TEXTO 1
ANDRAGOGIA E O MÉTODO PAULO FREIRE:
ALGUMAS COLOCAÇÕES
(Este texto foi desenvolvido especificamente
para este concurso).
“Andragogia” é um termo de raiz grega que
significa: homem adulto (andros) e orientar ou
conduzir (agogus/agogôs), dessa junção podemos
inferir que andragogia é a orientação ao homem
adulto em sua aprendizagem. Esse termo é a base
de diversas metodologias, pois, é o modelo
educacional de alfabetização para adultos.
A alfabetização para o público infantil e para o
adulto difere em conteúdo, desenvolvimento
cognitivo, objetivos, entre outros elementos
constituintes do ensino e da aprendizagem.
Os elementos acima são admitidos como bases de
desenvolvimento de metodologias ligadas ao público
adulto, a exemplo da Educação de Jovens e Adultos
(EJA), que abarca um público responsável pelo
próprio aprendizado.
O público da EJA sente-se e é capaz de aprender
ao ser direcionado pelo que necessita em seu
cotidiano, ou seja, na experiência de vida construída
por longa trajetória pessoal e profissional e na
bagagem de experiência, como explicita a
Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura; assim sendo, a orientação que
o professor/educador da EJA precisa dispor é a de
centrar o aprendizado na vida, nos problemas e nas
possíveis soluções por meio de discussões e tarefas
feitas pelos alunos/educandos.
Sabe-se que há diferenças entre os educandos da
EJA em referência a: idade, estilo de vida, ritmo de
aprendizado, entrada e/ou tempo de permanência no
ensino regular, necessidade de ser alfabetizado para
(re)ingressar ao mercado de trabalho. Contudo, cada
educando se dedica a aprender para suprir suas
necessidades prementes, então, essas diferenças não
causam diminuição de aprendizado.
Atualmente diversas são as metodologias para o
ensino do público EJA. Neste momento, dedicamonos ao embasamento dado por Carlos Rodrigues
Brandão (2001) que apresentou a origem, formação
e aplicação do Método Paulo Freire.
O relato de 300 educandos alfabetizados em 40
dias em Angicos (Rio Grande do Norte), em
meados dos anos 60, é um marco para o processo
de alfabetização. Isso foi possível por meio de
palavras vindas da vivência dos educandos, são as
palavras geradoras.
De forma breve, o Método Paulo Freire possui dois
momentos importantes para entendermos seu
princípio: o ato educativo como processo de
aprendizagem que implica a politização, ou seja, o
desenvolver da consciência crítica e a
dialogicidade, com base na Pedagogia da
Autonomia, em que o educando começa a repensar
sua própria história, ao ler e escrever. Daí, têm-se
os Fóruns de debate nas salas de aula em Círculos
de Cultura, em que o educador se torna mediador dos debates dialógicos para os educandos
perceberem a realidade de forma democrática,
conscientizadora e libertadora.
O Método Paulo Freire se inicia pela etapa de
investigação, na busca conjunta entre educador e
educando por palavras e temas mais significativos
da vida do educando, no seu universo vocabular e
da comunidade com a qual interage. Logo após,
entramos na etapa de tematização que é a tomada
de consciência do mundo, por meio de análise dos
significados sociais dos temas e das palavras. Na
terceira etapa, a de problematização, o educador
desafia e inspira o educando a superar a visão
mágica e acrítica do mundo, para uma postura
conscientizada.
Um exemplo das três etapas pode ser encontrado
na obra “Educação como prática da liberdade” que
apresenta entrevistas dos educandos com
revelações de desejos, esperanças, frustrações,
angústias, desilusões, interações, entre outros
sentimentos e pensamentos que os constroem.
Além das etapas, Brandão (2001) explica haver
cinco fases no Método Paulo Freire: a primeira
investe no levantamento do universo vocabular do
grupo de educandos e na seleção das palavras
ditas pelos educandos do grupo. A segunda se
entrelaça à escolha das palavras que foram
selecionadas por meio de critérios como riqueza
fonética, dificuldades fonéticas e teor pragmático da
palavra. A terceira envolve a criação de situações
existenciais, características do grupo de
educandos, e a discussão de situações reais que
conduzam à análise crítica dos problemas locais,
regionais e nacionais. A quarta fase está ligada à
elaboração de fichas-roteiro e de guias
orientadores de debates com sugestão de temas.
Já a quinta fase apresenta a elaboração de fichas
com a decomposição das famílias fonéticas que
correspondem às palavras geradoras.
As palavras geradoras são divididas silabicamente
e recombinadas, possibilitando o surgimento de
outras palavras, todas oriundas do universo dos
educandos. Essa forma simples que o Método
Paulo Freire apresenta também provê a
aprendizagem libertadora, pois, rompe com os elos
que formavam as correntes da educação bancária
(pode-se recuperar essa definição na obra
Pedagogia do Oprimido. O método tradicional trata
o aluno como uma “conta” em que o professor
“deposita” conhecimentos. Esses conhecimentos
são exigidos no momento da prova, dificilmente
eles se relacionam com a vivência do aluno).
A educação libertadora traz a formação
integradora ao unir os educandos em círculos para
discutirem os caminhos que aquela palavra propõe,
sempre mediados pela própria realidade, tornam-se
críticos ao (re)pensarem suas vidas, assim, iniciam
o processo de reconhecimentos de questões
ideológicas que foram impostas pela sociedade,
essas questões são dialogadas, debatidas,
discutidas pelos educandos nos círculos de cultura.
O papel do educador no contexto dos círculos de
cultura é o de (1º) apresentar a palavra geradora
inserida na representação de uma situação
concreta; (2º) escrever a palavra geradora; (3º) escrever a palavra geradora separada
silabicamente; (4º) apresentar a família fonêmica da
primeira sílaba; (5º) apresentar a família fonêmica
da segunda sílaba; (6º) apresentar a família
fonêmica da terceira sílaba (se houver e assim por
diante); (7º) apresentam-se as famílias fonêmicas
da palavra geradora. (8º) apresentam-se as vogais.
Assim, com a exposição das sílabas e suas famílias
fonêmicas, o educando é capaz de fazer outras
palavras, englobando a realidade do alfabetizando,
do que ele já conhece, do valor pragmático das
coisas e dos fatos de sua vida cotidiana, bem como
de suas situações existenciais.
É importante ressaltar o respeito ao senso
comum do universo das palavras geradoras e, a
partir dele, o desenvolvimento da andragogia como
real orientação ao homem adulto em sua
aprendizagem, esse é o objetivo maior do Método
Paulo Freire.
(Referências bibliográficas:
BRANDÃO. Carlos Rodrigues. O que é Método Paulo Freire,
São Paulo: Ed. Brasiliense, 2001.)
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17a. ed.
Rio de Janeiro, Paz e Terra.1987.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade.
São Paulo: Paz e Terra, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à
prática educativa. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.)