Desafios no caminho de uma escola para todos
Escolhi o termo desafio como parte do título porque seu
significado etimológico indica bem o que quero comentar. Ele
vem do latim disfidare ou renunciar à própria fé (dis =
afastamento e fides = fé). Na prática, significa aceitar concorrer
novamente, mesmo imaginando-se vencedor. Isso acontece,
por exemplo, quando se promulgam leis, aceitando-se os
obstáculos de sua aplicação. Penso ser esse o caso ao
assumirmos que a escola é para todos, quando historicamente
ela se destinava à elite de alunos que aprendia e se
comportava conforme suas exigências, isto é, quando era para
poucos. As políticas públicas, mesmo se pretensamente
resolveram o acesso à Educação, não sanaram duas questões
primordiais: a aprendizagem e a convivência. Faço uma
reflexão sobre alguns desafios para que a escola de hoje
cumpra esses propósitos.
Um dos maiores parece ser o de adaptar o currículo do
Ensino Fundamental para período integral. Essa mudança
supõe rever a quantidade de conteúdos a aprender, criar
contraturnos, usar tutorias, diminuir a relação entre o
número de alunos e o professor, investir nas séries iniciais,
melhorar as condições de trabalho docente. Essas são
apenas algumas estratégias entre tantas experimentadas no
enfrentamento de um grande problema: a defasagem
idade-série.
Ao abrir-se para os “mais fracos”, quando antes era
privilégio dos “mais fortes”, a escola deve compartilhar com
a família a complexidade da Educação das crianças e dos
jovens. Compartilhar significa cooperar fazendo a parte que
lhe cabe, sabendo que as outras partes sempre serão da
família e de outros agentes sociais ou culturais.
Em uma sociedade orientada por descobertas científicas,
reconhecer a importância da tecnologia se torna uma
necessidade básica. Mas para não virar refém, as questões o
quê, quanto, quando, como e por quê?, relacionadas ao uso
de tablet, celular ou computador na sala de aula, são
essenciais. Sem negar aos estudantes o uso de seu produto
mais complexo e querido, não se pode esquecer que eles
precisam do contato direto com a experiência por meio de um
professor, suas transmissões, as tarefas propostas por ele e
seus modos de ser e de agir.
Observo que os jovens precisam também ser preparados
para uma sociedade global, mas, igualmente, para uma vida
cada vez mais individual, isto é, gerida por escolhas, valores e
responsabilidades assumidas por cada um, ainda que seus
efeitos possam alcançar a todos e ao planeta. Penso que a
escola ainda não aprendeu a ensinar seus alunos a
serem-si-mesmos!
Que ela revise seus hábitos – deixe de ser lugar de
homogeneidade e competição, transformando-se em uma escola da diversidade e da cooperação. Que reconheça que
as diferenças permitem a abertura para uma pluralidade de
valores, costumes, formas de aprendizagem e desenvolvimento.
Antes, Educação correspondia ao que o educador
transmitia aos educandos (educação = educador). Hoje,
trata-se de aprender, o que se aplica tanto a alunos quanto
a professores.
É difícil mudar o olhar, comprometendo-se a trabalhar
o melhor de cada aluno, professor e gestor dentro de suas
possibilidades e necessidades. Para isso, temos de assumir
que todos estão na escola – só falta aprenderem; e todos
estão juntos – só falta saberem conviver.
(Lino de Macedo. Revista Nova Escola. Fevereiro de 2016.
Com
adaptações.)