Questões de Português - Variação Linguística para Concurso
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Texto I
Famigerado
(...) — "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmigerado... faz-me-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?
Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?
— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."
[...]
— Famigerado?
— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:
— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..."
Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.
— Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...
— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"
— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...
— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"
— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...
— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"
Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:
— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...
— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.
Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.
ROSA, Guimaraes. Primeiras estórias
Com base na variedade linguística utilizada por Damázio, pode-se AFIRMAR que seu perfil:
Marcos Bagno, em seu livro “Preconceito Linguístico” (Edições Loyola, 2011), apresenta alguns mitos sobre a Língua Portuguesa. Alguns desses mitos seriam: “Português é muito difícil”, “as pessoas sem instrução falam tudo errado”, “é preciso saber gramática para falar e escrever bem”. Para o autor, é importante que se valorize o saber linguístico individual de cada um. Considerando essas reflexões, podemos afirmar sobre as variedades linguísticas:
Observe a imagem abaixo retirada do Facebook e marque V ou F nos parênteses:
(<www.bodegaiato.com.br> Acesso em: 20/10/2018)
( ) A linguagem utilizada pelos falantes impediu uma comunicação eficiente entre os dois personagens.
( ) A linguagem utilizada pelos personagens é influenciada por fatores sociais e regionais.
( ) Esse modo de falar, considerado “matuto”, é inaceitável em qualquer situação, porque prejudica a comunicação.
( ) Esse modo de falar, mesmo sendo considerado “matuto”, pode ser usada em algumas situações, desde que mesmo cumpra sua intenção comunicativa.
( ) Existem diversos modos de falar, e todos eles têm uma explicação para o seu uso. Por isso não se deve ter nenhum tipo de preconceito em relação aos “modos de falar”.
O preenchimento CORRETO dos parênteses está na alternativa:
Leia o texto a seguir para responder à questão 8.
Leia um trecho de um poema de Patativa do Assaré
Eu e o sertão
Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.
(EU E O SERTÃO - Cante lá que eu canto Cá - Filosofia de um trovador nordestino - Ed.Vozes, Petrópolis, 1982)
Sobre o fragmento do texto “Eu e o sertão”, coloque V para as proposições verdadeiras, e F para as Falsas.
( ) A linguagem utilizada no poema é repleta de informalidade, regionalismos, sem seguir a norma padrão, termos aglutinados, com redução fonética, resultado da tentativa de expressar com fidelidade o modo particular de falar do povo, expressão verbal de sua cultura e variação linguística.
( ) Este modelo de registro linguístico mostra a inferioridade e nível baixo de escolaridade de um grupo social.
( ) O texto é um poema com características ditas populares.
( ) O registro dos vocábulos presentes nos versos apontam para a variedade linguística de grupos que habitam determinada região brasileira.
( ) No texto, predomina a valorização da linguagem coloquial, ou seja, aquela usada de modo informal, desrespeitando o padrão culto da língua, este considerado como o único aceitável dentro do recurso estilístico utilizado na linguagem poética.
O preenchimento CORRETO dos parênteses está na alternativa
Marque a alternativa CORRETA: