Questões de Concurso Para prefeitura de miracema - rj

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Q2369205 Pedagogia
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da educação básica é um documento fundamental no contexto da educação brasileira, pois estabelece as competências e habilidades que os alunos devem desenvolver ao longo de sua trajetória escolar. A BNCC busca garantir uma educação de qualidade e equitativa, alinhando os objetivos educacionais em todo o país, independentemente da região ou da instituição de ensino. As competências e habilidades propostas por este documento estão organizadas de forma a contemplar diferentes áreas do conhecimento, abrangendo a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Entre as competências mais destacadas pela BNCC, podemos mencionar, EXCETO:
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Q2369204 Pedagogia
O projeto Piagetiano de elaboração de uma epistemologia baseada nas ciências positivas foi viabilizado em 1955 com a inauguração do Centro Internacional de Epistemologia Genética, fundado pelo próprio Piaget, com subsídios da fundação Rockefeller. Nessa mesma época, Piaget desenvolveu pesquisas sobre a lógica do pensamento infantil, no laboratório de Genebra, onde foi professor de história do pensamento científico e diretor assistente. Mais tarde, atuou como codiretor do instituto Jean-Jacques Rousseau e diretor do Departamento Internacional da Educação da mesma instituição. É sabido que sua obra não se esgota nestes feitos. Piaget é dono de uma obra considerável e nos deixou uma produção considerável, tanto em quantidade quanto em qualidade. A obra Piagetiana, comprometida fundamentalmente com a explicitação do desenvolvimento do pensamento nos ensina, dentre outros fatores, que:
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Q2369203 Pedagogia
As teorias de aprendizagem são estruturas conceituais que descrevem como o processo de aquisição de conhecimento ocorre, oferecendo insights sobre como os alunos assimilam informações, desenvolvem habilidades e constroem compreensão. Dessa forma, compreendê-las é fundamental para adaptar estratégias de ensino de acordo com as necessidades dos alunos e objetivos educacionais. Assim, em uma escola que valoriza abordagens pedagógicas diversificadas e busca promover uma educação mais eficaz é fundamental que os professores estudem as teorias de aprendizagem mais influentes e reflitam sobre como aplicá-las em sala de aula. Analise as afirmativas a seguir relacionadas às teorias de aprendizagem.

I. Argumenta que os alunos constroem ativamente o conhecimento por meio de sua interação com o ambiente. Ele enfatiza a construção de significados pessoais, o pensamento crítico e a resolução de problemas.

II. No cerne dessa abordagem, encontra-se a valorização do conteúdo, não apenas como matéria a ser assimilada, mas como peça fundamental que deve fazer sentido e ser relevante no contexto da experiência do aprendiz.

III. A mediação desempenha um papel central, à medida que o docente atua como um facilitador que fornece suporte e orientação adequados, conduzindo os alunos na direção do conhecimento e das habilidades mais avançadas.

IV. Esta teoria oferece uma perspectiva que considera a influência direta do ambiente na aprendizagem, enfatizando a importância do condicionamento e da gestão de estímulos para moldar o comportamento dos aprendizes.

As definições apresentadas anteriormente dizem respeito, respectivamente, as teorias: 
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Q2369202 Pedagogia
Pesquisas recentes em neurobiologia sugerem a presença de áreas no cérebro humano que correspondem, pelo menos de maneira aproximada, a determinados espaços de cognição. No entanto, a Teoria das Inteligências Múltiplas, proposta por Howard Gardner na década de 1980, já desafiava a concepção tradicional de inteligência como uma capacidade única e geral. Em vez disso, essa teoria sugere que existem várias formas de inteligência, diferentes maneiras de ser inteligente. Gardner identificou inicialmente sete tipos de inteligência e, posteriormente, adicionou um oitavo tipo. Cada uma dessas inteligências representa uma capacidade ou habilidade cognitiva distinta. Os tipos de inteligência catalogados possuem características que as particularizam uma em relação as outras e possuem características distintas como, por exemplo: “capacidade de representar ambientes em três dimensões; habilidades com expressões corporais; sensibilidade às emoções e motivações dos outros; habilidades relacionadas à capacidade de raciocinar de forma abstrata; e, habilidade de autorreflexão.” As características apresentadas, respectivamente, correspondem às inteligências classificadas por Gardner como: 
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Q2369201 Pedagogia
Em uma escola que adota uma abordagem pedagógica baseada em projetos de trabalho, os professores estão constantemente buscando maneiras de envolver os alunos em atividades práticas e interdisciplinares. Recentemente, a escola decidiu iniciar um projeto que abordaria a questão da sustentabilidade ambiental. O objetivo é sensibilizar os alunos para os desafios ambientais globais e capacitá-los a desenvolver soluções criativas para questões locais relacionadas ao meio ambiente. No início do projeto, os alunos foram divididos em grupos e receberam a tarefa de identificar um problema ambiental em sua comunidade. Cada grupo foi responsável por realizar pesquisas, coletar dados, propor soluções e criar uma apresentação para a comunidade escolar. À medida que o projeto avançava, os alunos se envolveram em atividades práticas, como criação de hortas sustentáveis, organização de campanhas de reciclagem e conscientização sobre a conservação da água. Eles também colaboraram com especialistas locais e participaram de visitas a locais de interesse ambiental. A abordagem baseada em projetos permitiu que os alunos aplicassem conceitos de várias disciplinas, como ciências, geografia, matemática e até mesmo as artes, à medida que criavam cartazes e apresentações envolventes. Agora, com o projeto chegando ao fim, os professores desejam avaliar o seu impacto sobre o aprendizado e a conscientização dos alunos. Em relação ao exposto, analise as afirmativas a seguir. 


I. Avaliação das apresentações dos grupos: os professores podem avaliar as apresentações finais dos grupos de alunos, levando em consideração critérios como clareza, profundidade de pesquisa, criatividade na apresentação de soluções e capacidade de comunicar eficazmente os resultados do projeto.

II. Avaliação das pesquisas e coleta de dados: os alunos podem ser avaliados com base na qualidade de suas pesquisas, na coleta de dados e na análise crítica das informações relevantes para o projeto.

III. Avaliação das habilidades interdisciplinares: os professores podem avaliar o grau em que os alunos conseguiram aplicar conceitos de várias disciplinas no projeto. Isso pode envolver a revisão de trabalhos escritos, relatórios ou apresentações que demonstrem a conexão entre os conhecimentos adquiridos nas diferentes áreas.

IV. Autoavaliação dos alunos: os alunos podem ser incentivados a realizar uma autoavaliação, refletindo sobre seu próprio aprendizado e desenvolvimento ao longo do projeto.

Está correto o que se afirma em
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Q2369200 Legislação dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro
À luz da Lei Complementar Municipal nº 796/1999, a exoneração de um cargo em comissão se dará:
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Q2369199 Legislação dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro
De acordo com a Lei Complementar Municipal nº 796/1999, a readaptação é a investidura do servidor em cargo compatível com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, verificada em inspeção médica oficial e específica. Sobre a readaptação, é correto afirmar que: 
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Q2369198 Legislação dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro
José Jair, servidor público estável do município de Miracema, após intensa perseguição política, fora demitido do serviço público. Após judicializar sua situação, José Jair reingressou no serviço público por determinação contida em sentença judicial transitada em julgado. Tendo em vista a situação hipotética, José Jair foi: 
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Q2369197 Legislação dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro
Compete ao município de Miracema instituir imposto sobre, EXCETO: 
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Q2369196 Legislação dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro
A Lei Orgânica do Município (LOM) de Miracema é responsável por disciplinar as regras de funcionamento da Administração Pública e dos Poderes Municipais, e possui natureza constitucional. Considerando a organização político-administrativa do Município de Miracema, à luz de sua LOM, é correto afirmar, EXCETO:
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Q2369195 Raciocínio Lógico
Após fiscalizar todos os 100 moradores de um bairro, a fiscal de saúde, Juliana, concluiu que 20% dos moradores possuem mais de 60 anos. Adicionalmente, 37,5% dos moradores com 60 anos ou menos se vacinaram contra a gripe e 25% dos moradores com mais de 60 anos se vacinaram contra a gripe. Quantos moradores possuem 60 anos ou menos e não se vacinaram contra a gripe? 
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Q2369194 Raciocínio Lógico
Uma professora da disciplina de Cálculo I possui duas turmas: A e B. Se ela formar duplas com um aluno de cada turma que possui, restarão 15 alunos da turma B. Por outro lado, se ela formar grupos de 5 alunos, contendo dois alunos da turma A e 3 alunos da turma B, restarão 10 alunos da turma A. Considerando a situação hipotética, quantos alunos há na turma B? 
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Q2369193 Raciocínio Lógico
Em uma repartição pública, Arthur, Breno e Clóvis são os únicos funcionários do setor de Recursos Humanos e ocupam os cargos de agente administrativo, analista de departamento pessoal e coordenador, mas não necessariamente nessa ordem. Sobre esses profissionais, foram feitas as seguintes afirmações:

I. Arthur e o coordenador almoçam juntos.

II. Breno, que não é o analista de departamento pessoal, enviou alguns documentos por e-mail para o agente administrativo.

Se essas afirmações são verdadeiras, é possível concluir, necessariamente, que:
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Q2369192 Raciocínio Lógico
Roberto é analista de sistemas e, para atender a uma demanda do seu chefe, precisou apenas incluir, sequencialmente, as etapas A, B e C no algoritmo que está implementando. Da duração total da realização dessa demanda, 3/7 do tempo foi gasto na inclusão da etapa A no algoritmo e a etapa B foi incluída no algoritmo utilizando 7/8 do tempo restante. Se a etapa C foi incluída no algoritmo em 7 minutos, qual o tempo total gasto na realização desta demanda?
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Q2369191 Raciocínio Lógico
Utilizando o mesmo trajeto, Luciano tem a possibilidade de ir de carro ou de moto para a capital, saindo de sua casa. Ao utilizar o carro, ele consegue desenvolver uma velocidade média que representa 2/3 da velocidade média desenvolvida caso fosse de moto, além de gastar quatro horas a mais. Adicionalmente, quando Luciano vai de moto para a capital, ele desenvolve uma velocidade média de 90 km/h. Dessa forma, qual a distância entre a casa de Luciano e a capital?
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Q2369190 Português
A criada


      Seu nome era Eremita. Tinha dezenove anos. Rosto confiante, algumas espinhas. Onde estava a sua beleza? Havia beleza nesse corpo que não era feio nem bonito, nesse rosto onde uma doçura ansiosa de doçuras maiores era o sinal da vida.

        Beleza, não sei. Possivelmente não havia, se bem que os traços indecisos atraíssem como água atrai. Havia, sim, substância viva, unhas, carnes, dentes, mistura de resistências e fraquezas, constituindo vaga presença que se concretizava, porém imediatamente numa cabeça interrogativa e já prestimosa, mal se pronunciava um nome: Eremita. Os olhos castanhos eram intraduzíveis, sem correspondência com o conjunto do rosto. Tão independentes como se fossem plantados na carne de um braço, e de lá nos olhassem – abertos, úmidos. Ela toda era de uma doçura próxima a lágrimas.

      Às vezes respondia com má-criação de criada mesmo. Desde pequena fora assim, explicou. Sem que isso viesse de seu caráter. Pois não havia no seu espírito nenhum endurecimento, nenhuma lei perceptível. “Eu tive medo”, dizia com naturalidade. “Me deu uma fome”, dizia, e era sempre incontestável o que dizia, não se sabe por quê. “Ele me respeita muito”, dizia do noivo e, apesar da expressão emprestada e convencional, a pessoa que ouvia entrava num mundo delicado de bichos e aves, onde todos se respeitam. “Eu tenho vergonha”, dizia, e sorria enredada nas próprias sombras. Se a fome era de pão – que ela comia depressa como se pudessem tirá-lo – o medo era de trovoadas, a vergonha era de falar. Ela era gentil, honesta. “Deus me livre, não é?”, dizia ausente.

       Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.

        Pois ela estava entregue a alguma coisa, a misteriosa infante. Ninguém ousaria tocá-la nesse momento. Esperava-se um pouco grave, de coração apertado, velando-a. Nada se poderia fazer por ela senão desejar que o perigo passasse. Até que num movimento sem pressa, quase um suspiro, ela acordava como um cabrito recém-nascido se ergue sobre as pernas. Voltara de seu repouso na tristeza.

            Voltava, não se pode dizer mais rica, porém mais garantida depois de ter bebido em não se sabe que fonte. O que se sabe é que a fonte devia ser antiga e pura. Sim, havia profundeza nela. Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão. É possível que, se alguém prosseguisse mais, encontrasse, depois de andar léguas nas trevas, um indício de caminho, guiado talvez por um bater de asas, por algum rastro de bicho. E – de repente – a floresta.

         Ah, então devia ser esse o seu mistério: ela descobrira um atalho para a floresta. Decerto nas suas ausências era para lá que ia. Regressando com os olhos cheios de brandura e ignorância, olhos completos. Ignorância tão vasta que nela caberia e se perderia toda a sabedoria do mundo.

         Assim era Eremita. Que se subisse à tona com tudo o que encontrara na floresta seria queimada em fogueira. Mas o que vira – em que raízes mordera, com que espinhos sangrara, em que águas banhara os pés, que escuridão de ouro fora a luz que a envolvera – tudo isso ela não contava porque ignorava: fora percebido num só olhar, rápido demais para não ser senão um mistério.

        Assim, quando emergia, era uma criada. A quem chamavam constantemente da escuridão de seu atalho para funções menores, para lavar roupa, enxugar o chão, servir a uns e outros.

          Mas serviria mesmo? Pois se alguém prestasse atenção veria que ela lavava roupa – ao sol; que enxugava o chão – molhado pela chuva; que estendia lençóis – ao vento. Ela se arranjava para servir muito mais remotamente, e a outros deuses. Sempre com a inteireza de espírito que trouxera da floresta. Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.

          A única marca do perigo por que passara era o seu modo fugitivo de comer pão. No resto era serena. Mesmo quando tirava o dinheiro que a patroa esquecera sobre a mesa, mesmo quando levava para o noivo em embrulho discreto alguns gêneros da despensa. A roubar de leve ela também aprendera nas suas florestas.


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, pág. 117-119.)
É possível inferir que a ideia principal dos últimos parágrafos do texto é:
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Q2369189 Português
A criada


      Seu nome era Eremita. Tinha dezenove anos. Rosto confiante, algumas espinhas. Onde estava a sua beleza? Havia beleza nesse corpo que não era feio nem bonito, nesse rosto onde uma doçura ansiosa de doçuras maiores era o sinal da vida.

        Beleza, não sei. Possivelmente não havia, se bem que os traços indecisos atraíssem como água atrai. Havia, sim, substância viva, unhas, carnes, dentes, mistura de resistências e fraquezas, constituindo vaga presença que se concretizava, porém imediatamente numa cabeça interrogativa e já prestimosa, mal se pronunciava um nome: Eremita. Os olhos castanhos eram intraduzíveis, sem correspondência com o conjunto do rosto. Tão independentes como se fossem plantados na carne de um braço, e de lá nos olhassem – abertos, úmidos. Ela toda era de uma doçura próxima a lágrimas.

      Às vezes respondia com má-criação de criada mesmo. Desde pequena fora assim, explicou. Sem que isso viesse de seu caráter. Pois não havia no seu espírito nenhum endurecimento, nenhuma lei perceptível. “Eu tive medo”, dizia com naturalidade. “Me deu uma fome”, dizia, e era sempre incontestável o que dizia, não se sabe por quê. “Ele me respeita muito”, dizia do noivo e, apesar da expressão emprestada e convencional, a pessoa que ouvia entrava num mundo delicado de bichos e aves, onde todos se respeitam. “Eu tenho vergonha”, dizia, e sorria enredada nas próprias sombras. Se a fome era de pão – que ela comia depressa como se pudessem tirá-lo – o medo era de trovoadas, a vergonha era de falar. Ela era gentil, honesta. “Deus me livre, não é?”, dizia ausente.

       Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.

        Pois ela estava entregue a alguma coisa, a misteriosa infante. Ninguém ousaria tocá-la nesse momento. Esperava-se um pouco grave, de coração apertado, velando-a. Nada se poderia fazer por ela senão desejar que o perigo passasse. Até que num movimento sem pressa, quase um suspiro, ela acordava como um cabrito recém-nascido se ergue sobre as pernas. Voltara de seu repouso na tristeza.

            Voltava, não se pode dizer mais rica, porém mais garantida depois de ter bebido em não se sabe que fonte. O que se sabe é que a fonte devia ser antiga e pura. Sim, havia profundeza nela. Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão. É possível que, se alguém prosseguisse mais, encontrasse, depois de andar léguas nas trevas, um indício de caminho, guiado talvez por um bater de asas, por algum rastro de bicho. E – de repente – a floresta.

         Ah, então devia ser esse o seu mistério: ela descobrira um atalho para a floresta. Decerto nas suas ausências era para lá que ia. Regressando com os olhos cheios de brandura e ignorância, olhos completos. Ignorância tão vasta que nela caberia e se perderia toda a sabedoria do mundo.

         Assim era Eremita. Que se subisse à tona com tudo o que encontrara na floresta seria queimada em fogueira. Mas o que vira – em que raízes mordera, com que espinhos sangrara, em que águas banhara os pés, que escuridão de ouro fora a luz que a envolvera – tudo isso ela não contava porque ignorava: fora percebido num só olhar, rápido demais para não ser senão um mistério.

        Assim, quando emergia, era uma criada. A quem chamavam constantemente da escuridão de seu atalho para funções menores, para lavar roupa, enxugar o chão, servir a uns e outros.

          Mas serviria mesmo? Pois se alguém prestasse atenção veria que ela lavava roupa – ao sol; que enxugava o chão – molhado pela chuva; que estendia lençóis – ao vento. Ela se arranjava para servir muito mais remotamente, e a outros deuses. Sempre com a inteireza de espírito que trouxera da floresta. Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.

          A única marca do perigo por que passara era o seu modo fugitivo de comer pão. No resto era serena. Mesmo quando tirava o dinheiro que a patroa esquecera sobre a mesa, mesmo quando levava para o noivo em embrulho discreto alguns gêneros da despensa. A roubar de leve ela também aprendera nas suas florestas.


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, pág. 117-119.)
Considere o excerto a seguir: “Às vezes respondia com má-criação de criada mesmo.” (3º§) A expressão adverbial “às vezes” pode ser substituída, sem alteração de sentido, por, EXCETO: 
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Q2369188 Português
A criada


      Seu nome era Eremita. Tinha dezenove anos. Rosto confiante, algumas espinhas. Onde estava a sua beleza? Havia beleza nesse corpo que não era feio nem bonito, nesse rosto onde uma doçura ansiosa de doçuras maiores era o sinal da vida.

        Beleza, não sei. Possivelmente não havia, se bem que os traços indecisos atraíssem como água atrai. Havia, sim, substância viva, unhas, carnes, dentes, mistura de resistências e fraquezas, constituindo vaga presença que se concretizava, porém imediatamente numa cabeça interrogativa e já prestimosa, mal se pronunciava um nome: Eremita. Os olhos castanhos eram intraduzíveis, sem correspondência com o conjunto do rosto. Tão independentes como se fossem plantados na carne de um braço, e de lá nos olhassem – abertos, úmidos. Ela toda era de uma doçura próxima a lágrimas.

      Às vezes respondia com má-criação de criada mesmo. Desde pequena fora assim, explicou. Sem que isso viesse de seu caráter. Pois não havia no seu espírito nenhum endurecimento, nenhuma lei perceptível. “Eu tive medo”, dizia com naturalidade. “Me deu uma fome”, dizia, e era sempre incontestável o que dizia, não se sabe por quê. “Ele me respeita muito”, dizia do noivo e, apesar da expressão emprestada e convencional, a pessoa que ouvia entrava num mundo delicado de bichos e aves, onde todos se respeitam. “Eu tenho vergonha”, dizia, e sorria enredada nas próprias sombras. Se a fome era de pão – que ela comia depressa como se pudessem tirá-lo – o medo era de trovoadas, a vergonha era de falar. Ela era gentil, honesta. “Deus me livre, não é?”, dizia ausente.

       Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.

        Pois ela estava entregue a alguma coisa, a misteriosa infante. Ninguém ousaria tocá-la nesse momento. Esperava-se um pouco grave, de coração apertado, velando-a. Nada se poderia fazer por ela senão desejar que o perigo passasse. Até que num movimento sem pressa, quase um suspiro, ela acordava como um cabrito recém-nascido se ergue sobre as pernas. Voltara de seu repouso na tristeza.

            Voltava, não se pode dizer mais rica, porém mais garantida depois de ter bebido em não se sabe que fonte. O que se sabe é que a fonte devia ser antiga e pura. Sim, havia profundeza nela. Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão. É possível que, se alguém prosseguisse mais, encontrasse, depois de andar léguas nas trevas, um indício de caminho, guiado talvez por um bater de asas, por algum rastro de bicho. E – de repente – a floresta.

         Ah, então devia ser esse o seu mistério: ela descobrira um atalho para a floresta. Decerto nas suas ausências era para lá que ia. Regressando com os olhos cheios de brandura e ignorância, olhos completos. Ignorância tão vasta que nela caberia e se perderia toda a sabedoria do mundo.

         Assim era Eremita. Que se subisse à tona com tudo o que encontrara na floresta seria queimada em fogueira. Mas o que vira – em que raízes mordera, com que espinhos sangrara, em que águas banhara os pés, que escuridão de ouro fora a luz que a envolvera – tudo isso ela não contava porque ignorava: fora percebido num só olhar, rápido demais para não ser senão um mistério.

        Assim, quando emergia, era uma criada. A quem chamavam constantemente da escuridão de seu atalho para funções menores, para lavar roupa, enxugar o chão, servir a uns e outros.

          Mas serviria mesmo? Pois se alguém prestasse atenção veria que ela lavava roupa – ao sol; que enxugava o chão – molhado pela chuva; que estendia lençóis – ao vento. Ela se arranjava para servir muito mais remotamente, e a outros deuses. Sempre com a inteireza de espírito que trouxera da floresta. Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.

          A única marca do perigo por que passara era o seu modo fugitivo de comer pão. No resto era serena. Mesmo quando tirava o dinheiro que a patroa esquecera sobre a mesa, mesmo quando levava para o noivo em embrulho discreto alguns gêneros da despensa. A roubar de leve ela também aprendera nas suas florestas.


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, pág. 117-119.)
A frequente aplicação de travessão no texto ocorreu porque, provavelmente, a autora propôs:
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Q2369187 Português
A criada


      Seu nome era Eremita. Tinha dezenove anos. Rosto confiante, algumas espinhas. Onde estava a sua beleza? Havia beleza nesse corpo que não era feio nem bonito, nesse rosto onde uma doçura ansiosa de doçuras maiores era o sinal da vida.

        Beleza, não sei. Possivelmente não havia, se bem que os traços indecisos atraíssem como água atrai. Havia, sim, substância viva, unhas, carnes, dentes, mistura de resistências e fraquezas, constituindo vaga presença que se concretizava, porém imediatamente numa cabeça interrogativa e já prestimosa, mal se pronunciava um nome: Eremita. Os olhos castanhos eram intraduzíveis, sem correspondência com o conjunto do rosto. Tão independentes como se fossem plantados na carne de um braço, e de lá nos olhassem – abertos, úmidos. Ela toda era de uma doçura próxima a lágrimas.

      Às vezes respondia com má-criação de criada mesmo. Desde pequena fora assim, explicou. Sem que isso viesse de seu caráter. Pois não havia no seu espírito nenhum endurecimento, nenhuma lei perceptível. “Eu tive medo”, dizia com naturalidade. “Me deu uma fome”, dizia, e era sempre incontestável o que dizia, não se sabe por quê. “Ele me respeita muito”, dizia do noivo e, apesar da expressão emprestada e convencional, a pessoa que ouvia entrava num mundo delicado de bichos e aves, onde todos se respeitam. “Eu tenho vergonha”, dizia, e sorria enredada nas próprias sombras. Se a fome era de pão – que ela comia depressa como se pudessem tirá-lo – o medo era de trovoadas, a vergonha era de falar. Ela era gentil, honesta. “Deus me livre, não é?”, dizia ausente.

       Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.

        Pois ela estava entregue a alguma coisa, a misteriosa infante. Ninguém ousaria tocá-la nesse momento. Esperava-se um pouco grave, de coração apertado, velando-a. Nada se poderia fazer por ela senão desejar que o perigo passasse. Até que num movimento sem pressa, quase um suspiro, ela acordava como um cabrito recém-nascido se ergue sobre as pernas. Voltara de seu repouso na tristeza.

            Voltava, não se pode dizer mais rica, porém mais garantida depois de ter bebido em não se sabe que fonte. O que se sabe é que a fonte devia ser antiga e pura. Sim, havia profundeza nela. Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão. É possível que, se alguém prosseguisse mais, encontrasse, depois de andar léguas nas trevas, um indício de caminho, guiado talvez por um bater de asas, por algum rastro de bicho. E – de repente – a floresta.

         Ah, então devia ser esse o seu mistério: ela descobrira um atalho para a floresta. Decerto nas suas ausências era para lá que ia. Regressando com os olhos cheios de brandura e ignorância, olhos completos. Ignorância tão vasta que nela caberia e se perderia toda a sabedoria do mundo.

         Assim era Eremita. Que se subisse à tona com tudo o que encontrara na floresta seria queimada em fogueira. Mas o que vira – em que raízes mordera, com que espinhos sangrara, em que águas banhara os pés, que escuridão de ouro fora a luz que a envolvera – tudo isso ela não contava porque ignorava: fora percebido num só olhar, rápido demais para não ser senão um mistério.

        Assim, quando emergia, era uma criada. A quem chamavam constantemente da escuridão de seu atalho para funções menores, para lavar roupa, enxugar o chão, servir a uns e outros.

          Mas serviria mesmo? Pois se alguém prestasse atenção veria que ela lavava roupa – ao sol; que enxugava o chão – molhado pela chuva; que estendia lençóis – ao vento. Ela se arranjava para servir muito mais remotamente, e a outros deuses. Sempre com a inteireza de espírito que trouxera da floresta. Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.

          A única marca do perigo por que passara era o seu modo fugitivo de comer pão. No resto era serena. Mesmo quando tirava o dinheiro que a patroa esquecera sobre a mesa, mesmo quando levava para o noivo em embrulho discreto alguns gêneros da despensa. A roubar de leve ela também aprendera nas suas florestas.


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, pág. 117-119.)
Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão.” (6º§) Tendo em vista o papel de elemento de coesão exercido pelas conjunções, possui o mesmo valor semântico de “mas” expresso no período destacado, a conjunção destacada a seguir:
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Q2369186 Português
A criada


      Seu nome era Eremita. Tinha dezenove anos. Rosto confiante, algumas espinhas. Onde estava a sua beleza? Havia beleza nesse corpo que não era feio nem bonito, nesse rosto onde uma doçura ansiosa de doçuras maiores era o sinal da vida.

        Beleza, não sei. Possivelmente não havia, se bem que os traços indecisos atraíssem como água atrai. Havia, sim, substância viva, unhas, carnes, dentes, mistura de resistências e fraquezas, constituindo vaga presença que se concretizava, porém imediatamente numa cabeça interrogativa e já prestimosa, mal se pronunciava um nome: Eremita. Os olhos castanhos eram intraduzíveis, sem correspondência com o conjunto do rosto. Tão independentes como se fossem plantados na carne de um braço, e de lá nos olhassem – abertos, úmidos. Ela toda era de uma doçura próxima a lágrimas.

      Às vezes respondia com má-criação de criada mesmo. Desde pequena fora assim, explicou. Sem que isso viesse de seu caráter. Pois não havia no seu espírito nenhum endurecimento, nenhuma lei perceptível. “Eu tive medo”, dizia com naturalidade. “Me deu uma fome”, dizia, e era sempre incontestável o que dizia, não se sabe por quê. “Ele me respeita muito”, dizia do noivo e, apesar da expressão emprestada e convencional, a pessoa que ouvia entrava num mundo delicado de bichos e aves, onde todos se respeitam. “Eu tenho vergonha”, dizia, e sorria enredada nas próprias sombras. Se a fome era de pão – que ela comia depressa como se pudessem tirá-lo – o medo era de trovoadas, a vergonha era de falar. Ela era gentil, honesta. “Deus me livre, não é?”, dizia ausente.

       Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.

        Pois ela estava entregue a alguma coisa, a misteriosa infante. Ninguém ousaria tocá-la nesse momento. Esperava-se um pouco grave, de coração apertado, velando-a. Nada se poderia fazer por ela senão desejar que o perigo passasse. Até que num movimento sem pressa, quase um suspiro, ela acordava como um cabrito recém-nascido se ergue sobre as pernas. Voltara de seu repouso na tristeza.

            Voltava, não se pode dizer mais rica, porém mais garantida depois de ter bebido em não se sabe que fonte. O que se sabe é que a fonte devia ser antiga e pura. Sim, havia profundeza nela. Mas ninguém encontraria nada se descesse nas suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão. É possível que, se alguém prosseguisse mais, encontrasse, depois de andar léguas nas trevas, um indício de caminho, guiado talvez por um bater de asas, por algum rastro de bicho. E – de repente – a floresta.

         Ah, então devia ser esse o seu mistério: ela descobrira um atalho para a floresta. Decerto nas suas ausências era para lá que ia. Regressando com os olhos cheios de brandura e ignorância, olhos completos. Ignorância tão vasta que nela caberia e se perderia toda a sabedoria do mundo.

         Assim era Eremita. Que se subisse à tona com tudo o que encontrara na floresta seria queimada em fogueira. Mas o que vira – em que raízes mordera, com que espinhos sangrara, em que águas banhara os pés, que escuridão de ouro fora a luz que a envolvera – tudo isso ela não contava porque ignorava: fora percebido num só olhar, rápido demais para não ser senão um mistério.

        Assim, quando emergia, era uma criada. A quem chamavam constantemente da escuridão de seu atalho para funções menores, para lavar roupa, enxugar o chão, servir a uns e outros.

          Mas serviria mesmo? Pois se alguém prestasse atenção veria que ela lavava roupa – ao sol; que enxugava o chão – molhado pela chuva; que estendia lençóis – ao vento. Ela se arranjava para servir muito mais remotamente, e a outros deuses. Sempre com a inteireza de espírito que trouxera da floresta. Sem um pensamento: apenas corpo se movimentando calmo, rosto pleno de uma suave esperança que ninguém dá e ninguém tira.

          A única marca do perigo por que passara era o seu modo fugitivo de comer pão. No resto era serena. Mesmo quando tirava o dinheiro que a patroa esquecera sobre a mesa, mesmo quando levava para o noivo em embrulho discreto alguns gêneros da despensa. A roubar de leve ela também aprendera nas suas florestas.


(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, pág. 117-119.)
Podemos afirmar que as formas verbais evidenciadas nos trechos transcritos estão flexionadas no mesmo tempo, EXCETO em:
Alternativas
Respostas
381: D
382: D
383: C
384: D
385: A
386: A
387: C
388: C
389: B
390: A
391: C
392: C
393: D
394: D
395: D
396: A
397: C
398: A
399: C
400: A