Leia o texto abaixo e depois responda à questão:
Há cerca de quarenta anos cientistas notaram algo interessante na savana da África. As girafas
comem a folhagem da Acacia tortilis, uma espécie de acácia que não gosta nem um pouco disso. Para se
livrar dos herbívoros, poucos minutos depois de as girafas aparecerem as acácias bombeiam toxinas para
as folhas. As girafas sabem disso e partem para as árvores próximas. Mas não tão próximas: primeiro elas
pulam vários exemplares e só voltam a comer depois de uns 100 metros. O motivo é surpreendente: as
acácias atacadas exalam um gás de alerta (no caso, etileno) que sinaliza às outras ao redor que surgiu um
perigo. Com isso, todos os indivíduos alertados se preparam de antemão e também liberam toxinas. As
girafas conhecem a tática e por isso avançam savana adentro até encontrarem árvores desavisadas. Ou
então trabalham contra o vento, já que é ele que carrega a mensagem aromática, buscando acácias que
ainda não detectaram sua presença.
Isso também acontece em outras florestas. Sejam faias, abetos ou carvalhos, as árvores percebem
os ataques sofridos. Dessa forma, quando uma lagarta morde com vontade, o tecido da folha danificada se
altera e ela envia sinais elétricos, da mesma forma que acontece com o corpo humano. No entanto, esse
impulso não se espalha em milissegundos, como no nosso caso, mas a apenas 1 centímetro por minuto. Por
isso demora até uma hora para que a substância defensiva chegue às folhas e acabe com a refeição da praga.
As árvores não são rápidas, e mesmo em perigo essa parece ser sua velocidade máxima. [...]
A saliva de cada espécie de inseto é única e pode ser tão bem classificada que as árvores são capazes
de emitir substâncias que atraem predadores específicos desses insetos, que atacarão as pragas e em
consequência ajudarão as árvores. Os olmos e pinheiros, por exemplo, apelam a pequenas vespas que
depositam seus ovos no corpo das lagartas que comem folhas. A larva da vespa se desenvolve no interior
da praga, que é devorada pouco a pouco, de dentro para fora. Assim as árvores se livram das pragas
inconvenientes e podem continuar crescendo livremente. A capacidade de identificar a saliva das pragas
comprova outra habilidade das árvores: elas também devem ter uma espécie de paladar.
(WOHLLEBEN, Peter. A vida secreta das árvores. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. pp. 13-15).