Questões de Concurso Para segurança pública

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Q631281 Português

                         O HOMEM QUE CONHECEU O AMOR


Do alto de seus oitenta anos, me disse: “na verdade, fui muito amado.” E dizia isto com tal plenitude como quem dissesse: sempre me trouxeram flores, sempre comi ostras à beira-mar.

Não havia arrogância em sua frase, mas algo entre a humildade e a petulância sagrada. Parecia um pintor, que, olhando o quadro terminado, assina seu nome embaixo. Havia um certo fastio em suas palavras e gestos. Se retirava de um banquete satisfeito. Parecia pronto para morrer, já que sempre estivera pronto para amar.

Se eu fosse rei ou prefeito teria mandado ergue-lhe uma estátua. Mas, do jeito que falava, ele pedia apenas que no seu túmulo eu escrevesse: “aqui jaz um homem que amou e foi muito amado”. E aquele homem me confessou que amava sem nenhuma coerção. Não lhe encostei a faca no peito cobrando algo. Ele que tinha algo a me oferecer. Foi muito diferente daqueles que não confessam seus sentimentos nem mesmo debaixo de um “pau de arara”: estão ali se afogando de paixão, levando choques de amor, mas não se entregam. E, no entanto, basta-lhes a ficha que está tudo lá: traficante ou guerrilheiro do amor.

Uns dizem: casei várias vezes. Outros assinalam: fiz vários filhos. Outro dia li numa revista um conhecido ator dizendo: tive todas as mulheres que quis. Outros ainda, dizem: não posso viver sem fulana (ou fulano). Na Bíblia está que Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó e Jacó gerou as doze tribos de Israel. Mas nenhum deles disse: “Na verdade, fui muito amado”.

Mas quando do alto de seus oitenta anos aquele homem desfechou sobre mim aquela frase, me senti não apenas como o homem que quer ser engenheiro como o pai. Senti-me um garoto de quatro anos, de calças curtas, se dizendo: quando eu crescer quero ser um homem de oitenta anos que diga: “amei muito, na verdade, fui muito amado.” Se não pensasse nisto não seria digno daquela frase que acabava de me ser ofertada. E eu não poderia desperdiçar uma sabedoria que levou 80 anos para se formar. É como se eu não visse o instante que a lagarta se transformara em libélula.

Ouvindo-o, por um instante, suspeitei que a psicanálise havia fracassado; que tudo aquilo que Freud sempre disse, de que o desejo nunca é preenchido, que se o é, o é por frações de segundos, e que a vida é insatisfação e procura, tudo isto era coisa passada. Sim, porque sobre o amor há várias frases inquietantes por aí... Bilac nos dizia salomônico: “eu tenho amado tanto e não conheci o amor”. O Arnaldo Jabor disse outro dia a frase mais retumbante desde “Independência ou morte” ao afirmar: “o amor deixa muito a desejar”. Ataulfo Alves dizia: “eu era feliz e não sabia”.

Frase que se pode atualizar: eu era amado e não sabia. Porque nem todos sabem reconhecer quando são amados. Flores despencam em arco-íris sobre sua cama, um banquete real está sendo servido e, sonolento, olha noutra direção.

Sei que vocês vão me repreender, dizendo: deveria ter nos apresentado o personagem, também o queríamos conhecer, repartir tal acontecimento. E é justa a reprimenda. Porque quando alguém está amando, já nos contamina de jasmins. Temos vontade de dizer, vendo-o passar - ame por mim, já que não pode se deter para me amar a mim. Exatamente como se diz a alguém que esta indo a Europa: por favor, na Itália, coma e beba por mim.

Ver uma pessoa amando é como ler um romance de amor. É como ver um filme de amor. Também se ama por contaminação na tela do instante. A estória é de outro,

mas passa das páginas e telas para a gente.

Todo jardineiro é jardineiro porque não pode ser flor.

Reconhece-se a 50m um desamado, o carente. Mas reconhece-se a 100m o bem amado. Lá vem ele: sua luz nos chega antes de suas roupas e pele. Sinos batem nas dobras de seu ser. Pássaros pousam em seus ombros e frases. Flores estão colorindo o chão em que pisou.

O que ama é um disseminador.

Tocar nele é colher virtudes.

O bem amado dá a impressão de inesgotável. E é o contrário de Átila: por onde passa renascem cidades.

O bem amado é uma usina de luz. Tão necessário à comunidade, que deveria ser declarado um bem de utilidade pública.


SANT’ANNA, Affonso Romano. O homem que conheceu o amor. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O Senhor “Se retirava de um banquete satisfeito” por quê?
Alternativas
Q631279 Português

                         O HOMEM QUE CONHECEU O AMOR


Do alto de seus oitenta anos, me disse: “na verdade, fui muito amado.” E dizia isto com tal plenitude como quem dissesse: sempre me trouxeram flores, sempre comi ostras à beira-mar.

Não havia arrogância em sua frase, mas algo entre a humildade e a petulância sagrada. Parecia um pintor, que, olhando o quadro terminado, assina seu nome embaixo. Havia um certo fastio em suas palavras e gestos. Se retirava de um banquete satisfeito. Parecia pronto para morrer, já que sempre estivera pronto para amar.

Se eu fosse rei ou prefeito teria mandado ergue-lhe uma estátua. Mas, do jeito que falava, ele pedia apenas que no seu túmulo eu escrevesse: “aqui jaz um homem que amou e foi muito amado”. E aquele homem me confessou que amava sem nenhuma coerção. Não lhe encostei a faca no peito cobrando algo. Ele que tinha algo a me oferecer. Foi muito diferente daqueles que não confessam seus sentimentos nem mesmo debaixo de um “pau de arara”: estão ali se afogando de paixão, levando choques de amor, mas não se entregam. E, no entanto, basta-lhes a ficha que está tudo lá: traficante ou guerrilheiro do amor.

Uns dizem: casei várias vezes. Outros assinalam: fiz vários filhos. Outro dia li numa revista um conhecido ator dizendo: tive todas as mulheres que quis. Outros ainda, dizem: não posso viver sem fulana (ou fulano). Na Bíblia está que Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó e Jacó gerou as doze tribos de Israel. Mas nenhum deles disse: “Na verdade, fui muito amado”.

Mas quando do alto de seus oitenta anos aquele homem desfechou sobre mim aquela frase, me senti não apenas como o homem que quer ser engenheiro como o pai. Senti-me um garoto de quatro anos, de calças curtas, se dizendo: quando eu crescer quero ser um homem de oitenta anos que diga: “amei muito, na verdade, fui muito amado.” Se não pensasse nisto não seria digno daquela frase que acabava de me ser ofertada. E eu não poderia desperdiçar uma sabedoria que levou 80 anos para se formar. É como se eu não visse o instante que a lagarta se transformara em libélula.

Ouvindo-o, por um instante, suspeitei que a psicanálise havia fracassado; que tudo aquilo que Freud sempre disse, de que o desejo nunca é preenchido, que se o é, o é por frações de segundos, e que a vida é insatisfação e procura, tudo isto era coisa passada. Sim, porque sobre o amor há várias frases inquietantes por aí... Bilac nos dizia salomônico: “eu tenho amado tanto e não conheci o amor”. O Arnaldo Jabor disse outro dia a frase mais retumbante desde “Independência ou morte” ao afirmar: “o amor deixa muito a desejar”. Ataulfo Alves dizia: “eu era feliz e não sabia”.

Frase que se pode atualizar: eu era amado e não sabia. Porque nem todos sabem reconhecer quando são amados. Flores despencam em arco-íris sobre sua cama, um banquete real está sendo servido e, sonolento, olha noutra direção.

Sei que vocês vão me repreender, dizendo: deveria ter nos apresentado o personagem, também o queríamos conhecer, repartir tal acontecimento. E é justa a reprimenda. Porque quando alguém está amando, já nos contamina de jasmins. Temos vontade de dizer, vendo-o passar - ame por mim, já que não pode se deter para me amar a mim. Exatamente como se diz a alguém que esta indo a Europa: por favor, na Itália, coma e beba por mim.

Ver uma pessoa amando é como ler um romance de amor. É como ver um filme de amor. Também se ama por contaminação na tela do instante. A estória é de outro,

mas passa das páginas e telas para a gente.

Todo jardineiro é jardineiro porque não pode ser flor.

Reconhece-se a 50m um desamado, o carente. Mas reconhece-se a 100m o bem amado. Lá vem ele: sua luz nos chega antes de suas roupas e pele. Sinos batem nas dobras de seu ser. Pássaros pousam em seus ombros e frases. Flores estão colorindo o chão em que pisou.

O que ama é um disseminador.

Tocar nele é colher virtudes.

O bem amado dá a impressão de inesgotável. E é o contrário de Átila: por onde passa renascem cidades.

O bem amado é uma usina de luz. Tão necessário à comunidade, que deveria ser declarado um bem de utilidade pública.


SANT’ANNA, Affonso Romano. O homem que conheceu o amor. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O tema desse texto é o Senhor de 80 anos
Alternativas
Q630588 Odontologia
Todas as afirmações estão corretas, exceto:
Alternativas
Q630587 Odontologia
A lei que regulamenta o exercício das profissões de Técnico em Saúde Bucal(TSB) e Auxiliar em Saúde Bucal(ASB) é:
Alternativas
Q630586 Odontologia

Marque V(verdadeira) ou F(falsa) para as seguintes afirmações e depois relacione corretamente com a resposta certa:

( ) O gesso deve ser manipulado conforme as recomendações do fabricante.

( ) Os moldes não devem ser lavados sob água corrente para eliminar sangue e saliva.

( ) O molde deve ser vazado com pequenas porções de gesso e sob vibração para evitar a inclusão de bolhas de ar.

( ) Existem 3 tipos de godiva usada em odontologia: a leve, a pesada e a fluída.

Alternativas
Q630585 Odontologia
A candidíase ou candidose é causada por:
Alternativas
Q630584 Odontologia
São objetivos da higiene bucal, exceto:
Alternativas
Q630583 Odontologia
Considerando os dentes 16 e 45, assinale a opção corresponde aos seus respectivos quadrantes:
Alternativas
Q630582 Odontologia
São considerados, respectivamente, materiais para cimentação e proteção do complexo dentina polpa:
Alternativas
Q630581 Odontologia

Julgue os itens abaixo e assinale a opção correta:

I- Esterilização é o procedimento responsável pela completa destruição de todas as formas de vida microbiana, incluindo os esporos.

II- Desinfecção é o procedimento pelo qual há eliminação de micro-organismos na forma vegetativa.

III- A desinfecção é realizada em superfícies inanimadas (equipamentos e superfícies).

IV- Após a lavagem do instrumental, ele deve ser acondicionado em embalagens apropriadas de metal com tampa antes de levá-lo para autoclave ou estufa.

Alternativas
Q630580 Odontologia
Assinale a opção correspondente aos Equipamentos de Proteção Individual:
Alternativas
Q630579 Odontologia
O instrumental Hollemback é utilizado em:
Alternativas
Q630578 Ética na Administração Pública

Um servidor público na função de motorista é considerado um bom profissional, desde que respeite todas normas e placas de sinalização de trânsito. Ocorre que algumas vezes, entra no diálogo dos usuários que transporta, colocando seus pontos de vista nos assuntos tratados. Mas, isso é desprezível já que ele prestará um bom serviço aos usuários se os tratar com cordialidade e presteza e se tiver um profundo conhecimento das normas de legislação de trânsito e as cumprir com rigor.

Assinale a alternativa correta

Alternativas
Q630577 Ética na Administração Pública

Ser eficiente, interessado e atencioso no trabalho faz parte da função de todos os servidores públicos, principalmente, aqueles que atendem diretamente o cidadão. Desta maneira, os servidores podem fazer de tudo para que os cidadãos se sintam satisfeitos com os seus serviços, mesmo que tenha de ignorar algumas normas institucionais. Nessa situação, as boas intenções do servidor justifica suas atitudes. Portanto, seu comportamento profissional está correto.

Assinale a alternativa correta

Alternativas
Q630576 Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro do ano de:
Alternativas
Q630575 História e Geografia de Estados e Municípios
Os diferentes tipos de vegetação são chamados de Fitofisionomias, traduzidos pela aparência que toma a vegetação de um lugar em função da sua forma. Em relação a Goiás, as fisionomias do Cerrado têm relação direta com a qualidade do solo e a presença de água. Neste contexto, a mata seca, comum no Cerrado tem como característica principal
Alternativas
Q630574 Português

Leia o texto publicitário abaixo.

Imagem associada para resolução da questão

Pasta. São Paulo, n. 10, p.86 set-out. 2007

* Com a doação de órgãos, a vida continua.

A finalidade desse anúncio é

Alternativas
Q630573 Português

Leia o cartoon. 

             Imagem associada para resolução da questão

Disponível em: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/Images/AOCartoon2.jpg. Acesso em 05 de mar. de 2016


O efeito de humor no cartoon é produzido devido a uma mudança na grafia da palavra “microondas” de acordo com o Novo Acordo Ortográfico. Segundo esse documento 

Alternativas
Q630570 Português

                   Para Quem Quer Aprender a Gostar

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva. Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebem ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo do amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, eqüidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa Ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de Ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria, do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer. Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.

Recomendam-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, 'aquela conversa importante que precisamos ter'; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama, toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção poder ser toda a atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de Ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como a criança de nariz encostado na vitrina cheia de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor; ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue por alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo o seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é, e nunca: deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz."

Texto Retirado do Livro de Crônicas de Artur da Távola : "Alguém que já não fui" - página 149º

Pode-se perceber que o cronista usa o tom de aconselhamento para orientar as pessoas de como amar bonito, em quais das expressões abaixo?
Alternativas
Q630569 Português

                   Para Quem Quer Aprender a Gostar

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva. Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebem ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo do amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, eqüidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa Ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de Ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria, do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer. Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.

Recomendam-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, 'aquela conversa importante que precisamos ter'; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama, toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção poder ser toda a atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de Ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como a criança de nariz encostado na vitrina cheia de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor; ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue por alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo o seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é, e nunca: deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz."

Texto Retirado do Livro de Crônicas de Artur da Távola : "Alguém que já não fui" - página 149º

O tema dessa crônica é
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Respostas
2381: D
2382: B
2383: B
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2389: B
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2393: A
2394: B
2395: B
2396: D
2397: C
2398: C
2399: D
2400: D