Leia o texto a seguir para responder à questão.
Salvar a Amazônia está ao alcance de todos
Todos os anos a Organização das Nações Unidas (ONU) elege um problema ambiental com
o qual o planeta precisa lidar para ser o tema do Mês do Meio Ambiente. É uma forma de chamar a
atenção para questões essenciais que nem sempre recebem a atenção devida. Em 2021, é a restauração
de ecossistemas.
Para um país como o Brasil, que tem 60% da maior floresta tropical do mundo, esse é um
assunto que não deveria sair nunca da pauta. Mas sabemos que, na prática, apesar das questões
ambientais estarem ganhando cada vez mais visibilidade e relevância, especialmente com os pilares
ESG, ainda está muito longe do ideal e do necessário. A começar pelo pouco conhecimento que temos
sobre a Amazônia e, principalmente, a respeito do que cada um pode fazer para preservá-la. Vale
lembrar que em torno de 50% das emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil são provenientes do
desmatamento da Amazônia.
Sim, a preservação da Amazônia está ao alcance de todos nós, especialmente das empresas.
Não dá mais para esperar que políticos façam o que deveriam fazer. Temos, claro, que votar com
consciência e cobrar que façam o que é preciso, mas passou da hora de envolver o mercado nesse
propósito de forma prática e intensiva. Só assim conseguiremos dar o salto necessário para
interromper o processo de destruição da floresta. Ela é muito mais que um conjunto esplêndido de
árvores milenares. É a maior biodiversidade do globo terrestre, com cerca de 60 mil espécies de
plantas e animais — um ecossistema riquíssimo que está clamando por socorro.
E é possível que pessoas físicas e jurídicas ajudem a reverter a situação dramática de
destruição que temos acompanhado nos últimos anos. O caminho é investir em projetos de REDD+
(Redução de Emissões Provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal — com o objetivo de
preservar áreas imensas na Amazônia Legal que sofrem grandes pressões de desmatamento) para que
avancem além dos 2 milhões de hectares atuais para a meta necessária de 50 milhões em toda a
Floresta Amazônica até 2030.
Para isso, basta que cada companhia e todos os cidadãos que puderem adicionar mais uma
conta de consumo a seu rol de boletos mensais decidam compensar suas emissões de CO², por meio
de projetos de geração de crédito de carbono na Amazônia. Sim, é simples desse jeito, mas depende
da vontade e do comprometimento de cada um. Afinal, o mercado de crédito de carbono no Brasil
ainda é voluntário. Isso quer dizer que o governo não estabelece um teto de emissão de CO², não taxa
as indústrias que ultrapassarem a cota, nem controla quanto cada companhia deveria compensar.
Tampouco regula esse mercado, a fim de garantir que tenha condições de se desenvolver e gerar
riquezas para o país, como já fizeram Chile, Colômbia e Canadá para citar apenas três exemplos.
Portanto, temos que nos mobilizar para cada um fazer a sua parte, mas, também, para exigir
que o governo federal faça a dele, que é proteger a floresta e regulamentar o mercado de créditos de
carbono para aumentar os projetos de REED+. É preciso preservar a natureza e integrar as
comunidades locais; e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento sustentável da região.
A compensação de emissões de carbono com a política de créditos é apenas o início de um ciclo de
projetos. Com a mata em pé, é possível explorar, de forma responsável, toda a potencialidade de suas riquezas naturais e culturais para diversos mercados, como saúde, cosmética e alimentação,
integrando as comunidades e floresta à sociedade moderna. Os projetos de REDD+ são essenciais
para conservarmos a biodiversidade, estabilidade climática e assim chegarmos a uma economia de
baixo carbono.
Proteger a floresta, apesar de parecer algo distante, é muito mais barato e eficiente que
qualquer projeto de reflorestamento adotado por tantas empresas. Com R$ 100 é possível preservar
um hectare da Amazônia por meio de projetos de créditos de carbono voluntários. Enquanto recuperar
um hectare de área desmatada custa cerca de R$ 10 mil a R$ 25 mil, dependendo da técnica utilizada.
O cálculo considera apenas árvores e não contabiliza todo o ecossistema que é preservado e que,
infelizmente, não se recupera com a velocidade de um replantio.
Há muitas empresas bem intencionadas que colocam grande volume de recursos em projetos
sustentáveis, mas com baixo retorno para o meio ambiente. É possível aumentar exponencialmente a
taxa de retorno e salvar a Amazônia. Por isso, proponho que usemos a provocação da ONU para
assumir a parte que nos cabe na preservação de um dos ecossistemas mais importantes do mundo.
*Janaína Dallan
Engenheira florestal, membro do time de especialistas da ONU para Mudanças Climáticas (RIT) e CEO da Carbonext
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