Questões de Concurso Sobre teoria literária em literatura

Foram encontradas 169 questões

Q2081895 Literatura
No que se refere à literatura infantil, analise os itens a seguir e, ao final, assinale a alternativa correta:
I – Os primeiros livros para crianças foram produzidos ao final do século XVII e durante o século XVIII. II – Antes da constituição do modelo familiar burguês, não havia uma consideração especial para com a infância. III – A nova valorização da infância gerou maior união familiar. 
Alternativas
Q2081891 Literatura
De acordo com a obra de Bordini e Aguiar (Literatura: a formação do leitor), julgue os itens a seguir e, ao final, assinale a alternativa correta:
I – Há uma condição prévia para a manifestação da linguagem; é preciso haver um grupo humano, no qual o sujeito se confronte com o conjunto e se perceba como indivíduo. II – O grupo social é um todo homogêneo. III – A linguagem verbal não é a mais utilizada pelo ser humano. 
Alternativas
Q2055344 Literatura

Leia o excerto e assinale a alternativa incorreta em relação à literatura e à linguagem literária.


“Um poema abolicionista de Castro Alves atua pela eficiência da sua organização formal, pela qualidade do sentimento que exprime, mas também pela natureza da sua posição política e humanitária. Nestes casos a literatura satisfaz, em outro nível, à necessidade de conhecer os sentimentos e a sociedade, ajudando-nos a tomar posição em face deles. É aí que se situa a literatura social, na qual pensamos quase exclusivamente quando se trata de uma realidade tão política e humanitária quanto a dos direitos humanos, que partem de uma análise do universo social e procuram retificar as suas iniquidades.”


(CÂNDIDO, Antônio. Direito à Literatura, 2011, p.183)

Alternativas
Q2052117 Literatura

Texto 1

   Conceição atravessava muito depressa o Campo de Concentração.

   Às vezes uma voz atalhava:

   — Dona, uma esmolinha...

   Ela tirava um níquel da bolsa e passava adiante, em passo ligeiro, fugindo da promiscuidade e do mau cheiro do acampamento.

    Que custo, atravessar aquele atravancamento de gente imunda, de latas velhas, e trapos sujos!

    Mas uma voz a fez parar.

    – Doninha, dona Conceição, não me conhece?

   Era uma mulata de saia preta e cabeção encardido, que, ao ver a moça, parara de abanar o fogo numa trempe, e a olhava rindo.

    Conceição forçou a memória.

    – Sim... Ah! É a Chiquinha Boa! Por aqui? Mas você não era moradora de seu Vicente? Saiu de lá?

    A mulher inclinou a cabeça para o ombro, coçou a nuca:

    – A gente viúva... Sem homem que me sustentasse... Diziam que aqui o governo andava dando comida aos pobres... Vim experimentar...

    Já Conceição, esquecendo a pressa, sentarase num tronco de cajueiro, interessada por aquela criatura que chegava do sertão:

      – E tudo por lá? Bem?

     – Vai, sim senhora. Seu Major, dona Idalina e as moças foram pro Quixadá. Só ficou o seu Vicente...

     Conceição espantou-se:

    – E eu não sabia! Também faz dias que a Lourdinha não me escreve! Então o Vicente está sozinho? Por quê, coitado?

    – Ora, as moças pegaram a falar que não aguentavam mais... Seu Vicente também achava ali muito ruim para a família... Sem banho, mandando buscar água a mais de légua de distância... Ele mesmo só ficou porque carecia dele lá, mode o gado. Mas toda semana vai no Quixadá...

     A moça comoveu-se com esse isolamento:

    — Imagino como a vida do pobre não é triste!

     A mulher riu-se.

    – Qual nada! Seu Vicente é pessoa muito divertida... É naquela labuta, mas sempre tirando prosa com um, com outro... É um moço muito sem bondade... Dizedor de prosa como ele só!...

     Conceição deixava-a falar, e a Chiquinha continuou, num riso malicioso:

    – E até aquela filha do Zé Bernardo, só porque sempre ele passa lá e diz alguma palavrinha a ela, anda toda ancha, se fazendo de boa...

     Conceição estranhou a história e não pôde se conter:

     – E ele tem alguma coisa com ela?

      A mulata encolheu os ombros:

      – O povo ignora muito... se tiver, pior pra ela... Que moço branco não é pra bico de cabra que nem nós...  

    A conversa principiou a incomodar Conceição; o mau cheiro do campo parecia mais intenso; e levantou-se, dando uma prata à mulher:

    – Amanhã eu volto e vejo como vocês vão... Todos os dias venho aqui, ajudar na entrega dos socorros... Se você tiver muita precisão de alguma coisa, me peça, que eu faço o que puder...

     Quando transpôs o portão do Campo, e se encostou a um poste, respirou mais aliviada. Mas, mesmo de fora, que mau cheiro se sentia! 

    Através da cerca de arame, apareciam-lhe os ranchos disseminados ao acaso. Até a miséria tem fantasia e criara ali os gêneros de habitação mais bizarros

     Uns, debaixo dum cajueiro, estirados no chão, quase nus, conversavam.

   Outros absolutamente ao tempo, apenas com a vaga proteção de uma parede de latas velhas, rodeavam um tocador de viola, um cego, que cantava numa melopeia cansada e triste:

        Ninguém sabe o que padece

       Quem sua vista não tem!...

       Não poder nunca enxergar

       Os olhos de quem quer bem!...

       E junto deles, uma cabocla nova atiçava um fogo. 

     Uma velha, mais longe, sentada nuns tijolos, fazia com que uma caboclinha muito magra e esmolambada lhe catasse os cabelos encerados de sujeira.

     E, além, uma família de Cariri velava um defunto, duro e seco, apenas recoberto por farrapos de cor indecisa.

      Conceição sabia quem ele era. Tinha morrido ao meio-dia, e a sua gente teimava em não o misturar com os outros mortos.

      O bonde chegou.

     Ainda sob a impressão da conversa com a Chiquinha Boa, a moça pensava em Vicente. E novamente sofreu o sentimento de desilusão e despeito que a magoara quando a mulher falava.

     “Sim, senhor! Vivia de prosear com as caboclas e até falavam muito dele com a Zefa do Zé Bernardo!”

     E ela, que o supunha indiferente e distante, e imaginava que, aos olhos dele, todo o resto das mulheres deste mundo se esbatia numa massa confusa e indesejada...

     Que julgara ter sido ela quem lhe acordara o interesse arisco e desdenhoso do coração!...

      “Uma cabra, uma cunhã à toa, de cabelo pixaim e dente podre!...”


(QUEIROZ. R. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012)

Quanto ao que afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais acerca do ensino de Literatura, é CORRETO afirmar somente que:
Alternativas
Q2031363 Literatura
Dentro dos estudos literários, é fundamental que se reconheçam recursos estilísticos, como as figuras de linguagem. Nesse cenário, ao analisar a frase “Um pequeno passo para um homem, um grande passo para a humanidade”, é correto afirmar que se tem exemplo de
Alternativas
Q2007442 Literatura
Leia: O primeiro acesso de ciúmes do narrador acontece ainda durante o namoro; quando José Dias o visita, menciona a alegria de Capitu, acrescentando: “Aquilo enquanto não pegar algum peralta da vizinhança que case com ela…”. As palavras do amigo, novamente parecem despertar uma espécie de epifania no protagonista, desta vez levando-o a pensar que a amada casaria com outro na sua ausência. As desconfianças começam nesse capítulo (LXII), intitulado "Uma ponta de Iago". Machado de Assis faz uma referência direta a Otelo, tragédia de _____________ sobre ciúme e adultério. Na peça, Iago é o vilão que leva o protagonista a acreditar que a sua esposa o traia.
https://www.culturagenial.com/livro-dom-casmurro-de-machado-de-assis/
Considerando a análise da obra “Dom Casmurro”, o excerto deve ter sua lacuna completada com:
Alternativas
Q2007441 Literatura
Dom Casmurro é um romance de Machado de Assis, publicado em 1899. Narrado na primeira pessoa, tendo como protagonista: 
Alternativas
Q2006237 Literatura
Os que regressavam consigo, clérigos, astrólogos genoveses, comerciantes judeus, aias, contrabandistas de escravos, brancos pobres do Bairro Prenda, do Bairro da Cuca, abraçados a volumes de serapilheira, a malas atadas com cordéis, a cestos de verga, a brinquedos quebrados, formavam uma serpente de lamentos e miséria aeroporto adiante, empurrando a bagagem com os pés (na faixa reservada aos passageiros em trânsito passavam islandeses altos e desgrenhados como pássaros de rio) na direcção de uma secretária a que se sentava, em um escabelo, um escrivão que lhe perguntou o nome (Pedro Álvares quê?), o conferiu numa lista datilografada cheia de emendas e de cruzes a lápis tirou os óculos de ver ao perto para o examinar melhor, inclinado de banda no poleiro de fórmica, passeou o polegar errático no bigode e inquiriu de repente Tendes família em Portugal?, e eu disse Senhor não, muito depressa, sem pensar, porque a minha velha se finou de icterícia há seis anos e dos tios que aqui permaneceram quase não me recordo ou não me recordo nunca, ignoro se ficaram em Coruche e se ficaram onde moram, com quem moram, quantos filhos têm, se estão vivos.


ANTUNES, António Lobo. As naus. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

Levando-se em conta as possibilidades de foco narrativo apresentadas por Lígia Chiappini Moraes Leite (2002), com base na tipologia de Norman Friedman, observa-se no excerto e ao longo do romance o uso de
Alternativas
Q2006235 Literatura
Bosi (2006) faz uma análise sob a perspectiva de Lucien Goldmann, que propõe uma abordagem genético-estrutural do romance tendo como ponto de partida a tensão entre o escritor e a sociedade. Ao estabelecer essa tensão como dado existencial primário, Goldmann define uma “hipótese explicativa do romance moderno, na sua relação com a totalidade social”, em que o romance se funda na oposição ego e sociedade. Dessa hipótese, deriva uma classificação que estabelece a existência de romances em que o herói ou empreende uma busca por valores pessoais que vençam a hostilidade do meio em que vive, como em Dom Quixote, ou se fecha em si mesmo, como em A Educação Sentimental, de Flaubert, podendo, ainda, aprender a viver, como em Wilhelm Meister, de Goethe.
Uma revisão do esquema de Goldmann possibilita a análise do romance brasileiro moderno, após 1930, a partir da observação de um grau crescente de tensão entre o herói e o seu meio.
Sobre essa análise, é INCORRETO afirmar que
Alternativas
Q2006234 Literatura
Bosi (2006) afirma que uma leitura crítica da poesia concreta não deve se embasar em conceitos preestabelecidos. Assim, o primeiro passo seria sentir a experiência concreta, para só depois se debruçar sobre os princípios teóricos que a fundamentam. Um poema concreto seria, primeiramente, uma experiência estética que, através da inovação, buscou romper os limites entre a poesia e as demais formas de arte.
Com base nas análises do autor sobre o movimento concretista brasileiro, é correto afirmar que 
Alternativas
Q2006232 Literatura

HÚMUS


Pátios de lajes soerguidas pelo único

esforço da erva: o castelo –

a escada, a torre, a porta,

                                                  a praça. 

Tudo isto flutua debaixo

de água, debaixo de água.

                                               − Ouves

o grito dos mortos?


A pedra abre a cauda de ouro incessante,

só a água fala nos buracos.


São palavras pronunciadas com medo de pousar,

uma tarde que viesse na ponta dos pés, o som

devagar de uma

borboleta.

                                      − A morte não tem

só cinco letras. Como a claridade na água

para me entontecer,

                                       a cantaria lavrada:

com um povo de estátuas em cima,

com um povo de mortos em baixo.


Primaveras extasiadas, espaços negros, flores desmedidas

− todos os dias debalde repelimos os mortos.


É preciso criar palavras, sons, palavras

vivas, obscuras, terríveis.

[...]


HELDER, Herberto. Poemas completos. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2016. p. 215-216.

O poema de Herberto Helder, do qual se apresenta apenas o excerto inicial, foi construído a partir de fragmentos provenientes de uma edição distinta da obra homônima de Raul Brandão (a segunda edição, não considerada como versão definitiva), resgatando tal produção após quase 50 anos de seu lançamento.
Com base no excerto, em seu diálogo com o texto-fonte e nas características da produção de Herberto Helder apontadas por Saraiva e Lopes (2004), leia as afirmações abaixo e marque V, para as verdadeiras, e F, para as falsas.
( ) Ao empreender uma operação que recombina diferentes passagens do texto-fonte, Herberto Helder adota uma postura de transgressão da linearidade do discurso. Com isso, não só se alinha à experimentação que predomina na poesia portuguesa durante a década de 1960, mas também se mostra tributário do Surrealismo, uma vez que a montagem possibilita uma liberdade metafórica própria desse movimento. ( ) A rede imagética obtida pela modificação do texto-fonte altera a cena inicial, trazendo ao poema camadas de significação distintas daquelas que se manifestam na abertura da obra de Brandão. A presença, por exemplo, de metáforas associadas ao elemento aquático minimiza o abatimento associado à imagem do “invólucro de pedra”, dado pertencerem ao campo semântico da fluidez. ( ) A transmutação operada por Helder no nível do significante também se manifesta tematicamente: imagens ligadas à finitude são apresentadas juntamente com símbolos de fecundação e renascimento, sugerindo uma ideia de coincidência dos opostos própria do imaginário hermético-alquímico. A simetria entre o que está “em cima” e o que está “em baixo” reforça essa possibilidade interpretativa.
A sequência correta, de cima para baixo, é
Alternativas
Q2006228 Literatura
— Se não, vejam vossas senhorias isto! Que paz, que animação, que prosperidade!
E com um grande gesto mostrava-lhes o Largo do Loreto, que àquela hora, num fim de tarde serena, concentrava a vida da cidade. Tipoias vazias rodavam devagar; pares de senhoras passavam, com os movimentos derreados, a palidez clorótica duma degeneração de raça; nalguma magra pileca, ia trotando algum moço de nome histórico, com a face ainda esverdeada da noitada de vinho; pelos bancos de praça gente estirava-se num torpor de vadiagem; um carro de bois, aos solavancos sobre suas altas rodas, era como o símbolo de agriculturas atrasadas de séculos; fadistas gingavam, de cigarro nos dentes; algum burguês enfastiado lia nos cartazes o anúncio de operetas obsoletas; nas faces enfezadas de operários havia como a personificação das indústrias moribundas... E todo este mundo decrépito se movia lentamente, sob um céu lustroso de clima rico, entre garotos apregoando a lotaria e a batota pública, e rapazitos de voz plangente oferecendo o Jornal das pequenas novidades [...].

 QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda,
2000.
No que se refere aos recursos estilísticos que Saraiva e Lopes (2004) reconhecem na prosa de Eça de Queirós, observa-se no excerto o emprego de
Alternativas
Q2006227 Literatura
— Se não, vejam vossas senhorias isto! Que paz, que animação, que prosperidade!
E com um grande gesto mostrava-lhes o Largo do Loreto, que àquela hora, num fim de tarde serena, concentrava a vida da cidade. Tipoias vazias rodavam devagar; pares de senhoras passavam, com os movimentos derreados, a palidez clorótica duma degeneração de raça; nalguma magra pileca, ia trotando algum moço de nome histórico, com a face ainda esverdeada da noitada de vinho; pelos bancos de praça gente estirava-se num torpor de vadiagem; um carro de bois, aos solavancos sobre suas altas rodas, era como o símbolo de agriculturas atrasadas de séculos; fadistas gingavam, de cigarro nos dentes; algum burguês enfastiado lia nos cartazes o anúncio de operetas obsoletas; nas faces enfezadas de operários havia como a personificação das indústrias moribundas... E todo este mundo decrépito se movia lentamente, sob um céu lustroso de clima rico, entre garotos apregoando a lotaria e a batota pública, e rapazitos de voz plangente oferecendo o Jornal das pequenas novidades [...].

 QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda,
2000.
No excerto acima, retirado de O crime do padre Amaro, a fala veiculada antes do comentário do narrador indica uma 
Alternativas
Q2006222 Literatura

Texto 1


 Ali começa o sertão chamado bruto.


Pousos sucedem a pousos, e nenhum teto habitado ou em ruínas, nenhuma palhoça ou tapera dá abrigo ao caminhante contra a frialdade das noites, contra o temporal que ameaça, ou a chuva que está caindo. Por toda a parte, a calma da campina não arroteada; por toda a parte, a vegetação virgem, como quando aí surgiu pela vez primeira. 

[...]

Essa areia solta, e um tanto grossa, tem cor uniforme que reverbera com intensidade os raios do Sol, quando nela batem de chapa. Em alguns pontos é tão fofa e movediça que os animais das tropas viageiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquele terreno incerto, que lhes foge de sob os cascos e onde se enterram até meia canela.

[...]

Ora é a perspectiva dos cerrados, não desses cerrados de arbustos raquíticos, enfezados e retorcidos de São Paulo e Minas Gerais, mas de garbosas e elevadas árvores que, se bem não tomem, todas, o corpo de que são capazes à beira das águas correntes ou regadas pela linfa dos córregos, contudo ensombram com folhuda rama o terreno que lhes fica em derredor e mostram na casca lisa a força da seiva que as alimenta; ora são campos a perder de vista, cobertos de macega alta e alourada, ou de viridente e mimosa grama, toda salpicada de silvestres flores; ora sucessões de luxuriantes capões, tão regulares e simétricos em sua disposição que surpreendem e embelezam os olhos; ora, enfim, charnecas meio apauladas, meio secas, onde nasce o altivo buriti e o gravata entrança o seu tapume espinhoso.


Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do Sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro.


TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. Inocência. Porto Alegre: L&PM, 1999.


Texto 2 


Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:

− Então patrício? está doente?

− Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi

uma dinheirama do meu patrão...

− A la fresca!...

− É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele pensar agora de mim!...

− É uma dos diabos, é...; mas não se acoquine, homem!

Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo

correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...

Ah!... E num repente lembrei-me bem de tudo.

Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho, a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi, e, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o cinto das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma última tragada, antes de entrar na água, e que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia, fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes
que outros andantes passassem.
[...]
LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: L&PM, 1998.

Texto 3 

Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.

    Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...”- dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - “Tatu não vê a lua...”- ela falasse. [...] 

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
Os excertos acima pertencem a obras representativas de diferentes manifestações do regionalismo.
Com base nas ponderações de Bosi (2006) sobre essa vertente da literatura brasileira, em qual afirmativa é estabelecida uma relação adequada entre as produções citadas, suas características regionalistas e seu contexto de produção?
Alternativas
Q2006213 Literatura
O “Quarto de despejo” e o spread literário

Luiz Maurício Azevedo 

texto_1 1.png (723×364)

texto_1 2.png (720×528)
texto_1 3.png (723×651)









AZEVEDO, Luiz Maurício. O “Quarto de despejo” e o spread literário. Correio do Povo,
Porto Alegre, 3 out. 2020.

O interesse renovado por Quarto de despejo, como exemplificam as recentes pesquisas apontadas no último parágrafo do texto de Azevedo, ilustra, em alguma medida, o que observa Antônio Candido (2006) no excerto a seguir, retirado de Literatura e sociedade: “[a] obra não é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo”.


Tendo em mente o embasamento sociológico por meio do qual o crítico investiga a relevância e a interseção de categorias como autor, obra e público, para se compreender o funcionamento do sistema literário, leia as afirmações abaixo e marque V, para as verdadeiras, e F, para as falsas.


( ) No concernente à categoria do autor, nota-se que depende não só do processo da (auto)identificação do produtor como componente de um segmento específico, mas também das condições de existência encontradas pelos membros desse coletivo, as quais se ligam ao imaginário social estabelecido sobre o papel/função que desempenham.

( ) Conquanto a categoria do público funcione como mediadora entre obra e autor, dada a contribuição trazida pelas reações do(s) leitor(es) para aguçar o olhar do criador sobre a própria criação, sua importância é considerada relativa, haja vista que nem todo escritor pauta diretamente seu processo compositivo nas expectativas do receptor.

( ) Ainda no que se refere ao público, sua configuração se dá pela existência e natureza dos meios de comunicação – esta última marcada tanto pelos instrumentos de divulgação quanto pelo grau de instrução e pelos hábitos intelectuais de quem divulga −, pela formação de uma opinião literária e pela diferenciação de setores mais restritos que tendem à liderança do gosto.

( ) Consideradas as três categorias em correlação, observa-se que o reconhecimento da posição do escritor (a receptividade às suas ideias ou à sua técnica, a remuneração do seu trabalho) depende da aceitação da sua obra por parte do público médio. Escritor e obra constituem, pois, um par solidário, funcionalmente vinculado ao público.


A sequência correta, de cima para baixo, é

Alternativas
Q2006212 Literatura
O “Quarto de despejo” e o spread literário

Luiz Maurício Azevedo 

texto_1 1.png (723×364)

texto_1 2.png (720×528)
texto_1 3.png (723×651)









AZEVEDO, Luiz Maurício. O “Quarto de despejo” e o spread literário. Correio do Povo,
Porto Alegre, 3 out. 2020.
Ao tecer comentários relativos à recepção crítica de Quarto de Despejo no decorrer desses 60 anos de lançamento, Luiz Maurício Azevedo faz ponderações sobre o processo de valoração de uma obra e, em última instância, sobre a natureza mesma do objeto literário. Em Teoria da literatura: uma introdução, Terry Eagleton (2006) procura justamente discutir as implicações das variadas tentativas de se definir literatura, o que permite aproximar o debate suscitado pelo crítico brasileiro das ideias veiculadas pelo filósofo britânico, salvaguardadas as diferenças de cada abordagem.
Leia as afirmativas a seguir, em que se avaliam posições de Azevedo à luz do exposto no estudo de Eagleton.
I. Por considerar que “o exercício da crítica tem muito a dizer sobre as coisas e sobre o modo como o mundo funciona”, reputando ser “especificamente por isso que sobre alguns livros a intelligentsia se sente compelida a dizer muito pouco ou quase nada” (linhas 38-40), Azevedo mostra, em conformidade com Eagleton, que julgamentos e silenciamentos estão ligados a um sistema de crenças e de preconceitos estruturado socialmente, o qual se associa ao modo pelo qual se configuram as relações de poder. II. Quando Azevedo reconhece em “Quarto de despejo” a presença de “uma matéria muito mais áspera que as utilizadas pela maioria esmagadora de seus pares”, em cujos textos constata-se um “conforto estético” compatível ao de sua experiência empírica (linhas 49-51), provavelmente está aludindo ao conceito de desfamiliarização ou estranhamento, que decorre das contribuições trazidas pelos formalistas russos e possibilita a Eagleton identificar o modo pelo qual se manifesta a literariedade. III. A menção à “profundidade escura” do “modernismo cru” de Carolina Maria de Jesus, bem como à “complexidade sufocante das estratégias que criou para dissolver a realidade e fazer com que ela coubesse na miúda sintaxe de sua escolarização precária” (linhas 68-70), sugere que a linguagem presente em Quarto de Despejo não atinge o critério de beleza na escrita, o qual Eagleton, a partir dos postulados estabelecidos pela retórica, identifica como um dos requisitos funcionais para a distinção entre literário e não literário.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
Alternativas
Q1977862 Literatura

Texto para o item.


   Guardou a mão no bolso pra ainda ocupar menos lugar; encontrou um pedaço de giz; apertou ele com força e o giz se partiu em dois. Com um barulhinho gostoso mesmo. Barulhinho de escola. Vera lembrou da professora quebrando um pedaço de giz e escrevendo no quadro-negro. Pensou: quadro-negro é escuro assim. Quem sabe o giz também riscava a escuridão?


    Tirou a mão do bolso devagarinho. Tomou coragem e experimentou desenhar na frente dela a roda de um sol. E não é que saiu? Vera ficou tão feliz que berrou:


   — O escuro é que nem quadro-negro, Alexandre! Alexandre foi pra junto dela; pegou o outro pedaço de giz, e foi desenhando também. Uma casa. Uma árvore. Uma onda no mar. Quanto mais os dois desenhavam, menos iam se importando com o escuro. Fizeram uma flor nascendo, um rio correndo, dois besouros se encontrando; fizeram cada desenho lindo. E quanto menos se importavam com o escuro, mais gostoso iam desenhando. De repente, Alexandre teve uma ideia gozada:


   — Vou desenhar a cara do medo.


   Vera se assustou de novo:


   — Psiu! fala baixo.


   — Por quê?


   — Ele pode não gostar da ideia.


   — Mas ele ainda anda por aí?


   — Acho que sim.


   Alexandre achou melhor não dizer mais nada, mas começou a desenhar uma cara esquisita, toda inchada de um lado:


   — O medo tá com dor de dente. — E riu baixinho.


   O Pavão gostou tanto de ouvir Alexandre rindo, que riu também.


   Vera entrou na brincadeira: desenhou no medo uma orelha inchada e disse que ele estava com dor de ouvido também (…). E não se importaram mais se o medo ia ouvir ou não: desabaram numa gargalhada. 



Lygia Bojunga. A casa da madrinha. Casa Lygia Bojunga:

Rio de Janeiro, 2015 (com adaptações).


Com base no texto apresentado, julgue o item, relativos à literatura infantil brasileira.
A reescrita de mitos clássicos presente na obra de Monteiro Lobato influencia a narrativa de Lygia Bojunga, como no modo lúdico a partir do qual o fragmento aborda o medo.

Alternativas
Q1977848 Literatura
O tema negro não é único ou obrigatório, nem se transforma em uma camisa de força para o autor afro-descendente, o que redundaria em visível empobrecimento. Por outro lado, nada obriga que a matéria ou o assunto negro estejam ausentes da escrita dos brancos, atraídos desde cedo pela busca do exótico e da cor local. Nas primeiras décadas do Modernismo, auge da moda primitivista e negrista na literatura e nas artes de vanguarda, ocorrem inúmeras apropriações, incorporadas a textos hoje clássicos, apesar da advertência de Oswald de Andrade contra a “macumba para turistas”. Por isto mesmo, é preciso enfatizar que a adoção da temática afro não deve ser considerada isoladamente e, sim, em sua interação com outros fatores, como autoria e ponto de vista. 

Eduardo de Assis Duarte. Literatura afro-brasileira: um conceito em construção. In: Estudos de literatura brasileira contemporânea, n.º 31, 2008, p. 14 (com adaptações).
Considerando o texto acima e os diversos aspectos relacionados à literatura afro-brasileira, julgue o item.
O negrismo pode ser encontrado em obras como Poemas negros, de Jorge de Lima, em que a subjetividade negra é representada pelo discurso do branco, em procedimento equiparável ao indianismo dos românticos, quando o nativo surgia reduzido a objeto da fantasia do colonizador.  
Alternativas
Q1911161 Literatura
A Literatura Brasileira possui grandes escritores e obras. Assinale a alternativa com a associação INCORRETA.
Alternativas
Q1887269 Literatura
Direito à Literatura


    Em comparação a eras passadas, chegamos a um máximo de racionalidade técnica e de domínio sobre a natureza. Isso permite imaginar a possibilidade de resolver grande número de problemas materiais do homem. No entanto, a irracionalidade do comportamento é também máxima, servida frequentemente pelos meios que deveriam realizar os desígnios da racionalidade. Assim, com a energia atômica, podemos ao mesmo tempo gerar força criadora e destruir a vida pela guerra; com o incrível progresso industrial, aumentamos o conforto até alcançar níveis nunca sonhados, mas excluímos dele as grandes massas que condenamos à miséria. E aí entra o problema dos direitos humanos.

    Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Vista deste modo, a literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação.

    Acabei de focalizar a relação da literatura com os direitos humanos de dois ângulos diferentes. Primeiro, a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque, pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão de mundo, ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. Em segundo lugar, a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles. Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável.


Antonio Candido. Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2011, p. 171 a 193 (com adaptações).
Tendo como referência o texto acima, de Antonio Candido, julgue o item, relativo à teoria literária e à literatura brasileira.

O texto de Antonio Candido e a tese que defende podem ser considerados como um contraponto às tendências contemporâneas da literatura brasileira, uma vez que os gêneros literários narrativos hoje apresentam uma reinvenção no aspecto formal, com um conceito de literatura mais abrangente e temas que problematizam a nossa diversidade por meio de estruturas, muitas vezes, híbridas. Da mesma forma, essa reinvenção formal também ocorre na poesia, sobretudo desde o Concretismo.
Alternativas
Respostas
121: E
122: A
123: E
124: B
125: A
126: E
127: D
128: D
129: B
130: D
131: C
132: B
133: D
134: C
135: B
136: A
137: E
138: C
139: C
140: E