Questões de Literatura para Concurso

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Q2006225 Literatura

Poema 1 


O laço de fita


Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...

Prendi meus afetos, formosa Pepita.

Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!

Não rias, prendi-me

Num laço de fita.

 

Na selva sombria de tuas madeixas,

Nos negros cabelos da moça bonita,

Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,

Formoso enroscava-se

O laço de fita.


Meu ser, que voava nas luzes da festa,

Qual pássaro bravo, que os ares agita,

Eu vi de repente cativo, submisso

Rolar prisioneiro

Num laço de fita.


E agora enleada na tênue cadeia

Debalde minh'alma se embate, se irrita...

O braço, que rompe cadeias de ferro,

Não quebra teus elos,

Ó laço de fita!


Meu Deusl As falenas têm asas de opala,

Os astros se libram na plaga infinita.

Os anjos repousam nas penas brilhantes...

Mas tu... tens por asas

Um laço de fita.


Há pouco voavas na célere valsa,

Na valsa que anseia, que estua e palpita.

Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...

Beijava-te apenas...

Teu laço de fita.


Mas ai! findo o baile, despindo os adornos

N'alcova onde a vela ciosa... crepita,

Talvez da cadeia libertes as tranças

Mas eu... fico preso

No laço de fita.


Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepital
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.

ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.

Poema 2

objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo

seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja


LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
A partir da leitura dos poemas de Castro Alves e Paulo Leminski e com base na obra de Alfredo Bosi (2006), analise as afirmativas a seguir: 
I. Em ambos os textos, a temática é o desejo: enquanto no poema de Castro Alves o laço de fita repetido em todas as estrofes simboliza o desejo pela moça que dança no baile; no poema de Leminski, a própria mulher é o objeto de desejo do poeta. II. A poesia lírica de Castro Alves, à qual pertence o poema O laço de fita, é caracterizada pela forma franca e sem culpa de expressar o desejo e os encantos da mulher amada. III. A obra de Paulo Leminski pertence a um momento de renovação da poesia brasileira da década de 1970 em que ressurge o discurso poético e o verso – livre ou metrificado – e se retoma a fala autobiográfica como expressão do desejo e da memória.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
Alternativas
Q2006224 Literatura

Texto 1


 Ali começa o sertão chamado bruto.


Pousos sucedem a pousos, e nenhum teto habitado ou em ruínas, nenhuma palhoça ou tapera dá abrigo ao caminhante contra a frialdade das noites, contra o temporal que ameaça, ou a chuva que está caindo. Por toda a parte, a calma da campina não arroteada; por toda a parte, a vegetação virgem, como quando aí surgiu pela vez primeira. 

[...]

Essa areia solta, e um tanto grossa, tem cor uniforme que reverbera com intensidade os raios do Sol, quando nela batem de chapa. Em alguns pontos é tão fofa e movediça que os animais das tropas viageiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquele terreno incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até meia canela.

[...]

Ora é a perspectiva dos cerrados, não desses cerrados de arbustos raquíticos, enfezados e retorcidos de São Paulo e Minas Gerais, mas de garbosas e elevadas árvores que, se bem não tomem, todas, o corpo de que são capazes à beira das águas correntes ou regadas pela linfa dos córregos, contudo ensombram com folhuda rama o terreno que lhes fica em derredor e mostram na casca lisa a força da seiva que as alimenta; ora são campos a perder de vista, cobertos de macega alta e alourada, ou de viridente e mimosa grama, toda salpicada de silvestres flores; ora sucessões de luxuriantes capões, tão regulares e simétricos em sua disposição que surpreendem e embelezam os olhos; ora, enfim, charnecas meio apauladas, meio secas, onde nasce o altivo buriti e o gravata entrança o seu tapume espinhoso.


Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do Sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro.


TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. Inocência. Porto Alegre: L&PM, 1999.


Texto 2 


Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:

− Então patrício? está doente?

− Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi

uma dinheirama do meu patrão...

− A la fresca!...

− É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele pensar agora de mim!...

− É uma dos diabos, é...; mas não se acoquine, homem!

Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo

correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...

Ah!... E num repente lembrei-me bem de tudo.

Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho, a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi, e, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o cinto das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma última tragada, antes de entrar na água, e que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia, fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes
que outros andantes passassem.
[...]
LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: L&PM, 1998.

Texto 3 

Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.

    Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...”- dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - “Tatu não vê a lua...”- ela falasse. [...] 

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
A partir da análise de Bosi (2006) sobre a obra de Guimarães Rosa, considere as seguintes afirmativas:
I. A escrita de Guimarães Rosa aboliu as fronteiras entre o texto narrativo e o lírico. Grande Sertão: Veredas e as novelas de Corpo de Baile, por exemplo, além de incluir recursos da expressão poética, revitalizam-nos na construção narrativa. II. Sobre os contos da obra Primeiras Estórias, observa-se que, em A menina de lá, ao qual pertence o fragmento do texto 3, há um apelo ao lúdico e ao mágico, enquanto, em O Burrinho Pedrês, o autor desenvolve uma espécie de mimetismo entre o culto e o folclórico. III. A obra de Guimarães Rosa configura-se como um desafio à forma convencional de construção narrativa, pois seus processos mais frequentes pertencem aos domínios do poético e do mítico.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
Alternativas
Q2006223 Literatura

Texto 1


 Ali começa o sertão chamado bruto.


Pousos sucedem a pousos, e nenhum teto habitado ou em ruínas, nenhuma palhoça ou tapera dá abrigo ao caminhante contra a frialdade das noites, contra o temporal que ameaça, ou a chuva que está caindo. Por toda a parte, a calma da campina não arroteada; por toda a parte, a vegetação virgem, como quando aí surgiu pela vez primeira. 

[...]

Essa areia solta, e um tanto grossa, tem cor uniforme que reverbera com intensidade os raios do Sol, quando nela batem de chapa. Em alguns pontos é tão fofa e movediça que os animais das tropas viageiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquele terreno incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até meia canela.

[...]

Ora é a perspectiva dos cerrados, não desses cerrados de arbustos raquíticos, enfezados e retorcidos de São Paulo e Minas Gerais, mas de garbosas e elevadas árvores que, se bem não tomem, todas, o corpo de que são capazes à beira das águas correntes ou regadas pela linfa dos córregos, contudo ensombram com folhuda rama o terreno que lhes fica em derredor e mostram na casca lisa a força da seiva que as alimenta; ora são campos a perder de vista, cobertos de macega alta e alourada, ou de viridente e mimosa grama, toda salpicada de silvestres flores; ora sucessões de luxuriantes capões, tão regulares e simétricos em sua disposição que surpreendem e embelezam os olhos; ora, enfim, charnecas meio apauladas, meio secas, onde nasce o altivo buriti e o gravata entrança o seu tapume espinhoso.


Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do Sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro.


TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. Inocência. Porto Alegre: L&PM, 1999.


Texto 2 


Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:

− Então patrício? está doente?

− Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi

uma dinheirama do meu patrão...

− A la fresca!...

− É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele pensar agora de mim!...

− É uma dos diabos, é...; mas não se acoquine, homem!

Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo

correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...

Ah!... E num repente lembrei-me bem de tudo.

Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho, a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi, e, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o cinto das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma última tragada, antes de entrar na água, e que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia, fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes
que outros andantes passassem.
[...]
LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: L&PM, 1998.

Texto 3 

Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.

    Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...”- dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - “Tatu não vê a lua...”- ela falasse. [...] 

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
Inocência integra um conjunto de obras produzidas no período do Romantismo. Sobre a ficção romântica brasileira, é INCORRETO afirmar que
Alternativas
Q2006222 Literatura

Texto 1


 Ali começa o sertão chamado bruto.


Pousos sucedem a pousos, e nenhum teto habitado ou em ruínas, nenhuma palhoça ou tapera dá abrigo ao caminhante contra a frialdade das noites, contra o temporal que ameaça, ou a chuva que está caindo. Por toda a parte, a calma da campina não arroteada; por toda a parte, a vegetação virgem, como quando aí surgiu pela vez primeira. 

[...]

Essa areia solta, e um tanto grossa, tem cor uniforme que reverbera com intensidade os raios do Sol, quando nela batem de chapa. Em alguns pontos é tão fofa e movediça que os animais das tropas viageiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquele terreno incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até meia canela.

[...]

Ora é a perspectiva dos cerrados, não desses cerrados de arbustos raquíticos, enfezados e retorcidos de São Paulo e Minas Gerais, mas de garbosas e elevadas árvores que, se bem não tomem, todas, o corpo de que são capazes à beira das águas correntes ou regadas pela linfa dos córregos, contudo ensombram com folhuda rama o terreno que lhes fica em derredor e mostram na casca lisa a força da seiva que as alimenta; ora são campos a perder de vista, cobertos de macega alta e alourada, ou de viridente e mimosa grama, toda salpicada de silvestres flores; ora sucessões de luxuriantes capões, tão regulares e simétricos em sua disposição que surpreendem e embelezam os olhos; ora, enfim, charnecas meio apauladas, meio secas, onde nasce o altivo buriti e o gravata entrança o seu tapume espinhoso.


Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do Sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro.


TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. Inocência. Porto Alegre: L&PM, 1999.


Texto 2 


Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:

− Então patrício? está doente?

− Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi

uma dinheirama do meu patrão...

− A la fresca!...

− É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele pensar agora de mim!...

− É uma dos diabos, é...; mas não se acoquine, homem!

Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo

correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...

Ah!... E num repente lembrei-me bem de tudo.

Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho, a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi, e, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o cinto das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma última tragada, antes de entrar na água, e que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia, fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes
que outros andantes passassem.
[...]
LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: L&PM, 1998.

Texto 3 

Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.

    Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...”- dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - “Tatu não vê a lua...”- ela falasse. [...] 

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
Os excertos acima pertencem a obras representativas de diferentes manifestações do regionalismo.
Com base nas ponderações de Bosi (2006) sobre essa vertente da literatura brasileira, em qual afirmativa é estabelecida uma relação adequada entre as produções citadas, suas características regionalistas e seu contexto de produção?
Alternativas
Q2006221 Literatura

Leia o texto a seguir.


A contribuição típica do Romantismo para caracterização literária do escritor é o conceito de missão. Os poetas se sentiram sempre, mais numas fases que noutras, portadores de verdades ou sentimentos superiores aos dos outros homens: daí o furor poético, a inspiração divina, o transe, alegados como fonte de poesia. [...]

O poeta romântico não apenas retoma em grande estilo as explicações transcendentes do mecanismo da criação como lhes acrescenta a ideia de que a sua atividade corresponde a uma missão de beleza, ou de justiça, graças à qual participa duma certa categoria de divindade. Missão puramente espiritual, para uns, missão social para outros – para todos a nítida representação de um destino superior, regido por uma vocação superior. 


CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. 6. ed. Belo Horizonte:

Editora Itatiaia, 2000.


A partir do texto de Antonio Candido e das considerações de Bosi (2006) sobre a poesia romântica brasileira, o que é pertinente afirmar? 

Alternativas
Q2006220 Literatura

Texto 1 


Comigo me desavim,

Sou posto em todo perigo;

Não posso viver comigo

Nem posso fugir de mim.


Com dor da gente fugia,

Antes que esta assim crescesse:

Agora já fugiria

De mim, se de mim pudesse.


Que meio espero ou que fim

Do vão trabalho que sigo,

Pois que trago a mim comigo

Tamanho imigo de mim?


SÁ DE MIRANDA, Francisco de. Trova. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos

textos. 33. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.


Texto 2 


Minha senhora de mim



Comigo me desavim

minha senhora

de mim


sem ser dor ou ser cansaço

nem o corpo que disfarço


Comigo me desavim

minha senhora

de mim


nunca dizendo comigo

o amigo nos meus braços


Comigo me desavim

minha senhora

de mim


recusando o que é desfeito

no interior do meu peito


HORTA, Maria Teresa. Cem poemas (antologia pessoal): 22 inéditos.

Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

Com base no que expõe Norma Goldstein (2006), uma análise adequada dos recursos métricos, rítmicos e rímicos observáveis nos textos 1 e 2 está presente na seguinte afirmação: 
Alternativas
Q2006219 Literatura

Texto 1 


Comigo me desavim,

Sou posto em todo perigo;

Não posso viver comigo

Nem posso fugir de mim.


Com dor da gente fugia,

Antes que esta assim crescesse:

Agora já fugiria

De mim, se de mim pudesse.


Que meio espero ou que fim

Do vão trabalho que sigo,

Pois que trago a mim comigo

Tamanho imigo de mim?


SÁ DE MIRANDA, Francisco de. Trova. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos

textos. 33. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.


Texto 2 


Minha senhora de mim



Comigo me desavim

minha senhora

de mim


sem ser dor ou ser cansaço

nem o corpo que disfarço


Comigo me desavim

minha senhora

de mim


nunca dizendo comigo

o amigo nos meus braços


Comigo me desavim

minha senhora

de mim


recusando o que é desfeito

no interior do meu peito


HORTA, Maria Teresa. Cem poemas (antologia pessoal): 22 inéditos.

Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

Em Minha senhora de mim, Maria Teresa Horta efetua uma releitura da tradição medieval portuguesa, dialogando diretamente com o poema de Francisco de Sá de Miranda, em cuja elaboração ainda se percebem elementos que antecedem as tendências estéticas do século XVI. 
Sobre a relação temática entre os textos, considere as seguintes afirmações:
I. O desacordo interior se mantém como cerne dos dois poemas, mas assume nuances diferentes: enquanto no texto 1, o conflito é representado de modo mais geral - e, portanto, pretensamente universalizante -, no texto 2, a indicação dos aspectos a que se associa a tensão o torna mais particular. II. A situação exposta nos dois poemas mostra-se, ao mesmo tempo, pessoal e social, representando a condição dual inerente ao ser humano − dividido entre aparência e essência, entre corpo material e alma −, para metaforizar o embate de formas antitéticas de se conceber a existência. III. O sujeito poético de cada texto adota atitude equivalente em face da contenda interna, considerando-a danosa a seu equilíbrio emocional por não encontrar meios para atenuá-la ou solucioná-la, dada a impossibilidade de esquivar-se de um enfrentamento direto ou de negar o que o aflige.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
Alternativas
Q2006218 Literatura

Soneto à maneira de Camões


Esperança e desespero de alimento

Me servem neste dia em que te espero

E já não sei se quero ou se não quero

Tão longe de razões é meu tormento.


Mas como usar amor de entendimento?

Daquilo que te peço desespero

Ainda que mo dês - pois o que eu quero

Ninguém o dá senão por um momento.


Mas como és belo, amor, de não durares,

De ser tão breve e fundo o teu engano,

E de eu te possuir sem tu te dares.


Amor perfeito dado a um ser humano:

Também morre o florir de mil pomares

E se quebram as ondas no oceano.



ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Soneto à maneira de Camões. In: COSTA E SILVA, Alberto da;

BUENO, Alexei. Antologia da poesia portuguesa contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro:

Lacerda, 1999.

No que se refere a recursos métricos e retóricos empregados no poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, bem como à sua relação com o contexto histórico da produção camoniana, indicado por Saraiva e Lopes (2004), leia as afirmações abaixo e marque V, para as verdadeiras, e F, para as falsas.
( ) A escolha por compor estrofes isométricas em decassílabo heroico está associada ao petrarquismo que marcou o século XVI português, homenageando a introdução da medida nova realizada por Camões. ( ) A disposição das ideias nas estrofes assemelha-se à estruturação em tese e antítese, seguidas de conclusão e desfecho, empreendendo um exercício de engenho similar ao da poesia camoniana. ( ) O uso de figuras de linguagem como a antítese e o paradoxo em mais de uma estrofe do poema é compatível com uma feição estilística própria do Maneirismo, tendência da qual Camões é um poeta representativo.
A sequência correta, de cima para baixo, é
Alternativas
Q2006213 Literatura
O “Quarto de despejo” e o spread literário

Luiz Maurício Azevedo 

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AZEVEDO, Luiz Maurício. O “Quarto de despejo” e o spread literário. Correio do Povo,
Porto Alegre, 3 out. 2020.

O interesse renovado por Quarto de despejo, como exemplificam as recentes pesquisas apontadas no último parágrafo do texto de Azevedo, ilustra, em alguma medida, o que observa Antônio Candido (2006) no excerto a seguir, retirado de Literatura e sociedade: “[a] obra não é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo”.


Tendo em mente o embasamento sociológico por meio do qual o crítico investiga a relevância e a interseção de categorias como autor, obra e público, para se compreender o funcionamento do sistema literário, leia as afirmações abaixo e marque V, para as verdadeiras, e F, para as falsas.


( ) No concernente à categoria do autor, nota-se que depende não só do processo da (auto)identificação do produtor como componente de um segmento específico, mas também das condições de existência encontradas pelos membros desse coletivo, as quais se ligam ao imaginário social estabelecido sobre o papel/função que desempenham.

( ) Conquanto a categoria do público funcione como mediadora entre obra e autor, dada a contribuição trazida pelas reações do(s) leitor(es) para aguçar o olhar do criador sobre a própria criação, sua importância é considerada relativa, haja vista que nem todo escritor pauta diretamente seu processo compositivo nas expectativas do receptor.

( ) Ainda no que se refere ao público, sua configuração se dá pela existência e natureza dos meios de comunicação – esta última marcada tanto pelos instrumentos de divulgação quanto pelo grau de instrução e pelos hábitos intelectuais de quem divulga −, pela formação de uma opinião literária e pela diferenciação de setores mais restritos que tendem à liderança do gosto.

( ) Consideradas as três categorias em correlação, observa-se que o reconhecimento da posição do escritor (a receptividade às suas ideias ou à sua técnica, a remuneração do seu trabalho) depende da aceitação da sua obra por parte do público médio. Escritor e obra constituem, pois, um par solidário, funcionalmente vinculado ao público.


A sequência correta, de cima para baixo, é

Alternativas
Q2006212 Literatura
O “Quarto de despejo” e o spread literário

Luiz Maurício Azevedo 

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AZEVEDO, Luiz Maurício. O “Quarto de despejo” e o spread literário. Correio do Povo,
Porto Alegre, 3 out. 2020.
Ao tecer comentários relativos à recepção crítica de Quarto de Despejo no decorrer desses 60 anos de lançamento, Luiz Maurício Azevedo faz ponderações sobre o processo de valoração de uma obra e, em última instância, sobre a natureza mesma do objeto literário. Em Teoria da literatura: uma introdução, Terry Eagleton (2006) procura justamente discutir as implicações das variadas tentativas de se definir literatura, o que permite aproximar o debate suscitado pelo crítico brasileiro das ideias veiculadas pelo filósofo britânico, salvaguardadas as diferenças de cada abordagem.
Leia as afirmativas a seguir, em que se avaliam posições de Azevedo à luz do exposto no estudo de Eagleton.
I. Por considerar que “o exercício da crítica tem muito a dizer sobre as coisas e sobre o modo como o mundo funciona”, reputando ser “especificamente por isso que sobre alguns livros a intelligentsia se sente compelida a dizer muito pouco ou quase nada” (linhas 38-40), Azevedo mostra, em conformidade com Eagleton, que julgamentos e silenciamentos estão ligados a um sistema de crenças e de preconceitos estruturado socialmente, o qual se associa ao modo pelo qual se configuram as relações de poder. II. Quando Azevedo reconhece em “Quarto de despejo” a presença de “uma matéria muito mais áspera que as utilizadas pela maioria esmagadora de seus pares”, em cujos textos constata-se um “conforto estético” compatível ao de sua experiência empírica (linhas 49-51), provavelmente está aludindo ao conceito de desfamiliarização ou estranhamento, que decorre das contribuições trazidas pelos formalistas russos e possibilita a Eagleton identificar o modo pelo qual se manifesta a literariedade. III. A menção à “profundidade escura” do “modernismo cru” de Carolina Maria de Jesus, bem como à “complexidade sufocante das estratégias que criou para dissolver a realidade e fazer com que ela coubesse na miúda sintaxe de sua escolarização precária” (linhas 68-70), sugere que a linguagem presente em Quarto de Despejo não atinge o critério de beleza na escrita, o qual Eagleton, a partir dos postulados estabelecidos pela retórica, identifica como um dos requisitos funcionais para a distinção entre literário e não literário.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
Alternativas
Q1999133 Literatura
A lenda do rei capenga

Em certo reino um rei havia
De nobre estirpe secular
Que começou, um belo dia,
Do pé direito capengar.

Um calo enorme era o motivo
Que dava ao rei um tal cacoete:
Calo feroz, duro, agressivo,
Plantado sobre o real joanete.

Mas essa causa assim plebeia
Ficava mal de publicar;
E toda a corte teve a ideia
De andar coxeando, a capengar.

Príncipes, duques e marqueses,
Viscondes, condes e barões
Andavam, coxos e corteses,
Com mil mesuras a capengar.

Desde a nobreza solarenga
Ao camponês da rude grei,
Tudo no reino era capenga
Para “engrossar” o velho rei.

E o rei sorria, satisfeito,
Por ser benquisto e popular;
Não era mais nenhum defeito,
Naquele reino, o capengar.

Mas eis que, um dia, um tipo surge,
Em passo firme, andando bem
O povo, unânime, se insurge,
E a corte a fúria não contém.

Possessa, diz toda a cidade:
‒ Castigo dê –se -lhe, exemplar!
Crime é de lesa-majestade
Viver, aqui, sem capengar.

É preso o infame; e logo o júri
Se reúne ali dos cidadãos,
Para que o crime, enfim, se apure,
E o vil, da lei, caia nas mãos.

E clama o júri: ‒ o reino insulta!
O nosso rei tenta aviltar!
E ruge e freme a turbamulta,
De um lado a outro, a capengar.

Mas fala o réu: ‒ Por Jesus Cristo,
Não me mandeis para as galés!
Se ando direito é só por isto:
Eu sou capenga dos dois pés.

 Bastos Tigre
O autor do texto filia-se à Escola Literária
Alternativas
Q1991251 Literatura
A seguir estão segmentos de poemas que trazem marcas características dos estilos de época a que se filiam.
Assinale a opção cujo segmento tem seu estilo de época corretamente indicado.
Alternativas
Q1991250 Literatura
“Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda arte e a toda natureza? Boa razão é também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear. Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte.
Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mim o estilo do mais antigo pregador que houve no Mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no Mundo foi o Céu. Suposto que o Céu é pregador, deve ter sermões e deve ter palavras. E quais são estes sermões e estas palavras do Céu? As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra há de estar noite? Se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a Palavra de Deus”.

O texto acima é um excerto do famoso “Sermão da Sexagésima”, do Padre Antônio Vieira, orador sacro do século XVII, pertencente as literaturas portuguesa e brasileira. Nesse momento do sermão, o orador questiona se o estilo da época é uma das causas da dificuldade de os sermões convencerem religiosamente o público.
Sobre o texto e suas relações literárias, assinale a afirmativa correta. 
Alternativas
Q1991249 Literatura
Observe a seguir a primeira estrofe de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões”:

As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram.

obre os componentes dessa estrofe e sobre suas relações literárias, assinale a afirmativa correta.
Alternativas
Q1991248 Literatura
Abaixo estão cinco afirmações sobre diferentes obras da Literatura Brasileira.
Assinale a opção em que a obra referida foi corretamente identificada.
Alternativas
Q1985706 Literatura
As opções a seguir apresentam frases referentes a diversos estilos de época.
Assinale a que se refere ao Naturalismo.
Alternativas
Q1985705 Literatura
As opções a seguir apresentam definições de alguns gêneros literários, retiradas do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
Assinale a que cabe ao gênero denominado crônica.
Alternativas
Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: Senado Federal Prova: FGV - 2022 - Senado Federal - Advogado |
Q1984306 Literatura
Assinale o segmento que pertence à obra, de estilo muito particular, do escritor modernista João Guimarães Rosa. 
Alternativas
Q1982892 Literatura
Assinale a opção que apresenta o texto que se filia ao estilo literário naturalista.
Alternativas
Q1977862 Literatura

Texto para o item.


   Guardou a mão no bolso pra ainda ocupar menos lugar; encontrou um pedaço de giz; apertou ele com força e o giz se partiu em dois. Com um barulhinho gostoso mesmo. Barulhinho de escola. Vera lembrou da professora quebrando um pedaço de giz e escrevendo no quadro-negro. Pensou: quadro-negro é escuro assim. Quem sabe o giz também riscava a escuridão?


    Tirou a mão do bolso devagarinho. Tomou coragem e experimentou desenhar na frente dela a roda de um sol. E não é que saiu? Vera ficou tão feliz que berrou:


   — O escuro é que nem quadro-negro, Alexandre! Alexandre foi pra junto dela; pegou o outro pedaço de giz, e foi desenhando também. Uma casa. Uma árvore. Uma onda no mar. Quanto mais os dois desenhavam, menos iam se importando com o escuro. Fizeram uma flor nascendo, um rio correndo, dois besouros se encontrando; fizeram cada desenho lindo. E quanto menos se importavam com o escuro, mais gostoso iam desenhando. De repente, Alexandre teve uma ideia gozada:


   — Vou desenhar a cara do medo.


   Vera se assustou de novo:


   — Psiu! fala baixo.


   — Por quê?


   — Ele pode não gostar da ideia.


   — Mas ele ainda anda por aí?


   — Acho que sim.


   Alexandre achou melhor não dizer mais nada, mas começou a desenhar uma cara esquisita, toda inchada de um lado:


   — O medo tá com dor de dente. — E riu baixinho.


   O Pavão gostou tanto de ouvir Alexandre rindo, que riu também.


   Vera entrou na brincadeira: desenhou no medo uma orelha inchada e disse que ele estava com dor de ouvido também (…). E não se importaram mais se o medo ia ouvir ou não: desabaram numa gargalhada. 



Lygia Bojunga. A casa da madrinha. Casa Lygia Bojunga:

Rio de Janeiro, 2015 (com adaptações).


Com base no texto apresentado, julgue o item, relativos à literatura infantil brasileira.
A reescrita de mitos clássicos presente na obra de Monteiro Lobato influencia a narrativa de Lygia Bojunga, como no modo lúdico a partir do qual o fragmento aborda o medo.

Alternativas
Respostas
401: C
402: B
403: A
404: C
405: D
406: A
407: A
408: B
409: B
410: A
411: E
412: D
413: A
414: C
415: B
416: C
417: D
418: D
419: D
420: E