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Carlos Ghosn arrumou para a cabeça
Em sua primeira aparição pública depois da detenção em
novembro, o executivo franco-brasileiro rebateu as acusações
de fraudes na Nissan – mas vai continuar preso
Por Carlos Eduardo Valim
Acusado de fraude no comando da Nissan, e preso no
Japão desde novembro, o executivo franco-brasileiro Calos
Ghosn prestou depoimento em Tóquio, na terça-feira 8. No tribunal de primeira instância, ele alegou inocência, em
declaração lida por ele, e que foi “equivocadamente acusado e
injustamente detido com base em acusações infundadas e sem
mérito”. Os advogados defendem que não há motivos para que
ele aguarde na prisão o julgamento que pode levar ainda seis
meses. Mas o juiz Yuichi Tada justificou a detenção, alegando risco de fuga e ocultação de evidências.
Fontes próximas à empresa e analistas alegam que
Ghosn, responsável por salvar a montadora nipônica da
falência no fim da década de 1990, foi vítima de uma disputa
por poder entre franceses e japoneses, já que Nissan e Renault
operam em conjunto. O plano do executivo era aprofundar
essa aliança e torná-la definitiva. Isso, segundo alguns, teria
provocado o contra-ataque da Nissan e a criminalização de
Carlos Ghosn, que tem 64 anos e nasceu em Rondônia, no Brasil, mas foi criado na França. Executivos ligado a ele
também estariam sendo forçado a deixar a empresa. Em 5 de
janeiro, o possível sucessor do brasileiro, Jose Muñoz, diretor
de desempenho da montadora e responsável pelas operações
na China, saiu repentinamente de licença. Muñoz comandou
as operações da América do Norte entre 2014 e 2018 e,
poucos dias antes da sua estratégica saída de cena, a imprensa
japonesa noticiou problemas em contatos com fornecedores no
México e EUA naquele período, o que levanta suspeitas sobre
outras operações da montadora.
Outro afastado, Arun Bajaj, chefe de recursos humanos
da Nissan e responsável por desenvolver talentos na aliança
Renault-Nissan-Mitsubishi, estaria colaborando com os
promotores japoneses para esclarecer problemas tributários de
Carlos Ghosn, que é acusado de fraude fiscal ao declarar em
relatórios financeiros um salário menor do que fato recebia. O
brasileiro também teria transferido perdas pessoais com
investimentos privados para a montadora. A defesa, no entanto, alega que foi feito um acordo com a companhia para
que ela assumisse temporariamente os seus contratos de
câmbio depois da crise financeira de 2008. Ele teria tomando
essa decisão para não usar a sua aposentadoria como garantia
e ser forçado a renunciar ao seu cargo. “Meu
comprometimento moral com a Nissan não me permitiria sair
naquele momento crucial”, declarou ele. “Um capitão não
abandona o barco no meio da tempestade.” Na quinta-feira 10, novos depoimentos de Ghosn foram suspensos por alegados motivos de saúde.
Disponível em Revista Isto é Dinheiro – 16/JAN/2019– ANO 20 – Nº 1103