Leia o texto “Mania de comer bem” e responda à questão.
Após perder 27 kg e finalmente conquistar uma barriga
“tanquinho”, Thaís, 32, passou a controlar rigidamente a alimentação. O desejo de comer de forma saudável era tanto
que passou a prejudicar sua vida pessoal.
“Uma refeição fora de casa, mesmo na casa da minha
avó, gerava um estresse enorme. Sentia culpa e ansiedade.
Não conseguia fazer concessões”, explica.
Julia, 25, excluiu tantos grupos alimentares que, após
dois anos de dieta, viu seu cardápio reduzido praticamente
só a proteínas e hortaliças. Desenvolveu pânico de comer na
frente de conhecidos e chegou a levar marmita para a festa
de casamento da irmã.
Ambas sofreram com a chamada ortorexia: um comportamento obsessivo em relação à comida.
Além de pôr em risco a saúde, com a falta de nutrientes
essenciais, a ortorexia ainda atrapalha significativamente as
relações sociais e afetivas.
“A preocupação excessiva com a alimentação passa a
dominar a vida da pessoa. Torna-se uma obsessão”, explica a
médica Sandra Carvalhais, do Instituto de Pesquisa e Ensino
Médico, em São Paulo.
Para os especialistas, a onda de blogs e redes sociais
que disseminam informações sobre nutrição e dietas, muitas
vezes equivocadas, acaba criando o ambiente ideal para paranoias alimentares.
Ainda que muitas vezes também cause emagrecimento
excessivo, a ortorexia é diferente da anorexia. Para a médica
nutróloga Maria del Rosario, diretora da Abran (Associação
Brasileira de Nutrologia), que tem longa experiência em
transtornos alimentares, a principal questão é a autoimagem
corporal.
“Quem tem anorexia se olha no espelho e se enxerga
gordo, mesmo estando muito magro. O ortoréxico não costuma ter esse problema. Ele se vê magro, mas muda a alimentação por uma questão de saúde.” A ortorexia pode, inclusive,
estar associada a outros distúrbios, sobretudo a transtornos
compulsivos.
Além disso, a pessoa ortoréxica se impõe tantas restrições que acaba sem conseguir comer com a família e os amigos. Esse isolamento pode levar à ansiedade e à depressão,
segundo del Rosario.
Recém-formada em administração, Julia diz que teve dificuldade em participar dos eventos da universidade. “Eu passava horas buscando na internet a maneira mais pura de me
alimentar. Depois de um tempo, perdi a capacidade de comer
algo que tivesse sido preparado por outra pessoa”, diz ela,
que está em tratamento para a ortorexia há quatro meses.
Os especialistas indicam tratamento multidisciplinar, com
psicólogo, psiquiatra e acompanhamento nutricional.
Hoje recuperada, Thaís diz que o apoio do marido e da
família foram fundamentais. “Tem sido uma batalha em busca
do equilíbrio, mas já consigo ir a uma festa e comer normalmente”, conta.
(Giuliana Miranda. Folha de S.Paulo, 08.12.2015. Adaptado)