Com referência às ideias, aos sentidos e aos aspectos linguí...

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Q1883762 Português
      Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo dirige-se a este porteiro e pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se então não pode entrar mais tarde. “É possível”, diz o porteiro, “mas agora não”. Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta, e o porteiro se põe de lado, o homem se inclina para o interior através da porta. Quando nota isso, o porteiro ri e diz: “Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou apenas o último dos porteiros. De sala para sala, porém, existem mais porteiros, cada um mais poderoso que o outro. O camponês não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele. Ele faz muitas tentativas para ser admitido, e cansa o porteiro com os seus pedidos. O homem, que se havia equipado para a viagem com muitas coisas, lança mão de tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Este aceita tudo. Durante todos esses anos, o homem observa o porteiro quase sem interrupção. Esquece outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos, amaldiçoa em voz alta o acaso infeliz. Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um aceno para que se aproxime. “O que é que você ainda quer saber?”, pergunta o porteiro. “Você é insaciável.” “Todos aspiram à lei”, diz o homem. “Como se explica que, em tantos anos, ninguém além de mim pediu para entrar?” O porteiro percebe que o homem já está no fim e, para ainda alcançar sua audição em declínio, ele berra: “Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a”. 


Franz Kafka. O processo. Tradução de Modesto Carone. Companhia das Letras, 1997 (com adaptações).
Com referência às ideias, aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.
Em ‘Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição’, a expressão ‘apesar da’ está empregada com o mesmo sentido de não obstante a.
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Gabarito: CERTO.

Não obstante é uma locução conjuntiva cujo significado se refere a uma situação de oposição a uma outra ideia apresentada, mas que não impede sua concretização.

Verbo no indicativo → conjunção adversativa.

Verbo no subjuntivo → conjunção concessiva.

Atentem para a locução "não obstante", visto que pode conferir à estrutura dois sentidos: adversativo ou concessivo. Para tanto, é preciso observar o verbo: se for locução subordinativa concessiva, o verbo deve estar no infinitivo, no subjuntivo ou introduzindo adjunto adverbial; se for locução coordenativa adversativa, o verbo deverá estar no modo indicativo.

Leiamos o excerto:

"Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição."

Observe que o verbo principal da locução verbal "tente entrar" está no infinitivo, de modo que a locução "não obstante" só pode estar conferindo à estrutura noção concessiva.

Certo.

Obs.: a estrutura "não obstante" e "não obstante a" encerram idêntico valor. Esse "a" nada mais é do que o artigo definido, que pode ou não ser inserido antes de pronomes possessivos (minha, sua, nossa, etc.)

Não obstante = apesar da

O não obstante pode ser tanto adversativo como concessivo. Análise sempre o contexto para que possa julgar.

"Deixe o suor pelo caminho"

Conjunções Concessivas: ideias opostas, contraste

Ex: embora, ainda que, mesmo que, posto que, por mais que, se bem que, conquanto, dado que, não obstantem, malgrado, nem que, a despeito que

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