AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS JÁ AFETAM
NOSSAS VIDAS
CIÊNCIA HOJE: Quais lugares do planeta estão
sendo (e serão no futuro) mais afetados pelas
mudanças climáticas? E em relação aos biomas
brasileiros?
ARGEMIRO TEIXEIRA: Metade da população
mundial já vive sob risco climático, e os impactos são
mais graves entre populações urbanas
marginalizadas, como os moradores de favelas. Em
geral, as áreas de alto risco às mudanças climáticas
são regiões caracterizadas por grande densidade
populacional, altos índices de pobreza e dependência
de condições climáticas para o cultivo agrícola. Além
disso, é importante falar que as áreas próximas da
linha do Equador correm mais riscos do que as áreas
temperadas. Todos os modelos mostram que, no
Brasil, aumentarão a frequência e intensidade de
ondas de calor e, por sua vez, aumentará o número
de mortes.
CH: Pode falar dos efeitos dessa crise climática na
segurança alimentar e na saúde humana?
AT: Em todo o mundo, altas temperaturas e eventos
climáticos extremos como secas, ondas de calor e
enchentes já prejudicam a produção de alimentos. O
fornecimento internacional de alimentos está sob
ameaça. Os riscos de quebra generalizada nas
colheitas devido a eventos extremos que atingem
locais em todo o mundo aumentarão se as emissões
não forem reduzidas rapidamente. Isto poderia levar à
escassez global de alimentos e ao aumento de
preços, o que prejudicará particularmente as pessoas
mais pobres. O novo relatório do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na
tradução em português) sugere que esses fatores
prejudicarão especialmente a agricultura no Brasil se
as temperaturas continuarem a subir. A produção de
arroz poderia cair em 6% com altas emissões. A
produção de trigo poderia cair 21%, e a de milho
poderia cair em até 71% até o final do século no
Cerrado. Além disso, a combinação do aumento
continuado de emissões de gases de efeito estufa
com o desmatamento local pode causar uma queda
de 33% na produção de soja e na das pastagens na
Amazônia. Os impactos das mudanças climáticas
também prejudicarão a pesca e a aquicultura no
Brasil. Se as emissões seguirem altas, a produção de
peixes cairá em 36% no período 2050-2070 em
comparação com 2030-2050. Além de tudo isso,
estudos sugerem que as mudanças climáticas
refletem em mudanças no ambiente como a alteração
de ecossistemas e de ciclos biológicos, geográficos, e
químicos, que podem aumentar a incidência de
doenças infecciosas (malária, dengue etc.), mas
também de doenças não-transmissíveis, que incluem
a desnutrição e enfermidades mentais.
Adaptado de: https://cienciahoje.org.br/artigo/as-mudancas-climaticas-ja-afetam-nossas-vidas/. Acesso em: 7 set. 2022.