A questão abaixo é baseada no texto abaixo.
Tempo das complexidades
Por Murillo de Aragão
Me poupe dos detalhes sórdidos, vão dizer alguns. Poucos querem saber dos detalhes, que, para
muitos, devem ficar com Roberto Carlos. Mas esquecem que Deus está nos detalhes e que os
detalhes que agrupamos fazem o mosaico do viver.
As respostas prontas fulminam os detalhes, eliminam a topografia das coisas, pasteurizam os
sentimentos. Disse José Alvarenga, um dos mais talentosos diretores de tevê e cinema deste
País, que, em mundo de respostas prontas, falta tempo para as complexidades. As respostas
prontas são a base da banalização.
A banalização ocorre quando usamos um aplicativo para cortar caminho e nos sentirmos seguros
ante a nossa falta de interesse e de conhecimento para o complexo. Queremos chegar logo às
conclusões e não perder tempo com a viagem, o que é um erro. As complexidades fazem parte
da travessia, e devemos dedicar a elas os devidos tempos.
Nas viagens, estão os detalhes que nos enriquecem. Pois é justamente ao observá -los que
surgem muitas das respostas que buscamos. Nas viagens, colocamos os degr aus para subir e
olhar melhor o mundo. Sobretudo, olhar melhor a nós mesmos. Nas viagens, saberemos o que
pode significar muito para nós. Nas viagens, mudamos de ideia e, como disse Churchill, “quem
não muda de ideia, nada faz”.
O mundo é simplesmente complexo, e a vida, mais ainda. Contudo, o processo de entender a
complexidade da vida é absurdamente simples, só que demanda dedicação. É cansativo, e os
ganhos são incrementais. Opera em uma dinâmica que nos confronta com uma vida de poucos
tempos. Como não temos disposição e tempo para as complexidades, buscamos as repostas
prontas em um pensamento rápido e nos relegamos à vida das mediocridades. Responder
sempre com respostas prontas é como viver em um carrossel que gira, gira e não sai do lugar.
A banalização, sim, deve ser descartada, enquanto as complexidades devem ser observadas e
entendidas. Uma conclusão superficial só nos leva a outra conclusão igualmente superficial.
Assim, para existir plenamente, devemos fugir da tirania das respostas prontas. Logo ,
existiremos. Movimento, complexidade, viagem e tempo estão interligados. Não há como
escapar. Devemos dar o devido tempo para as complexidades.
ARAGÃO, Murillo. Tempo das complexidades. IstoÉ. São Paulo, Editora Três, Ano 40, Nº 2516, mar. 2018. [Adaptado]