Questões Militares de Português - Figuras de Linguagem

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Q542115 Português

                                                                                    TEXTO IV

                                                                              VOZES-MULHERES

                                                       

                                                       (EVARISTO, Conceição. “Poemas”. In: Cadernos negros – Poemas. São

                                                              Paulo: Quilombhoje/ Edição dos autores, nº13, 1990, p.32-33.)

Assinale a alternativa correta quanto à classificação das figuras de linguagem presentes nos versos abaixo.
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Q539776 Português

Leia a passagem do conto Os cimos, de João Guimarães Rosa, para responder às questões de números 78 e 79.

E: — “Pst!” — apontou-se. A uma das árvores, chegara um tucano, em brando batido horizontal. Tão perto! O alto azul, as frondes, o alumiado amarelo em volta e os tantos meigos vermelhos do pássaro — depois de seu voo. Seria de ver-se: grande, de enfeites, o bico semelhando flor de parasita. Saltava de ramo em ramo, comia da árvore carregada. Toda a luz era dele, que borrifava-a de seus coloridos, em momentos pulando no meio do ar, estapafrouxo, suspenso esplendentemente. No topo da árvore, nas frutinhas, tuco, tuco... daí limpava o bico no galho. E, de olhos arregaçados, o Menino, sem nem poder segurar para si o embrevecido instante, só nos silêncios de um-dois-três.

(Primeiras estórias. 1988, p. 155. Adaptado)

As construções neológicas (criações de novas palavras) tornaram-se marca do estilo de Guimarães Rosa. No trecho citado, o neologismo estapafrouxo chama a atenção do leitor para a

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Q537326 Português

Relacione as colunas e, em seguida, assinale a alternativa com a sequência correta.

(1) Eufemismo

(2) Prosopopeia

(3) Antítese

(4) Metáfora

( ) Nem o céu nem o inferno estavam preparados para sua chegada.

( ) O sertão castigava com seu ódio sem lágrimas todo o povo.

( ) Com cuidado, mas em estado de cólera, seu grito pela funcionária da limpeza da casa ecoava nos corredores.

( ) Moça, sonhei com você esta noite. Seu sorriso é meu travesseiro.Sua determinação de mulher, minha inspiração

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Q535974 Português

                                 O que diria e o que faria Mandela?


      O mundo acompanha o drama humanitário e os dilemas europeus sobre acolher e/ou conter migrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo da África do Norte para a Europa. São desastres constantes nas embarcações com seus passageiros, nas transações encetadas por traficantes do desespero e da esperança. No último fim-de-semana foi o naufrágio de um barco pesqueiro na costa líbia que deixou centenas de mortos. No entanto, outro drama humanitário se desenrola no sul da África, com a violência e a xenofobia dos últimos dias justamente na nação arco-íris que Nelson Mandela se propôs a construir no lugar do apartheid há pouco mais de 20 anos.

      [...] A mais recente onda de violência mistura xenofobia e mera criminalidade em um país em crescente crise econômica, taxa de desemprego de 24%, chefiado pelo desacreditado presidente Jacob Zuma e marcado pela percepção, especialmente em comunidades pobres, de que estrangeiros estão roubando os empregos. No entanto, o catalisador da violência (xenofobia) se diluiu em meio à escalada, pois muitos dos mortos e donos de negócios saqueados eram sul-africanos. Nelson Mandela nunca teve sucessores à altura e sempre se soube que seria uma tarefa descomunal construir uma nação arco-íris. O desafio se tornou mais ingrato e o arco-íris está ainda mais distante no horizonte.


                                          (Caio Blinder, 21/04/2015. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/

                                                              nova-york/africa-do-sul/o-que-diria-mandela/. Adaptado.) 

“A orientação argumentativa pode-se realizar pelo uso de termos ou expressões metafóricas ou não. Trata-se de uma manobra bastante comum, particularmente em gêneros opinativos.”


(KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto.

São Paulo: Contexto, 2006.)


A partir de tal pressuposto, indique o segmento que apresenta expressões constituintes de tal orientação argumentativa textual em que há o uso de expressão de sentido metafórico.

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Q529094 Português

                               Tecendo a Manhã


                    Um galo sozinho não tece uma manhã:

                    ele precisará sempre de outros galos.

                    De um que apanhe esse grito que ele

                    e o lance a outro; de um outro galo

                    que apanhe o grito que um galo antes

                    e o lance a outro; e de outros galos

                    que com muitos outros galos se cruzem

                    os fios de sol de seus gritos de galo,

                    para que a manhã, desde uma teia tênue,

                    se vá tecendo, entre todos os galos.


                     E se encorpando em tela, entre todos,

                     se erguendo tenda, onde entrem todos,

                     se entretendendo* para todos,no toldo

                     (a manhã) que plana livre de armação.

                     A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

                     que, tecido, se eleva por si: luz balão.

            (João Cabral de Melo Neto. A educação pela pedra.)


* neologismo criado pelo autor, por meio da junção de “entre” + “entender”


Os recursos expressivos utilizados no poema podem ser interpretados como uma metáfora da
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Q529093 Português

                               Tecendo a Manhã


                    Um galo sozinho não tece uma manhã:

                    ele precisará sempre de outros galos.

                    De um que apanhe esse grito que ele

                    e o lance a outro; de um outro galo

                    que apanhe o grito que um galo antes

                    e o lance a outro; e de outros galos

                    que com muitos outros galos se cruzem

                    os fios de sol de seus gritos de galo,

                    para que a manhã, desde uma teia tênue,

                    se vá tecendo, entre todos os galos.


                     E se encorpando em tela, entre todos,

                     se erguendo tenda, onde entrem todos,

                     se entretendendo* para todos,no toldo

                     (a manhã) que plana livre de armação.

                     A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

                     que, tecido, se eleva por si: luz balão.

            (João Cabral de Melo Neto. A educação pela pedra.)


* neologismo criado pelo autor, por meio da junção de “entre” + “entender”


O recurso da sinestesia (associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão) pode ser identificado, de maneira mais evidente, na seguinte expressão:
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Q529083 Português

Instrução: Leia o texto, extraído de uma entrevista concedida a Clarice Lispector por Lygia Fagundes Telles, para responder à questão.


Imagem associada para resolução da questão


Ao usar a expressão trapézio voador para representar o ofício de escritor, a entrevistada lança mão de uma figura de linguagem denominada

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Q527112 Português
No aeroporto 

        Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.  
       Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. [...]  
        Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. [...]
      Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973, p. 1107-1108.) 
O texto “No aeroporto” faz uma abordagem da realidade; não sendo, contudo, apenas uma reprodução da mesma. O autor apresenta
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Q524187 Português
Assinale a alternativa que analisa de maneira adequada a figura de linguagem utilizada.
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Q520301 Português
Assinale a alternativa que completa adequadamente a lacuna abaixo.


“______________ é um fenômeno linguístico, de origem semântica, caracterizado pela possibilidade de se atribuir mais de um significado a uma palavra ou mesmo uma sentença completa. Tal fenômeno pode promover problemas na comunicação quando ocorre no processo de interação entre os participantes de determinado discurso."

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Q515414 Português
Texto I
                                    Aí pelas três da tarde
                                                                              (Raduan Nassar)

Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom-senso do mundo, aplicando-se em ideias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo “ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, e surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pelo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor bem entendido), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assome depois com uma nudez no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado), e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas la no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé ( já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.




O autor baseia seu texto na representação de várias imagens simbólicas. Por exemplo, no trecho “dê um largo “ciao" ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida.", há um fragmento destacado que combina duas figuras de linguagem. São elas:
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Q507085 Português
Leia:

I- “Meses depois fui para o seminário São José. Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva."

II- “Levamos-te cansado ao teu último endereço
Vi com prazer
Que um dia afinal seremos vizinhos
Conversaremos longamente
De sepultura a sepultura
No silêncio das madrugadas."

III- “A pobreza do eu
A opulência do mundo
A opulência do eu
A pobreza do mundo"

As figuras de linguagem presentes nos textos acima são, respectivamente,
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Q505574 Português
                                              Restos do carnaval

       Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Atéque viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate.Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
    No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
    E as máscaras? Eu tinha medo mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados,pois, era essencial para mim. 
    Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma das minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice. 
    Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha eo nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira. 
    Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma. 
    Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - à ideia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! Não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
    Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa. 
    Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e aindasem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vidainfantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava. 
    Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se,minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
    Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa. 

                       (Lispector, Clarice. Felicidade clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998)

“Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança.” (4º§)

O excerto anterior apresenta uma figura de estilo denominada
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Q504212 Português
                                                Texto 1

                        O MENINO QUE TINHA MEDO DE POESIA

                                    (Pedro Gabriel - Março de 2014)

            - Mãe, acho que tem um poema debaixo da minha cama!
            Quando menino, a poesia me assustava. Parecia ter dentes afiados, pernas desajeitadas, mãos opressoras. E nem as mãos da professora mais dócil conseguiam me acalmar. Não compreendia uma palavra, uma metáfora, uma rima pobre, rica ou rara. Não entendia nada. Tentava adivinhar o que o poeta queria dizer com aquela frase entupida de imagens e sentidos subjetivos. Achava-me incapaz de pertencer àquilo. Não conseguia mergulhar naquele mundo. Eu, sem saber nadar em versos, afogava-me na incompreensão de um soneto; ela - a tão sagrada poesia - não me afagava e me deixava morrer na praia, entre um alexandrino e um heptassílabo.
            Toda vez que eu era obrigado a decorar poesia, sentia vontade de sumir, de virar um móvel e ficar imóvel até tudo se acabar. Por dentro, sentia azia, taquicardia, asma espontânea, tremelique e gagueira repentina. Por fora, fingia que estava tudo bem. Eu sempre escolhia o poema mais curto da lista que a escola sugeria. Naquele dia, sobrou Pneumotórax, de Manuel Bandeira, e eu queria ser aquele paciente para não precisar declamá-lo. Eu queria tossir, repetir sem parar: trinta e três… Trinta e três… Ter uma doença pequena, uma desculpa qualquer, um atestado médico assinado pelo meu avô que me deixasse em casa - não a semana toda, mas só o tempo da aula.
            Depois, para a prova de francês, não tive escolha: fui obrigado a decorar Le dormeur du Val, de Rimbaud. Eu lembro que, antes de ficar em pé de frente para o meu professor, eu queria que alguém me desse dois tiros no peito. Queria ser esse soldado e dormir, tranquilo, na paz celestial daquele vale até que a turma toda esquecesse a minha existência. Ou que a guerra fosse declarada finda. Ou que eu fosse declamado culpado. A Primeira Guerra Mundial parecia durar menos do que aqueles 15 minutos de exame. Minha boca está seca até hoje. Minhas mãos estão molhadas até agora. Só eu sei o que suei por você, querida Poesia.
            Aos 17, a poesia ainda me apavorava. Podia ser o verso mais delicado do mundo, eu tinha medo. Podia ser o poeta mais simpático da face da Terra, eu desconfiava. Desconversava, lia outra coisa. Ou não lia nada. Talvez por não querer entendê-la. Talvez por achar não merecê- la. E assim ficava à mercê da minha rebeldia. Não queria aprender a contar sílabas, queria ser verso livre. Tolo! Até a liberdade exige teoria!
            Se hoje eu pudesse falar com aquele menino, diria-lhe que a poesia não é nenhum decassílabo de sete cabeças. Que se ela o assusta é porque ela o deseja. Que se ele sente medo é porque ele precisa dela. Não há mais monstro debaixo da sua cama. O monstro agora está em você.
            - Filho, acho que tem um poema por dentro de quem você ama

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                                                                   Texto 2

                         A MULHER QUE NÃO SENTE MEDO DE ABSOLUTAMENTE NADA
                                                (Jeanna Bryner - Dezembro de 2010)

            Você gostaria de não sentir medo? Pelo menos uma pessoa no mundo não tem medo de nada: uma mulher de 44 anos, que até ajudou pesquisadores a identificarem o local em que vive o fator medo no cérebro humano.
            Os pesquisadores tentaram inúmeras vezes assustar a mulher: casas mal-assombradas, onde monstros tentaram evocar uma reação de rejeição, aranhas e cobras, e uma série de filme de terror apenas entreteram a paciente.
            A mulher tem uma doença rara chamada síndrome de Urbach-Wiethe que destruiu sua amígdala. A amígdala é uma estrutura em forma de amêndoa situada no fundo do cérebro. Nos últimos 50 anos, estudos mostraram que ela tem um papel central na geração de respostas de medo em diferentes animais.
            Agora, o estudo envolvendo essa paciente é o primeiro a confirmar que essa região do cérebro é responsável pelo medo nos seres humanos. A descoberta pode levar a tratamentos para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Tratamentos de psicoterapia que seletivamente amorteçam a hiperatividade na amígdala podem curar pacientes com TEPT.
            Estudos anteriores com a mesma paciente revelaram que ela não conseguia reconhecer expressões faciais de medo, mas não se sabia se ela tinha a capacidade de sentir medo. Para descobrir, os pesquisadores deram vários questionários padronizados à paciente, que sondaram os diferentes aspectos do medo, desde o medo da morte até o medo de falar em público.
            Além disso, durante três meses ela carregou um diário que informatizava sua emoção, e que, aleatoriamente, pedia-lhe para classificar o seu nível de medo ao longo do dia. O diário também indicava emoções que ela estava sentindo em uma lista de 50 itens. Sua pontuação média de medo foi de 0%, enquanto para outras emoções ela mostrou funcionamento normal.
            Em todos os cenários, ela não mostrou nenhum medo. Baseado no seu passado, os pesquisadores encontraram muitas razões para ela reagir com medo. Ela própria contou que não gosta de cobras, mas quando entrou em contato com duas, não sentiu medo. Além disso, já lhe apontaram facas e armas, ela foi fisicamente abordada por uma mulher duas vezes seu tamanho, quase morreu em um ato de violência doméstica, e em mais de uma ocasião foi explicitamente ameaçada de morte.
            O que mais se sobressai é que, em muitas destas situações a vida da paciente estava em perigo, mas seu comportamento foi desprovido de qualquer senso de desespero ou urgência. E quando ela foi convidada a lembrar como se sentiu durante as situações, respondeu que não sentiu medo, mas que se sentia chateada e irritada com o que aconteceu.
            Segundo os pesquisadores, sem medo, pode-se dizer que o sofrimento dela não tem a intensidade profunda e real suportada por outros sobreviventes de traumas. Essencialmente, devido aos danos na amígdala, a mulher está imune aos efeitos devastadores do transtorno de estresse pós-traumático.
            Mas há uma desvantagem: ela tem uma incapacidade de detectar e evitar situações ameaçadoras, o que provavelmente contribuiu para a frequência com que ela enfrentou riscos.
            Os pesquisadores dizem que esse tipo de paciente é muito raro, mas para entender melhor o fenômeno, seria ótimo estudar mais pessoas com a condição.

                                 Disponível em<:http://hypescience.com> (texto adaptado de http://www.livescience.com). Acesso em: 29 Abr 2014



                                                Texto 3

                                             CONSOADA
                                          ( Manuel Bandeira)

                              Quando a Indesejada das gentes chegar
                                    (Não sei se dura ou caroável),
                                           Talvez eu tenha medo.
                                          Talvez sorria, ou diga:
                                              - Alô, iniludível!
                              O meu dia foi bom, pode a noite descer.
                                    (A noite com os seus sortilégios.)
                            Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
                                                A mesa posta,
                                     Com cada coisa em seu lugar
.

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                                                      Texto 4

                        AUTOSSABOTAGEM: O MEDO DE SER FELIZ

                             (Raphaela de Campos Mello - Outubro de 2012)

            A cada passo dado você sente que a felicidade se afasta alguns metros? Talvez esteja, inconscientemente, queimando chances de se realizar. Repense as próprias atitudes para interromper esse ciclo destrutivo.
            Por medo dos riscos e das responsabilidades da vida, podemos acabar inconscientemente com as nossas realizações. Isso se chama autossabotagem. São atitudes forjadas por uma parte de nós que não nos vê como merecedoras do sucesso ou que subestima nossa capacidade de lidar com a vitória.
            Pode ser aquela espinha que apareceu no nariz no dia daquele encontro especial ou da gripe que a pegou na véspera daquela importante reunião.
            "Muitos desses comportamentos destrutivos estão quase fora do domínio da consciência", afirma o psicólogo americano Stanley Rosner, coautor do livro O Ciclo da Auto- Sabotagem - Por Que Repetimos Atitudes que Destroem Nossos Relacionamentos e Nos Fazem Sofrer (ed. BestSeller).
            "A autonomia, a independência e o sucesso são apavorantes para algumas pessoas porque indicam que elas não poderão mais argumentar que suas necessidades precisam ser protegidas", diz o autor.
            O filósofo e psicanalista paulista Arthur Meucci, coautor de A Vida Que Vale a Pena Ser Vivida (ed. Vozes) comenta sobre os ganhos secundários. "Há jovens que saem de casa para tentar a vida, enquanto outros permanecem na zona de conforto, porque continuam recebendo atenção dos pais e se eximem de enfrentar as dificuldades da fase adulta", afirma.
            O problema é que, ao fazermos isso, não nos desenvolvemos plenamente. "Todo mundo busca a felicidade, a questão é ter coragem de viver, o que significa correr riscos e assumir responsabilidades", diz ele.

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                                           Texto 5

                                             O QUASE

                              (Sarah Westphal Batista da Silva)

            Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu ainda está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
            Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom Dia” quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
            Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

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Ainda no texto 3, ao utilizar a expressão “a Indesejada das gentes”, o autor faz uso da figura de linguagem conhecida como:
Alternativas
Q503004 Português
Assinale a alternativa que apresenta a figura de linguagem anacoluto.
Alternativas
Ano: 2015 Banca: IOBV Órgão: PM-SC Prova: IOBV - 2015 - PM-SC - Soldado da Polícia Militar |
Q500072 Português
A imagem apresenta claramente que figura de linguagem?

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Alternativas
Q494094 Português
Leia:

I. “Tremia ainda ao contar as suas impressões.
    Descrevia a Câmara, tribunas, galerias cheias
    Que não cabia um alfinete."

II. “Lúcio pôs-se a observar a agonia da lenha verde
     Que se estorcia, estalava de dor."

III. “Meu pensamento é um rio subterrâneo.
      Para que terras vai e donde vem?"

As figuras de linguagem dos trechos destacados acima são, respectivamente,
Alternativas
Q482890 Português
Em que sentença ocorre uma metáfora?
Alternativas
Q464636 Português
Observe as frases abaixo:

I. “Pouco olho o céu, quase nunca a lua, mas sempre o mar." [L. Barreto, GS, 38 in Kury 2000]

II. “É impossível não saibas que o pássaro / caído em teu quarto por um vão da janela / era um recado do meu pensamento." [Cassiano Ricardo, PC, 250 in Kury 2000]

III. “Chamo-me Inácio; ele, Benedito." [M. de Assis, EV, 79 in Kury 2000]

IV. “Afeiar as suas graças, parecia-lhe um crime; tirar orgulho delas, frivolidade." [M.de Assis, ap. Gotardelo, EV, 79 in Kury 2000)

V. “Outros querem apanhar os que, no entender deles, manejaram o criminoso, assim como este o punhal." [C. de Laet, Microcosmo, O País, 6-0-1995 in Kury 2000]

Denomina-se ELIPSE a omissão, numa frase, de termo facilmente subentendível. Pode o termo elíptico subentender- se numa flexão diferente: é o que se denomina ZEUGMA. Das frases acima em qual(ais) ocorre ZEUGMA?
Alternativas
Q418580 Português
A afirmação de que "O otimismo é o vinho tinto das emoções” constitui um exemplo da seguinte figura de linguagem:
Alternativas
Respostas
301: A
302: C
303: A
304: C
305: E
306: A
307: C
308: A
309: C
310: C
311: A
312: A
313: C
314: E
315: A
316: C
317: C
318: D
319: D
320: E