.
(SCLIAR, Moacyr. Do jeito que nós vivemos – Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.)
De acordo com a construção de sentido estabelecida no contexto apresentado, é possível identificar como INCORRETO o significado atribuído ao termo destacado em:
Um processo judicial chamou a atenção do país, provocando boa dose de polêmica. Um juiz de Niterói, Rio de Janeiro, descontente com a forma pela qual era tratado pelos empregados do seu condomínio, entrou na Justiça com uma ação em que exigia ser chamado de “senhor” ou “doutor”. E, de fato, obteve uma liminar que reconhecia sua queixa como procedente.
Não se trata de caso único. Muitas pessoas têm queixas similares: não gostam do “você” ou do “meu bem”, formas de tratamento de uso cada vez mais disseminado no Brasil. O que, aliás, corresponde a uma mudança cultural. Num país que, durante a maior parte de sua história, admitiu a escravidão como fato normal e considerou indígenas criaturas inferiores (no período colonial discutia-se se os índios tinham alma), o servilismo era a regra. Escravos, empregados e até os filhos tinham de se dirigir aos donos da casa chamando-os de “senhor” ou “de senhora”. Aliás, e como a gente vê nas novelas de época, era este também o tratamento entre marido e mulher. “Doutor” era um título honorífico, sobretudo porque poucos concluíam a universidade: o analfabetismo era a regra. Até mesmo o coloquial “você” tem origem reverente: é a forma simplificada de vossa mercê – e quando se diz que uma pessoa está à mercê de alguém, estamos, inevitavelmente, falando de submissão. Quanto ao “tu”, só podia ser usado em relações íntimas; “tutear”, tratar alguém por tu, sempre foi sinônimo de grosseria. Notem que o inglês simplifica tudo isso com o “you”, que pode ser usado para qualquer um, desde o amigo até o presidente.
As formas de tratamento mudaram no Brasil. E mudaram por razões práticas, mudaram porque se alterou a conjuntura social e cultural: doutores não nos faltam, e aqueles que têm doutorado já começam a questionar o uso do título por simples graduados em universidades. Mas as coisas mudaram, sobretudo, porque o país ficou mais democrático, mais igualitário. O juiz de Niterói tem direito a um tratamento respeitoso; aliás, qualquer pessoa tem direito a isso. A pergunta é se “doutor”, por exemplo, significa respeito. Talvez respeito seja uma coisa mais profunda, um tipo de relacionamento em que os direitos do outro, não importando a posição social desse outro, sejam reconhecidos. A melhor forma de respeito não é aquela imposta de cima para baixo, de dentro para fora, aquela que implica uma postura reverente, servil; a melhor forma de respeito é aquela que nasce de uma convicção interna, de uma forma madura de consciência: respeitamos o conhecimento, a competência, a dedicação, o valor pessoal de alguém. Quando essa motivação não existe, o tratamento pode ser até reverente, mas ocultará revolta ou deboche. “Sim, senhor” pode traduzir humildade, mas pode também ser a expressão de uma latente hostilidade.
O verdadeiro respeito nasce da democracia, nasce da igualdade. No verdadeiro respeito o clássico “Você sabe com quem está falando?” deixa de existir, como deixa de existir o carteiraço. Quando chegamos a um clima de verdadeiro respeito, a questão das formas de tratamento torna-se secundária e tão antiga como a expressão vossa mercê.
(SCLIAR, Moacyr. Do jeito que nós vivemos – Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007.)
De acordo com a construção de sentido estabelecida no contexto apresentado, é possível identificar como INCORRETO o significado atribuído ao termo destacado em:
Q1183159
Português
Há vida fora da Terra?
1º Em 15 de agosto de 1977, um radiotelescópio do Instituto Seti (“Busca por Inteligência Extraterrestre”, na sigla em inglês), nos EUA, captou uma mensagem estranha. Foi um sinal de rádio que durou apenas 72 segundos, só que muito mais intenso que os ruídos comuns vindos do Cosmo. Ao analisar as impressões em papel feitas pelo aparelho, o cientista Jerry Ehman tomou um susto. O sistema captara um sinal 30 vezes mais forte que o normal. Seria alguma civilização tentando fazer contato? Ehman ficou tão impressionado que circulou os dados do computador e escreveu ao lado: “Wow!”. O caso ficou conhecido como Wow signal (sinal “uau”!), e até hoje é o episódio mais marcante na busca por inteligência extraterrestre. O Seti e outras instituições tentaram detectar o sinal várias vezes depois, mas ele nunca foi encontrado.
2º Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam que o contato com extraterrestres é mera questão de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10 (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer contato com ETs em meados deste século é 8”, acredita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York. Esse otimismo tem justificativa. “Pelo menos 25% das estrelas têm planetas. E, dessas estrelas, pelo menos a metade tem planetas semelhantes à Terra”, explica o físico Marcelo Gleiser. Isso significa que, na nossa galáxia, podem existir até 10 bilhões de planetas parecidos com o nosso. Uma quantidade imensa. Ou seja: pela lei das probabilidades, é muito possível que haja civilizações alienígenas. O satélite Kepler, da Nasa, já catalogou 2740 planetas parecidos com a Terra, onde água líquida e vida talvez possam existir. Um dos mais “próximos” é o Kepler 42d, a 126 anos-luz do Sol (um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros).
3º Kaku acredita que, para civilizações muito avançadas, essa distância não seria um problema – pois elas poderiam manipular o espaço-tempo e utilizar portais no Cosmos, como nos filmes de ficção científica. Ok, mas então por que até hoje esse pessoal não veio aqui? “Se são mesmo tão avançados, talvez não estejam interessados em nós”, opina Kaku. “É como a gente ir a um formigueiro e dizer às formigas: ‘Levem-nos a seu líder!’.” Para outros cientistas, contudo, a existência de civilizações avançadas é mera especulação. E explicar por que elas não colonizaram a Terra já é querer dar uma de psicólogo de aliens.
4º Tudo bem que existem bilhões de terras por aí. E que a probabilidade de existir vida lá fora é muito grande. Mas não significa que seja vida inteligente. “Você pode ter um planeta cheio de vida, mas formada por amebas e outros seres unicelulares”, acredita Gleiser. Afinal, com a Terra foi assim. A vida aqui existe há cerca de 3,5 bilhões de anos. Mas durante quase todo esse tempo (3 bilhões de anos), só havia seres unicelulares: as cianobactérias, também chamadas de algas verdes e azuis.
5º Além disso, não basta o tempo passar para que as formas de vida se tornem complexas e inteligentes. A função essencial da vida é se adaptar bem ao ambiente onde ela está. A vida só muda – na esteira de alguma mutação genética – se uma mudança ambiental exigir que ela mude. Assim, se o ambiente não mudar e a vida estiver bem adaptada, as mutações genéticas que, em geral, aparecem ao longo de gerações não vão fazer diferença. Tudo depende da história de cada planeta. Se o asteroide que matou os dinossauros há 65 milhões de anos não tivesse caído aqui na Terra, e os dinossauros não tivessem sido extintos, não estaríamos aqui.
6º “Não temos nenhuma prova ou argumento forte sobre a existência de vida inteligente fora da Terra”, diz Gleiser. “Existe vida? Certamente. Mas como não entendemos bem como a evolução varia de planeta para planeta, é muito difícil prever ou responder se existe ou não vida inteligente fora daqui”, completa. “Se existe, a vida inteligente fora da Terra é muito rara.” Decepcionante.
7º Mas antes de lamentar a solidão da humanidade no Cosmos, saiba que ela pode ser uma boa notícia. Porque, se aliens inteligentes realmente existirem, não serão necessariamente bondosos. “Se eles algum dia nos visitarem, acho que o resultado será o mesmo que quando Cristóvão Colombo chegou à América. Não foi bom para os índios nativos”, afirmou, certa vez, o físico Stephen Hawking.
Disponível em:> http://super.abril.com.br/ciencia/ha-vida-fora-da-terra-2/>. Acesso em: 7 jul. 2017. [Adaptado]
Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam que o contato com extraterrestres é mera questão de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10 (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer contato com ETs em meados deste século é 8”, acredita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York.
O vocábulo mera, sem perda de seu sentido no texto, pode ser substituído por
1º Em 15 de agosto de 1977, um radiotelescópio do Instituto Seti (“Busca por Inteligência Extraterrestre”, na sigla em inglês), nos EUA, captou uma mensagem estranha. Foi um sinal de rádio que durou apenas 72 segundos, só que muito mais intenso que os ruídos comuns vindos do Cosmo. Ao analisar as impressões em papel feitas pelo aparelho, o cientista Jerry Ehman tomou um susto. O sistema captara um sinal 30 vezes mais forte que o normal. Seria alguma civilização tentando fazer contato? Ehman ficou tão impressionado que circulou os dados do computador e escreveu ao lado: “Wow!”. O caso ficou conhecido como Wow signal (sinal “uau”!), e até hoje é o episódio mais marcante na busca por inteligência extraterrestre. O Seti e outras instituições tentaram detectar o sinal várias vezes depois, mas ele nunca foi encontrado.
2º Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam que o contato com extraterrestres é mera questão de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10 (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer contato com ETs em meados deste século é 8”, acredita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York. Esse otimismo tem justificativa. “Pelo menos 25% das estrelas têm planetas. E, dessas estrelas, pelo menos a metade tem planetas semelhantes à Terra”, explica o físico Marcelo Gleiser. Isso significa que, na nossa galáxia, podem existir até 10 bilhões de planetas parecidos com o nosso. Uma quantidade imensa. Ou seja: pela lei das probabilidades, é muito possível que haja civilizações alienígenas. O satélite Kepler, da Nasa, já catalogou 2740 planetas parecidos com a Terra, onde água líquida e vida talvez possam existir. Um dos mais “próximos” é o Kepler 42d, a 126 anos-luz do Sol (um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros).
3º Kaku acredita que, para civilizações muito avançadas, essa distância não seria um problema – pois elas poderiam manipular o espaço-tempo e utilizar portais no Cosmos, como nos filmes de ficção científica. Ok, mas então por que até hoje esse pessoal não veio aqui? “Se são mesmo tão avançados, talvez não estejam interessados em nós”, opina Kaku. “É como a gente ir a um formigueiro e dizer às formigas: ‘Levem-nos a seu líder!’.” Para outros cientistas, contudo, a existência de civilizações avançadas é mera especulação. E explicar por que elas não colonizaram a Terra já é querer dar uma de psicólogo de aliens.
4º Tudo bem que existem bilhões de terras por aí. E que a probabilidade de existir vida lá fora é muito grande. Mas não significa que seja vida inteligente. “Você pode ter um planeta cheio de vida, mas formada por amebas e outros seres unicelulares”, acredita Gleiser. Afinal, com a Terra foi assim. A vida aqui existe há cerca de 3,5 bilhões de anos. Mas durante quase todo esse tempo (3 bilhões de anos), só havia seres unicelulares: as cianobactérias, também chamadas de algas verdes e azuis.
5º Além disso, não basta o tempo passar para que as formas de vida se tornem complexas e inteligentes. A função essencial da vida é se adaptar bem ao ambiente onde ela está. A vida só muda – na esteira de alguma mutação genética – se uma mudança ambiental exigir que ela mude. Assim, se o ambiente não mudar e a vida estiver bem adaptada, as mutações genéticas que, em geral, aparecem ao longo de gerações não vão fazer diferença. Tudo depende da história de cada planeta. Se o asteroide que matou os dinossauros há 65 milhões de anos não tivesse caído aqui na Terra, e os dinossauros não tivessem sido extintos, não estaríamos aqui.
6º “Não temos nenhuma prova ou argumento forte sobre a existência de vida inteligente fora da Terra”, diz Gleiser. “Existe vida? Certamente. Mas como não entendemos bem como a evolução varia de planeta para planeta, é muito difícil prever ou responder se existe ou não vida inteligente fora daqui”, completa. “Se existe, a vida inteligente fora da Terra é muito rara.” Decepcionante.
7º Mas antes de lamentar a solidão da humanidade no Cosmos, saiba que ela pode ser uma boa notícia. Porque, se aliens inteligentes realmente existirem, não serão necessariamente bondosos. “Se eles algum dia nos visitarem, acho que o resultado será o mesmo que quando Cristóvão Colombo chegou à América. Não foi bom para os índios nativos”, afirmou, certa vez, o físico Stephen Hawking.
Disponível em:> http://super.abril.com.br/ciencia/ha-vida-fora-da-terra-2/>. Acesso em: 7 jul. 2017. [Adaptado]
Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam que o contato com extraterrestres é mera questão de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10 (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer contato com ETs em meados deste século é 8”, acredita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York.
O vocábulo mera, sem perda de seu sentido no texto, pode ser substituído por
Q1182994
Português
Compartilhando mentiras
De vez em quando, nas redes sociais, a gente se pega compartilhando notícias falsas, fotos modificadas, boatos de todo tipo. Hoje mesmo eu estava compartilhando uma notícia que me espantou: na China havia sido descoberto um operário que estava soterrado numa mina há quase 20 anos, depois de ser dado como morto. Quando eu estava pronto para passar a notícia adiante, veio o desmentido: era notícia criada por um desses websites de “jornalismo ficcional” (se o termo não existe, fica inventado agora).
Quando vemos uma coisa espantosa, inacreditável, edificante, animadora, queremos compartilhar aquilo para faturar uma porcentagenzinha da glória da descoberta. Quando algo nos revolta, nos causa indignação, queremos compartilhar para ver se contribuímos para acabar com aquela pouca vergonha, combater aquela injustiça etc. E mesmo que tudo continue como está, pelo menos mostramos a todos que somos gente boa. E a vida segue.
O problema é quando a matéria é falsa. E, pior ainda, se é uma matéria falsa que não foi criada por motivos humorísticos ou literários (sim, considero o “jornalismo ficcional” uma interessante forma de literatura), mas para prejudicar a imagem de algum partido ou de algum político, não importa de que posição ou tendência. Inventa‐se uma arbitrariedade ou falcatrua, joga‐se nas redes sociais e aguarda‐se o resultado.
Neste caso, a multiplicação da notícia falsa (que está sempre sujeita a ser denunciada juridicamente como injúria, calúnia ou difamação) se dá em várias direções. Tem a pessoa que se horroriza com o “fato” noticiado e quer que todo mundo tome consciência daquilo; é a turma “Acorda, Brasil!”. Tem a pessoa que, quando percebe que comeu gato por lebre, vai lá rapidinho e retira a postagem, mas geralmente o estrago já foi feito, a mentira foi passada adiante. Tem pessoa que acaba sabendo que a história era falsa, mas, como desejaria que fosse verdadeira (porque é politicamente contra o partido ou a pessoa envolvida) “se faz de doida” e deixa a postagem rendendo compartilhamentos até não poder mais, quando vai lá, se corrige e pede uma desculpazinha esfarrapada.
Antes de curtir, comentar ou compartilhar procuro checar as fontes, ir nos links originais. E se for um vírus? Bem, procuro nunca ser o primeiro. Inúmeras vezes evitei clicar num link com algo interessante e, duas horas depois, vi as denúncias pipocando: “Peguei um vírus!”. É como em guerra de videogame: a melhor maneira de saber se um terreno está minado é deixar que os outros vão na frente. Para que pressa?
(Braulio Tavares. Carta Fundamental, setembro de 2014. Adaptado.)
Em “Quando vemos uma coisa espantosa, inacreditável, edificante, animadora, queremos compartilhar aquilo para faturar uma porcentagenzinha da glória da descoberta.” (2º§), a expressão destacada denota uma ideia de:
De vez em quando, nas redes sociais, a gente se pega compartilhando notícias falsas, fotos modificadas, boatos de todo tipo. Hoje mesmo eu estava compartilhando uma notícia que me espantou: na China havia sido descoberto um operário que estava soterrado numa mina há quase 20 anos, depois de ser dado como morto. Quando eu estava pronto para passar a notícia adiante, veio o desmentido: era notícia criada por um desses websites de “jornalismo ficcional” (se o termo não existe, fica inventado agora).
Quando vemos uma coisa espantosa, inacreditável, edificante, animadora, queremos compartilhar aquilo para faturar uma porcentagenzinha da glória da descoberta. Quando algo nos revolta, nos causa indignação, queremos compartilhar para ver se contribuímos para acabar com aquela pouca vergonha, combater aquela injustiça etc. E mesmo que tudo continue como está, pelo menos mostramos a todos que somos gente boa. E a vida segue.
O problema é quando a matéria é falsa. E, pior ainda, se é uma matéria falsa que não foi criada por motivos humorísticos ou literários (sim, considero o “jornalismo ficcional” uma interessante forma de literatura), mas para prejudicar a imagem de algum partido ou de algum político, não importa de que posição ou tendência. Inventa‐se uma arbitrariedade ou falcatrua, joga‐se nas redes sociais e aguarda‐se o resultado.
Neste caso, a multiplicação da notícia falsa (que está sempre sujeita a ser denunciada juridicamente como injúria, calúnia ou difamação) se dá em várias direções. Tem a pessoa que se horroriza com o “fato” noticiado e quer que todo mundo tome consciência daquilo; é a turma “Acorda, Brasil!”. Tem a pessoa que, quando percebe que comeu gato por lebre, vai lá rapidinho e retira a postagem, mas geralmente o estrago já foi feito, a mentira foi passada adiante. Tem pessoa que acaba sabendo que a história era falsa, mas, como desejaria que fosse verdadeira (porque é politicamente contra o partido ou a pessoa envolvida) “se faz de doida” e deixa a postagem rendendo compartilhamentos até não poder mais, quando vai lá, se corrige e pede uma desculpazinha esfarrapada.
Antes de curtir, comentar ou compartilhar procuro checar as fontes, ir nos links originais. E se for um vírus? Bem, procuro nunca ser o primeiro. Inúmeras vezes evitei clicar num link com algo interessante e, duas horas depois, vi as denúncias pipocando: “Peguei um vírus!”. É como em guerra de videogame: a melhor maneira de saber se um terreno está minado é deixar que os outros vão na frente. Para que pressa?
(Braulio Tavares. Carta Fundamental, setembro de 2014. Adaptado.)
Em “Quando vemos uma coisa espantosa, inacreditável, edificante, animadora, queremos compartilhar aquilo para faturar uma porcentagenzinha da glória da descoberta.” (2º§), a expressão destacada denota uma ideia de:
Q1182790
Português
História de bem-te-vi
Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa de jardim zoológico; e outras até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore. Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.
Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e “querejuás todos azuis de cor finíssima...”. Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é leitura...
Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
E é pena, pois com esse nome que tem – e que é a sua própria voz – devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.
O que leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: “...te-vi! ...te-vi”, com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras, achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão – como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? – animou-se a uma audácia maior. Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: “...vi! ...vi!...” o que me pareceu divertido, nesta era do twist.
O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol – que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam o leme dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.
Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar. E cantava assim: “Bem-bem-bem...te –vi !” Pensei: “É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!...” Depois, o passarinho mudou. E fez: “Bem-te-te-te...vi!” Tornei a refletir: “Deve estar estudando a sua cartilha... Estará soletrando...” E o passarinho: “Bem-bem-bem...te-te-te... vi-vi-vi!”
Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: “Que engraçado! Um bem-te-vi gago!”
(É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...)
(MEIRELES, Cecília. 1901-1964 – Escolha o seu sonho: (crônicas) – 26ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2005.)
“É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...” (10º§) O sinônimo da palavra sublinhada na frase anterior é
Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa de jardim zoológico; e outras até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore. Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.
Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e “querejuás todos azuis de cor finíssima...”. Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é leitura...
Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
E é pena, pois com esse nome que tem – e que é a sua própria voz – devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.
O que leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: “...te-vi! ...te-vi”, com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras, achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão – como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? – animou-se a uma audácia maior. Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: “...vi! ...vi!...” o que me pareceu divertido, nesta era do twist.
O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol – que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam o leme dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.
Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar. E cantava assim: “Bem-bem-bem...te –vi !” Pensei: “É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!...” Depois, o passarinho mudou. E fez: “Bem-te-te-te...vi!” Tornei a refletir: “Deve estar estudando a sua cartilha... Estará soletrando...” E o passarinho: “Bem-bem-bem...te-te-te... vi-vi-vi!”
Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: “Que engraçado! Um bem-te-vi gago!”
(É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...)
(MEIRELES, Cecília. 1901-1964 – Escolha o seu sonho: (crônicas) – 26ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2005.)
“É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira...” (10º§) O sinônimo da palavra sublinhada na frase anterior é
Q1182458
Português
Surpresa: venda de livros impressos supera a de e-books
Não é incomum ainda se ouvir que a tendência do mercado editorial é que os livros digitais superem e, em um futuro não muito distante, até substituam os impressos. As expectativas não parecem se confirmar na prática. Segundo pesquisa do Financial Times, as vendas de livros em papel têm crescido e superado a de e-books, especialmente entre os jovens, e a previsão é de que continue assim. Uma agradável notícia para aqueles leitores que gostam de ter às mãos suas obras preferidas, para tocá-las, cheirá-las e marcá-las à vontade. De acordo com Paul Lee, analista da empresa editorial Deloitte: “Jornais impressos são resistentes entre aqueles que cresceram com jornais impressos. Livros impressos são resistentes entre todas as idades”. Por que será? Apesar das vantagens de ter um leitor de ebook, como o peso, o espaço de armazenamento e a praticidade, os leitores continuam apegados à versão física do livro. Os motivos parecem ser de ordem emocional, e nem tanto racional. A capa, a diagramação, o irresistível cheiro de livro novo, a facilidade de manipulação e de troca entre leitores, conquistam mesmo as novas gerações, imersas na tecnologia desde cedo. A verdade é que não precisa haver competição tão acirrada entre livros digitais e impressos. Ambos possuem suas vantagens e desvantagens. Não é preciso abandonar completamente os manuscritos para aderir ao mundo literário digital, nem é preciso ser tão inflexível em relação à nova possibilidade de leitura. Por que não aproveitar os benefícios de ambos os tipos? A literatura só tem a ganhar com a variedade. E o leitortambém.
Nicole Ayres Luz. Disponível em homoliteratus.com/surpresa- venda-de-livros-impressos-supera-de-ebooks. Acesso em 2/1/16
Pela leitura do texto percebe-se que no trecho “Jornais impressos são resistentes entre AQUELES que cresceram com jornais impressos.”, a palavra destacada remete a:
Não é incomum ainda se ouvir que a tendência do mercado editorial é que os livros digitais superem e, em um futuro não muito distante, até substituam os impressos. As expectativas não parecem se confirmar na prática. Segundo pesquisa do Financial Times, as vendas de livros em papel têm crescido e superado a de e-books, especialmente entre os jovens, e a previsão é de que continue assim. Uma agradável notícia para aqueles leitores que gostam de ter às mãos suas obras preferidas, para tocá-las, cheirá-las e marcá-las à vontade. De acordo com Paul Lee, analista da empresa editorial Deloitte: “Jornais impressos são resistentes entre aqueles que cresceram com jornais impressos. Livros impressos são resistentes entre todas as idades”. Por que será? Apesar das vantagens de ter um leitor de ebook, como o peso, o espaço de armazenamento e a praticidade, os leitores continuam apegados à versão física do livro. Os motivos parecem ser de ordem emocional, e nem tanto racional. A capa, a diagramação, o irresistível cheiro de livro novo, a facilidade de manipulação e de troca entre leitores, conquistam mesmo as novas gerações, imersas na tecnologia desde cedo. A verdade é que não precisa haver competição tão acirrada entre livros digitais e impressos. Ambos possuem suas vantagens e desvantagens. Não é preciso abandonar completamente os manuscritos para aderir ao mundo literário digital, nem é preciso ser tão inflexível em relação à nova possibilidade de leitura. Por que não aproveitar os benefícios de ambos os tipos? A literatura só tem a ganhar com a variedade. E o leitortambém.
Nicole Ayres Luz. Disponível em homoliteratus.com/surpresa- venda-de-livros-impressos-supera-de-ebooks. Acesso em 2/1/16
Pela leitura do texto percebe-se que no trecho “Jornais impressos são resistentes entre AQUELES que cresceram com jornais impressos.”, a palavra destacada remete a:
Q1182282
Português
No trecho “... atividades que não requerem do educando uma
abertura para o outro, para um interlocutor, podem estar fadadas ao insucesso profissional.”, o termo destacado tem o
sentido de: