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Mas mesmo a praça, na acepção de espaço em que as pessoas se socializam, se enfraqueceu. É significativo que Roberto DaMatta, ao analisar a oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, oponha à casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, no sentido quase etimológico, do círculo, da ida e vinda, do encontro e reencontro: quem se lembra do que se chamava footing nas cidades do interior (os rapazes e moças dando voltas na praça, uns no sentido do relógio e outros no contrário, de modo a se cruzarem seguidas vezes) sabe do que falo. Já a rua é caminho de ida sem volta. Fica-se na praça, anda-se na rua. Vai-se, sai-se.
Ou tomemos outro lado da mesma questão. Como puxamos assunto com um estranho? Alfred Jarry, o autor de Ubu rei, dizia que um dia encontrou uma moça linda, na sala de espera de um médico. Não sabia como abordá-la – como iniciar a conversa. Sacou então de um revólver, deu um tiro no espelho que havia ali, voltou-se para ela e disse: Mademoiselle, agora que quebramos la glace (palavra que quer dizer tanto o gelo quanto o espelho)... É óbvio que era uma brincadeira; a piada valia mais para ele do que a conquista amorosa; imagino a moça gritando, fugindo; mas a questão fica: como quebrar o gelo, como criar um elo?
Stendhal, no seu ensaio “A comédia é impossível em 1836”, diz que os cortesãos, reunidos em Versalhes por Luís XIV, obrigados a ficar lá o dia todo, ou achavam assunto – ou morreriam de tédio. Assim, diz ele, nasceu a arte da conversa.Temas pequenos, leves, mas sobretudo agradáveis começaram a constituir um ponto de encontro de seus desejos e interesses. É nesse mesmo século XVII, segundo Peter Burke [...], que franceses, ingleses e italianos reivindicam a invenção da conversa como arte. Regra suprema: não falar de negócios ou trabalho. Regra suplementar: agradar às mulheres. A arte da conversa é uma retórica do dia a dia. Ela se abre até mesmo para uma dimensão segunda, que é a arte da sedução. Casanova era grande conversador e sedutor renomado.
Eis a questão: uma sociedade que se civiliza precisa de assuntos que sirvam de ponto de encontro para as pessoas, e sobretudo para os estranhos que assim entram em contato. No campo, conheço quase todos os vizinhos; na cidade grande, porém, a maioria é de estranhos. Sai-se do mundo rural quando se começa a conhecer o diferente, o outro – e a aceitá-lo. Isso se dá mediante a oferta de assuntos que abram uma conversa.
Daí a importância de expressões que minimizam ou mesmo aparentemente humilham essa conversa mole, como o small talk, o papo furado ou a bela expressão “jogar conversa fora”, que é muitíssimo sutil, porque dilapidamos palavras justamente para construir amizades, isto é, dissipamos nosso tempo, como num potlatch indígena, precisamente para criar o que há de melhor na vida.
(RIBEIRO, Renato J. <www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html>)
Preserva-se o esquema de oposições observado em: “...oponha à casa a rua, e não a praça.” (§ 2) com a seguinte distribuição de acentos graves:
Mas mesmo a praça, na acepção de espaço em que as pessoas se socializam, se enfraqueceu. É significativo que Roberto DaMatta, ao analisar a oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, oponha à casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, no sentido quase etimológico, do círculo, da ida e vinda, do encontro e reencontro: quem se lembra do que se chamava footing nas cidades do interior (os rapazes e moças dando voltas na praça, uns no sentido do relógio e outros no contrário, de modo a se cruzarem seguidas vezes) sabe do que falo. Já a rua é caminho de ida sem volta. Fica-se na praça, anda-se na rua. Vai-se, sai-se.
Ou tomemos outro lado da mesma questão. Como puxamos assunto com um estranho? Alfred Jarry, o autor de Ubu rei, dizia que um dia encontrou uma moça linda, na sala de espera de um médico. Não sabia como abordá-la – como iniciar a conversa. Sacou então de um revólver, deu um tiro no espelho que havia ali, voltou-se para ela e disse: Mademoiselle, agora que quebramos la glace (palavra que quer dizer tanto o gelo quanto o espelho)... É óbvio que era uma brincadeira; a piada valia mais para ele do que a conquista amorosa; imagino a moça gritando, fugindo; mas a questão fica: como quebrar o gelo, como criar um elo?
Stendhal, no seu ensaio “A comédia é impossível em 1836”, diz que os cortesãos, reunidos em Versalhes por Luís XIV, obrigados a ficar lá o dia todo, ou achavam assunto – ou morreriam de tédio. Assim, diz ele, nasceu a arte da conversa.Temas pequenos, leves, mas sobretudo agradáveis começaram a constituir um ponto de encontro de seus desejos e interesses. É nesse mesmo século XVII, segundo Peter Burke [...], que franceses, ingleses e italianos reivindicam a invenção da conversa como arte. Regra suprema: não falar de negócios ou trabalho. Regra suplementar: agradar às mulheres. A arte da conversa é uma retórica do dia a dia. Ela se abre até mesmo para uma dimensão segunda, que é a arte da sedução. Casanova era grande conversador e sedutor renomado.
Eis a questão: uma sociedade que se civiliza precisa de assuntos que sirvam de ponto de encontro para as pessoas, e sobretudo para os estranhos que assim entram em contato. No campo, conheço quase todos os vizinhos; na cidade grande, porém, a maioria é de estranhos. Sai-se do mundo rural quando se começa a conhecer o diferente, o outro – e a aceitá-lo. Isso se dá mediante a oferta de assuntos que abram uma conversa.
Daí a importância de expressões que minimizam ou mesmo aparentemente humilham essa conversa mole, como o small talk, o papo furado ou a bela expressão “jogar conversa fora”, que é muitíssimo sutil, porque dilapidamos palavras justamente para construir amizades, isto é, dissipamos nosso tempo, como num potlatch indígena, precisamente para criar o que há de melhor na vida.
(RIBEIRO, Renato J. <www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html>)
A alternativa em que o adjunto adverbial expressa a mesma circunstância que DE TÉDIO, em “morreriam de tédio” (§ 4), é:
Mas mesmo a praça, na acepção de espaço em que as pessoas se socializam, se enfraqueceu. É significativo que Roberto DaMatta, ao analisar a oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, oponha à casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, no sentido quase etimológico, do círculo, da ida e vinda, do encontro e reencontro: quem se lembra do que se chamava footing nas cidades do interior (os rapazes e moças dando voltas na praça, uns no sentido do relógio e outros no contrário, de modo a se cruzarem seguidas vezes) sabe do que falo. Já a rua é caminho de ida sem volta. Fica-se na praça, anda-se na rua. Vai-se, sai-se.
Ou tomemos outro lado da mesma questão. Como puxamos assunto com um estranho? Alfred Jarry, o autor de Ubu rei, dizia que um dia encontrou uma moça linda, na sala de espera de um médico. Não sabia como abordá-la – como iniciar a conversa. Sacou então de um revólver, deu um tiro no espelho que havia ali, voltou-se para ela e disse: Mademoiselle, agora que quebramos la glace (palavra que quer dizer tanto o gelo quanto o espelho)... É óbvio que era uma brincadeira; a piada valia mais para ele do que a conquista amorosa; imagino a moça gritando, fugindo; mas a questão fica: como quebrar o gelo, como criar um elo?
Stendhal, no seu ensaio “A comédia é impossível em 1836”, diz que os cortesãos, reunidos em Versalhes por Luís XIV, obrigados a ficar lá o dia todo, ou achavam assunto – ou morreriam de tédio. Assim, diz ele, nasceu a arte da conversa.Temas pequenos, leves, mas sobretudo agradáveis começaram a constituir um ponto de encontro de seus desejos e interesses. É nesse mesmo século XVII, segundo Peter Burke [...], que franceses, ingleses e italianos reivindicam a invenção da conversa como arte. Regra suprema: não falar de negócios ou trabalho. Regra suplementar: agradar às mulheres. A arte da conversa é uma retórica do dia a dia. Ela se abre até mesmo para uma dimensão segunda, que é a arte da sedução. Casanova era grande conversador e sedutor renomado.
Eis a questão: uma sociedade que se civiliza precisa de assuntos que sirvam de ponto de encontro para as pessoas, e sobretudo para os estranhos que assim entram em contato. No campo, conheço quase todos os vizinhos; na cidade grande, porém, a maioria é de estranhos. Sai-se do mundo rural quando se começa a conhecer o diferente, o outro – e a aceitá-lo. Isso se dá mediante a oferta de assuntos que abram uma conversa.
Daí a importância de expressões que minimizam ou mesmo aparentemente humilham essa conversa mole, como o small talk, o papo furado ou a bela expressão “jogar conversa fora”, que é muitíssimo sutil, porque dilapidamos palavras justamente para construir amizades, isto é, dissipamos nosso tempo, como num potlatch indígena, precisamente para criar o que há de melhor na vida.
(RIBEIRO, Renato J. <www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html>)
O pronome ou advérbio pronominal que faz referência, não a um segmento do texto, mas a algo que se encontra no universo fora dele, está destacado em:
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar é o órgão da Câmara competente para examinar as condutas puníveis e propor as penalidades aplicáveis aos Vereadores submetidos ao processo disciplinar, previsto no Código de Ética e Decoro Parlamentar.
Nesse contexto, consoante dispõe o regimento interno da Câmara Municipal de Salvador:
O Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) é um instrumento de publicação periódica, que permite o controle da execução do orçamento aprovado.
Esse relatório deve ser publicado:
O Município de Pinhas, ao elaborar o Demonstrativo da Despesa com Pessoal referente ao 1º quadrimestre de 2017, previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal, inesperadamente descobriu que ultrapassou os 95% do limite definido no Art. 20 da LRF.
Diante dessa situação, o Município ficou vedado de:
A Prefeitura da cidade de Pinhas realizou um grande investimento em tecnologia e disponibilizou um site de transparência, visando garantir ao cidadão o acesso a todas as informações, em conformidade com os preceitos da Lei nº 12.527/2011.
Para ser verificado o cumprimento dos direitos dos cidadãos previstos nesse preceito legal é imprescindível que nesse site de transparência tenham sido disponibilizadas as informações:
No momento da arrecadação de impostos é realizado o lançamento a seguir, o qual demonstra uma informação de natureza patrimonial.
D 1.1.1.1 Caixa e Equivalentes de Caixa em Moeda Nacional (F)
C 1.1.2.1 Créditos Tributários a Receber (P)
Esse lançamento representa o seguinte fato contábil: