Há fome por trás do aquecimento global
A escalada da temperatura global empurra para cima
indicadores de insegurança alimentar, fome e desigualdade
socioeconômica. Dados divulgados recentemente pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM), uma agência especializada das Nações Unidas, confirmam essa premissa e expõem sua assustadora dimensão humana. Em 2023, quando
a temperatura global cravou o recorde de 1,45 ºC acima da
média registrada no período de 1850-1900, pelo menos 333
milhões de pessoas estavam vivendo em situação de insegurança alimentar mundo afora.
A mudança climática não é, obviamente, a causa primária
dessa massa de desvalidos, como ressalta a OMM em seu
recente relatório Estado do Clima Global. Conflitos, violência,
crises econômicas locais, preços de alimentos e quebras de
safras agrícolas estão comumente no epicentro do problema.
Porém, são agravados por secas, inundações e eventos climáticos cada vez mais acentuados e frequentes – os efeitos
há muito reconhecidos do aquecimento global. Esse quadro
explica o aumento da pobreza e da fome no planeta e a desesperada migração de contingentes humanos vulneráveis
para locais onde esperam, no mínimo, sobreviver.
“A crise climática é o maior desafio da humanidade e está
diretamente relacionada à desigualdade e ao aumento da
pobreza e da instabilidade, com agravamento da insegurança alimentar, de deslocamento de populações e da perda de
biodiversidade”, resumiu Celeste Saulo, secretária-geral da
OMM.