Pãezinhos quentinhos
A grande alegria familiar de Fabrício não é levar presentes
para os filhos ou para a esposa, não é fechar bons negócios
no trabalho, não é a promessa de um prato predileto, mas é
abrir a porta de casa com os pãezinhos quentinhos no colo.
Esquentam o seu peito no caminho a pé, tal bebê sonhando
com o berço. Que alegria é quando ele chega à padaria e o
atendente diz “o pão acabou de sair”.
Aparecer na padaria exatamente com o pão saindo do
forno é como um prêmio, pois Fabrício não levaria os pães
cabisbaixos, frios e duros, cansados. Estava pegando os
mais cobiçados, os de miolo quente e de casca crocante.
Desciam do fogo direto para o calor das mãos e o café da
tarde da família.
Fabrício já salivava imaginando a geleia de morango
ou a manteiga derretendo em sua crosta. Não pode haver,
para ele, melhor sensação do que ser pontual na retirada dos
pães. Ele encara os vizinhos na rua com a superioridade do
privilégio. Não pode nem fechar o saco onde estão os pães,
tamanho o frescor do nascimento. O cheiro emana para a
barba de Fabrício.
Não existe desentendimento com a mulher, cisma dos
filhos, dívida bancária ou mal-estar com a vida que resista à
sua aparição caseira gritando: “Os pães quentinhos, venham
logo para a mesa!”
(Fabrício Carpinejar. Minha esposa tem a senha do meu celular.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019. Adaptado)