Leia o texto para responder à questão.
Aspas têm sido úteis no decorrer da minha vida e, imagino, na de inúmeras pessoas também. Na escola, ao usá-las
pela primeira vez numa redação, provoquei até emoção na
professora. Ganhei elogios. Coisa de que nunca se esquece.
Utilizar aspas em uma palavra ou expressão não significa
perdão ou redenção. É falso, também, dizer que amenizam o
próprio conteúdo ou o impacto dessas expressões. Ao contrário, todo pensamento escrito, sinalizado ou falado “entre
aspas” vale mais ainda, e por duas razões.
Primeiro: usar aspas é uma escolha consciente. Não decidimos abrir aspas pela ameaça de um revólver na cabeça, por
chantagem emocional ou financeira. Palavras e expressões
entre aspas são selecionadas com autonomia e independência e, assim, refletem e registram opiniões e intenções.
Segundo, ao usar aspas, a pessoa faz uma denúncia de
si mesma. Algo do inconsciente humano vive precisamente
entre o abre aspas e o fecha aspas. Ao utilizá-las, revelamos
um pouquinho do que habitualmente escondemos ou contamos só pela metade, devagarinho, de modo a ir calibrando a
reação da sociedade, de quem amamos, de qualquer pessoa
ou grupo que nos afete.
Apenas nos últimos dias ecoou dentro de mim um alerta
sobre o uso das aspas, pois me dei conta de que esse sinal
gráfico em forma de pequenas alças – como as aspas são descritas nos dicionários – é de uso arriscado, enganoso e potencialmente danoso. Seu uso, hoje deduzo, não é tão inofensivo.
(Cláudia Werneck. Aspas nunca mais.
www1.folha.uol.com.br, 08.09.2021. Adaptado)