Questões de Concurso Público IFN-MG 2024 para Professor EBTT - Língua Portuguesa/Ingleasa
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Leia o trecho a seguir.
“Não há docência sem discência.”
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 25.
Compreender a natureza das relações que tem curso em um
processo formativo é essencial para a docência. Paulo
Freire é um autor que discute com muita propriedade a
questão, como bem resume a citação destacada. Com base
nas reflexões de Paulo Freire, “não há docência sem
discência” porque
Certa vez, numa escola da rede municipal de São Paulo que realizava uma reunião de quatro dias com professores e professoras de dez escolas da área para planejar em comum suas atividades pedagógicas, visitei uma sala em que se expunham fotografias das redondezas da escola. Fotografias de ruas enlameadas, de ruas bem postas também. Fotografias de recantos feios que sugeriam tristeza e dificuldades. Fotografias de corpos andando com dificuldade, lentamente, alquebrados, de caras desfeitas, de olhar vago. Um pouco atrás de mim dois professores faziam comentários em torno do que lhes tocava mais de perto. De repente, um deles afirmou: “Há dez anos ensino nesta escola. Jamais conheci nada de sua redondeza além das ruas que lhe dão acesso. Agora, ao ver esta exposição de fotografias que nos revelam um pouco de seu contexto, me convenço de quão precária deve ter sido a minha tarefa formadora durante todos estes anos. Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos?”
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 154.
O trecho foi retirado do livro Pedagogia da autonomia, de autoria de Paulo Freire. O referido trecho assinala um aspecto marcante da concepção freiriana de educação ao passo que destaca uma situação cotidiana no exercício da docência. Com base nessa concepção de educação e no que traz o trecho em destaque, a atuação dos educadores exige um
[...] não podemos dizer que no Brasil a juventude brasileira oriunda da classe trabalhadora pode adiar para depois da educação básica ou do ensino superior o ingresso na atividade econômica. Enquanto o Brasil for um país com as marcas de uma história escrita com a exploração dos trabalhadores, no qual estes não têm a certeza do seu dia seguinte, o sistema sócio-político não pode afirmar que o ensino médio primeiro deve “formar para a vida”, enquanto a profissionalização fica para depois. A classe trabalhadora brasileira e seus filhos não podem esperar por essas condições porque a preocupação com a inserção na vida produtiva é algo que acontece assim que os jovens tomam consciência dos limites que sua relação de classe impõe aos seus projetos de vida.
RAMOS, Marise N. Concepção do ensino médio integrado. Curitiba: SEED, 2008, p. 12.
O excerto pertence a um texto no qual a pesquisadora Marise Ramos discute o ensino médio integrado e a situação da juventude brasileira. Ela pondera sobre a factibilidade da premissa de que o ensino médio deve “formar para a vida” visto que, conforme a autora,
No Ensino Médio de um Instituto Federal, uma professora de química, uma professora de história e uma professora de filosofia realizaram, ao longo de um semestre letivo, um projeto conjunto no qual abordaram a Primeira Guerra Mundial sob diversas perspectivas exploradas com base em seu campo disciplinar. Para dar maior organicidade ao projeto as professoras elegeram como fio condutor o tema: o lugar das mulheres na Primeira Guerra Mundial. A professora de história recuperou os fatores que concorreram para a eclosão da Guerra e seus aspectos contextuais, bem como sublinhou o desenvolvimento técnico de máquinas e armas que deram a esse conflito contornos muito especiais nos quais a ação de domínio do ser humano sobre a natureza voltou-se contra ele mesmo. A professora de química localizou entre os atores presentes naquele conflito uma mulher, a cientista Marie Curie. Ela destacou a iniciativa desta importante cientista, então já premiada com o Nobel em Química, em levar seus aparelhos de raios-x para o campo de batalha, um dispositivo novo na época e essencial para tratar adequadamente os feridos. A professora buscou mostrar a trajetória de vida e trabalho de Marie Curie, as valiosas aquisições de suas pesquisas e seus compromissos com a sociedade que deseja fazer parte. A professora de filosofia, tomando como exemplo Marie Curie e outras mulheres que se envolveram ativamente na guerra, buscou com os alunos e alunas construir uma compreensão sobre o sentido da ação humana transformadora do mundo, destacando como as obras dos homens e mulheres podem ter diferentes usos a depender das relações sociais e estruturas de poder que as governam. Em seu conjunto, toda essa elaboração contou com estudos de textos, buscas na internet, produção de maquete, elaboração de sínteses e culminou em um seminário conjunto com as três professoras. Estas retomaram as linhas gerais do que desenvolveram com os alunos e alunas e buscaram, ainda uma vez, por detrás dos fatos históricos e do desenvolvimento da ciência, assinalar a ação humana intencional em seu desenvolvimento, seus condicionamentos, potencialidades e contradições.
O texto acima descreve uma iniciativa pedagógica que congregou três professoras no âmbito do Ensino Médio de um Instituto Federal. Com base no que foi descrito, e considerando as diversas concepções de educação e princípios de organização do ensino, a perspectiva que orienta as professoras é o